A AXA Brasil fez o dever de casa nos últimos 5 anos. Agora a bola está com Paris!
Em meados de 2021 fiz a análise dos balanços e do management de algumas seguradoras brasileiras. Chegou a hora de atualizar os números e as análises!
Vamos iniciar com a AXA.
Esse será o terceiro artigo que escrevo sobre o Grupo AXA aqui no Linkedin. O primeiro foi sobre análise dos balanços de 2014 a 2020 e depois escrevi outro artigo sobre a biografia de Claude Bébear que foi o executivo que transformou a AXA entre os anos 60 e 2000 no que ela é hoje. Abaixo seguem os links desses artigos.
Nos últimos 30 anos, a história da AXA/UAP no Brasil não é muito auspiciosa na maior parte do tempo. Lá nos anos 80, quando as seguradoras multinacionais não queriam ser identificadas como estrangeiras, a francesa UAP adotou o nome União Continental e depois, nos anos 90, adotou o nome UAP.
Nesses 20 anos entre os 80 e os 90 a UAP viu a sua maior concorrente francesa no país, a AGF, comandada pela dupla Monteil/Marraccini, levar a empresa ao top 10 do mercado de seguros brasileiro e virar a maior seguradora independente sem ligações com bancos. Tudo isso foi feito sem receber um tostão da matriz em Paris! Apenas aproveitando e reinvestindo os ganhos com os juros astronômicos da época e, obviamente, com o resultado da operação.
Naquela época de taxas de juros reais recordes e depois com o fim da inflação, seguros como Vida e Automóvel tiveram um crescimento explosivo. Era o apogeu do mercado segurador brasileiro inclusive com a possibilidade de entrar no Seguro Saúde sem as amarras da ANS, que ainda nem existia. Obviamente que a AGF também aproveitou essa oportunidade.
Os franceses da UAP viram a “banda passar” e decidiram não surfar essa onda!
Em 1996, a AXA compra a UAP para se tornar um dos grupos seguradores top 3 no mundo e no início dos anos 2000 fazem uma proposta para comprar uma parte da Bradesco Seguros, mas a coisa não andou pois o “Bradescão” queria manter o comando dessa nova mega operação. Dois gigantes não iriam se entender mesmo!
Para a surpresa de todos, em 2003 a AXA decide sair do Brasil e vende a sua minúscula carteira de Auto para a Porto (daí vem a criação da nova marca “Azul”).
Quando todo mundo esperava que os franceses da AXA não apareceriam mais por aqui, em 2012 eles tomam a decisão de voltar. Trazem um francês como CEO que simplesmente colocou a Despesa Administrativa da seguradora em mais de 30% do Prêmio Ganho pagando salários nababescos para os seus principais executivos! Não deu certo, mais uma vez! Trouxeram então uma francesa para tocar a operação, mas ela foi promovida rapidamente e retornou para a matriz em Paris (pouco tempo depois acabou deixando o grupo).
Eis que os franceses decidem tomar uma decisão acertada, finalmente! Promovem a Erika Médici para CEO. Montam um board composto majoritariamente por mulheres (algo que eu, nos meus quase 40 anos de mercado de seguros, nunca havia visto) e finalmente as coisas começam a acontecer!
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Vejam os números acumulados acima. São cifras impressionantes! A “mulherada” da AXA trouxe o faturamento da seguradora em 2019, que era de um pouco mais de R$ 600MM para incríveis R$ 1700 em 2023, um aumento de 85%! E conseguiu entregar um resultado positivo em quase todos os anos!
O mais incrível é que a AXA não opera nos ramos de Auto e Saúde que juntos representam 50% do mercado de seguros. A seguradora se concentrou em ramos sabidamente rentáveis e conseguiu o tão sonhado crescimento conjugado com resultado!
Porém, esses ramos possuem um potencial limitado de crescimento. Abaixo segue a participação atual da AXA em algum desses ramos de seguros mais periféricos:
Apesar de todo esse hercúleo esforço que merece todo o nosso aplauso, a AXA saiu de uma base muito pequena em 2012 e infelizmente tropeçou no início desse novo retorno e agora se encontra numa verdadeira encruzilhada!
O quadro abaixo mostra o market share da AXA em todos os mercados onde atua no mundo. Vejam que a AXA Brasil está na 16ª posição do ranking de P&C no Brasil. Na América Latina, em países como México e Colômbia, a AXA está entre os top fives e em vários países da Europa a AXA é a número 1.
Enfim, o grupo terá que tomar uma decisão estratégica se realmente acredita que o Brasil é um país chave. As opções são: fazer uma grande aquisição ou comprar um balcão bancário para conseguir chegar na posição que a AXA gosta de estar sempre: entre os três primeiros do ranking!
A maior prova do sucesso da AXA no Brasil é o assédio realizado pela concorrência em cima de alguns funcionários do alto escalão onde alguns acabaram partindo para seguradoras que estão, há anos, tentando realizar um turnaround dessa magnitude e entendem que, contratando essas pessoas, poderão queimar algumas etapas.
Como informação adicional, segue abaixo o ranking do mercado segurador francês de 2022 onde a AXA perdeu a liderança por uma "pequena" diferença para o Crédit Agricole.
Diretor Executivo ForRisk/AutoVist
1 semPra quem viveu esses momentos do mercado como corretor que operou essas seguradoras e como um filme passando a sua frente!! Quanto ao Paulo Marraccini um dos mestres do mercado de seguros, nos deve o livro contando suas meravigliosas histórias!!! Obrigado Marcos!!
Diretor Comercial | Estrategia Digital | Especialista em tecnologias a seguros | Relacionamento com clientes
1 semArtigo Fantástico, meus Parabéns Marcos Ferreira!
Membro do Comitê de Auditoria em Empresas de Seguros e Resseguros
1 semObrigado por mencionar meu nome. Um pouco de exagero do amigo, mas realmente tentamos manter a AGF na liderança das internacionais independentes! Voce fez parte dessa equipe!