Barbie: uma grande lição de humanidade
Quando a minha filha me convenceu (porque literalmente me convence de tudo o que quer) a ir ver o filme Barbie, confesso que fiquei MUITO reticente. Mas também admito que estava um pouco curioso. A realizadora, Greta Gerwig, nunca se envolveria num projeto que não tivesse qualidade, isto tendo em conta a carreira brilhante que até agora tem tido, com projetos sólidos e de muito bom gosto (e tem apenas 40 anos!!)
E fui! Claro!!!
O filme é promovido e comercializado nos expoentes máximos do Kitsch moderno, nos limites absolutos do supérfluo e nos cúmulos do comercial de consumo. Um produto que, na aparência, foi feito à medida da maioria urbano-depressiva, politicamente perfeita, moralmente elevada e mentalmente alheada e irrealista que nos domina e governa.
E assim começa o filme, de facto, fazendo o que acaba por ser uma caricatura hiperbólica e, por isso, macabra e horrenda, do que somos (ou queríamos ser) enquanto cultura, enquanto sociedade, enquanto indivíduos: felizes, saudáveis, impecáveis, bonitos, politicamente corretos, moralmente irrepreensíveis, em suma, perfeitos.
Aplicando à realidade: o perfil do Facebook ou Instagram da maioria das pessoas.
A nossa vivência virtual é, no fundo, uma “Barbie Land” onde só há perfeição, correção e felicidade. Todos são bons, todos são corretos, todos são saudáveis, todos são iguais, não há mal, não há mentira, não há humanidade (e também não há genitais).
Depois o enredo começa, pouco a pouco, a levar-nos a questionar as bases deste circo de aparências, hipocrisia e incoerência em que vivemos.
Quem somos? Porque somos? Qual é, afinal, o nosso objetivo, quais são as nossas metas? Para onde vamos? Porque vamos? Aquilo que pensamos que estamos a fazer connosco, com a sociedade e com o nosso mundo tem, de facto e realisticamente, sentido, tem lógica, está a atingir os seus propósitos? Ou já estamos tão convencidos de nós próprios, tão radicalizados nos nossos ideais, tão prepotentes das nossas vontades que não vemos que estamos a gerar e a provocar precisamente o oposto do que pretendemos? Não estamos a ser tão orgulhosos (e teimosos) que entramos em negação e nos recusamos a admitir que erramos no caminho, erramos na direção, e que o nosso mundo perfeito só existe na fantasia de que nós próprios nos convencemos, na ilusão em que nos refugiámos para não ter que nos assumir enquanto enorme bluff.
Será que a nossa realidade se tornou tão insuportável que, o abastado e decrépito Ocidente, teve a necessidade de criar uma imagem de si mesmo onde cobardemente se refugia entre fantasias de correção, elevação e superioridade enquanto o resto do mundo, o real, o ultrapassa, o aniquila e o vence (vejam as conclusões da reunião dos BRICs).
O filme Barbie está longe, muito longe, de ser um subproduto comercial supérfluo e superficial como a ele próprio se promove (senão também não vendia).
É antes uma gigante (e muito boa) metáfora do que é o mundo atual, do que nos tornamos e, também, um alerta desesperado para que o Ocidente, pense, se pense, e tenha a coragem e a frontalidade, de se questionar, de pôr em perspetiva os seus valores, as suas bases, os seus ideais, enfim, quem somos, o que somos, para onde vamos.
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Agora…. Também podem ver o filme como um puro produto de entretinimento.
A sério: ninguém leva a mal e, para muitos, até é o recomendado pois o verdadeiro sentido do filme pode ser demasiado doloroso.
A qualidade do filme é proporcional à nossa vontade de nos questionarmos.
Sim, é um facto e assumo: recomendo o filme Barbie, especialmente para aqueles que ainda tem cérebro, ainda tem e vivem uma vida real, que ainda tem a noção de que fantasia é uma coisa, realidade é outra, que ainda assumem que falham, que cometem erros, que este mundo não é o ideal mas somente o possível, que tentamos sempre melhorar, umas vezes melhor, outras nem por isso, mas é o que é e assim temos de tentar, pelo menos, ter momentos felizes pois isso de felicidade, como dizia Kundera, pode ser "insustentável leve".
Muitos não conseguirão….
Afinal tantas pessoas tiveram de construir vidas virtuais perfeitas para não ter de assumir que as suas vidas reais não passam de uma acumulação de falhanços, de frustrações e desilusões.
Mas cada um tem o que escolheu, o que optou, cada um é o resultado das suas opções, das suas ações e das suas fantasias.
Se for muito doloroso… é um filme em tons de cor-de-rosa… é só isso…. Não se preocupem: vocês são perfeitos e a besta, como sempre, sou eu (e tenho TANTO orgulho disso!!!!)
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CEO & Founder at PGA Consultoria | Real - Estate Investor | 4 Legacy Heirs | 1 Family |
1 aCaro Rui Alberto Silva, os meus parabéns pelo artigo 🙌🏽 também tenho uma filha jovem e Mentora! Que me leva a ver o desconhecido… a Crescer. A única vírgula que acrescento ao seu artigo é inspirado no caminho espiritual. A vida é mesmo feita de fracasso 🤲 e não tem mal. A doença é o “autismo” de tentar não ver… empurrar para baixo do tapete. Todos temos de “despejar o lixo” regularmente 😅 não basta por perfume para disfarçar 🫶