A Beleza desse Seu Olhar

A Beleza desse Seu Olhar

Não existe segredo, está em todos os manuais, em livros e roteiros sobre Comunicação, sobre Relacionamento, sobre como falar em público. Ele é presença garantida para o sucesso de uma conversa agradável, de uma boa venda, de um cortejo bem-sucedido, do repasse correto de uma mensagem. O encontro dos olhares durante uma prosa é a forma mais eficiente de se conectar com o outro, conquistar a atenção e transformar uma simples troca de mensagens em algo rico e com resultados normalmente muito positivos.

Pena que esse ato tão simples esteja se tornando cada vez menos frequente, a ponto de, em alguns casos, se tornar um diferencial, especialmente no ambiente corporativo e no mercado de trabalho. Quem imaginaria que o simples fato de mirar o outro quando se está falando tenha se transformado em algo notado....a olhos vistos!! Afinal, como atender uma pessoa a contento fixar sua atenção nela? E você enquanto cliente, como se sentir aconchegado pelo que lhe fala aquele profissional da saúde, aquele consultor, aquele técnico, se você não encontra seu olhar a lhe passar convicção ou segurança?

Longe de ser um apologista do passado, um saudosista daqueles que fala sempre “ah, mas no meu tempo...”. Mas tenho sentido estarmos precisando dar uma atenção maior ao bom e velho “olhar no olho”. Pode ser o olhar desinteressado; pode ser o olhar atento de quem quer convencer o outro de algo. O fato é que temos olhado cada vez menos para os nossos interlocutores. E se você não olha para o outro, dificilmente puxará uma conversa ou, se já estiver falando, é provável não passar mais do que alguns segundos até o papo se tornar desinteressante para os dois.

Exemplos recentes me chamaram a atenção para isso, sempre atrelados a fenômenos da modernidade. Ou do que muitos querem nos fazer acreditar que precisa ser a modernidade. No edifício comercial onde trabalho, pessoas entram nos elevadores em um ritmo acelerado ao excesso, ou ainda lentos para começar a funcionar no dia, ou simplesmente ligados a algum dispositivo móvel. E, cabisbaixos, não percebem o ambiente ao redor, os demais coabitantes do espaço de poucos metros quadrados. Consequentemente, um singelo cumprimento como um “bom dia” vira uma realidade distante. Ou, o que é pior, no máximo se transforma em um grunhido quase obrigatório, um verdadeiro “bodejo”, já diria meu saudoso Pai.

Em uma das clínicas onde um de meus filhos faz seus acompanhamentos terapêuticos, dia desses me peguei sendo um solitário “pescoço erguido” ante umas dez pessoas, entre pais de outras crianças atendidas e as próprias recepcionistas, de queixos encostados no peito enquanto se deleitavam com a magia do mundo pelas telas dos seus smartphones. Um constrangedor silêncio de minutos, como se estivéssemos todos em um velório. De um desconhecido.

Fora aquelas raias do absurdo que todos temos um caso a contar (sempre dos outros, claro! Que aconteceu conosco, não provocado por nós...), de almoços ou jantares familiares e de negócios em que um terço das pessoas tenta conversar enquanto os outros dois terços estão muito ocupados com um olho no peixe e outro nas notificações. De tentativas frustradas de conseguir saber mais sobre um produto com um vendedor cujo olhar (e atenção) correm em milissegundos de um lado para o outro, do seu rosto ou do produto para as próprias palmas das mãos.

Não adianta querer retroagir para o tempo em que tudo aparentemente se rastejava durante as mesmas 24 horas do dia. Nem é razoável culpar a tecnologia por prejudicar algo que está longe das responsabilidades dela, como é o caso do comportamento humano. Tudo acaba sendo uma questão de consciência. E de delicadeza.

As pessoas não se falam mais de uma maneira proveitosa porque praticamente não se olham mais. Quando visualizo os olhos do outro, um vínculo se dá. Seja com alguém de minha convivência diária, seja com um desconhecido que aparece na minha frente. E a natural sequência é que esse contato se estreite e se transforme em algum tipo de saudação. Daí para uma troca de ideias é um pequeno passo. E assim as relações passam a se dar de uma maneira mais cordial, mais humana, não necessariamente íntima.

No momento que você deixa de olhar para o outro, você perde uma conexão forte, talvez aquele elo que irá garantir o êxito daquela conversa. Com sua perspectiva de artista, Leonardo da Vinci me ajudou a achar o mote final desse texto.

“Não vês que o olho abraça a beleza do mundo inteiro? [...] E janela do corpo humano, por onde a alma especula e frui a beleza do mundo, aceitando a prisão do corpo que, sem esse poder, seria um tormento. [...] Quem acreditaria que um espaço tão reduzido seria capaz de absorver as imagens do universo?”

Meu convite é simples. Ao encontrar outra pessoa...


Rafaela Britto

Diretora de Atendimento | Especialista em Comunicação Corporativa e Gestão de Crise | Adepta da Felicidade Corporativa

7 a

Que texto bonito e necessário, e essa pitada do Da Vinci foi bem providencial. O olho no olho no mundo dos negócios, também, pode fazer uma diferença enorme.

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