BENDITA AUSÊNCIA
A ausência muitas vezes é necessária para que possamos tomar certa distância de fatos, lugares e pessoas afim de melhor sentirmos e elaborarmos nossas relações.
Afastar-se pode não ser algo fácil, porém, quando necessário promove um bem-estar enorme porque nos ajuda na reconstrução das nossas vidas a partir de um ponto distante e, portanto, passível de desapegos. Se não nos afastarmos das relações tóxicas, do trabalho ruim, das amizades que já não correspondem às nossas necessidades de afeto, as chances para uma mudança verdadeira são bem menores. É nos afastando que podemos salvar nossa pele!
Contudo nem sempre a ausência reflete uma real intenção de autoconhecimento e crescimento pessoal.
Geralmente o que ocorre é uma falsa atuação envolta no subterfúgio da “correria do dia-dia”.
Parece que está todo mundo ocupado querendo parecer ocupado demais. Responder uma mensagem de WhatsApp de uma velha amiga já não precisa ser breve. Mostrar-se disponível a uma escuta amorosa e genuína parece uma grande perda de tempo. Precipitar-se na simples pergunta “você está bem?” nem pensar, afinal, quem – hoje – tem paciência para ouvir o outro? Conversas atropeladas, unilateriais e cada vez mais egoístas e egocênticas é o que vejo e isso cansa (e como!).
De uma forma geral, estamos cada vez mais ensimesmados e ensimesmadas em nossos casulos, morrendo de preguiça em ouvirmos com atenção as histórias das vidas das pessoas (e olha que nem estou falando aqui das pessoas muito distantes de nós; refiro-me às amizades de anos, às pessoas que poderiam (ou pareciam ser as mais caras às nossas vidas).
Penso o quanto nossas carências, medos e traumas refletem nossos comportamentos e ditam a maneira com a qual detonamos as relações mais importantes para nós.
O medo em se mostrar disponível e de estar atenta/atento a um “olá” de uma amiga pode estar colocando em cheque nossa capacidade de relacionarmos de uma maneira mais natural e afetiva.
Recomendados pelo LinkedIn
É o famoso “deixar no vácuo” e depois se desculpar porque estava ocupada demais para responder.
Todas as atitudes têm uma consequência.
Todas as falas também tem, assim como todos os silêncios (pelo menos sem se tratando das pessoas maduras porque para as imaturas sempre haverá a desculpa da “correria do dia-dia”).
Não é a “correria” que tem nos afastado das pessoas que deveríamos respeitar com nossa presença, são nossos medos de amar e de parecermos frívolas e disponíveis demais.
Então deixe pra lá. Não responda. Seja breve e procure suas amigas/amigos só quando estiver precisando ser ouvida. Se feche à escuta atenta sobre a vida do outro. Fale só sobre você e atire em seu dedo do pé cavando a própria cova da sua solidão.
Eu poderia fazer uma análise sobre o quanto nosso tempo, cultura e o neoliberalismo está determinando esse tipo de comportamento grosseiro (o que, de fato, está no âmbito coletivo), mas individualmente temo dizer que existe aí um grande componente da falta de boa educação.
Então, depois não reclame da solidão se você adora se fazer de ausente.