Bilhetes de cinema e descontos no supermercado para pôr famílias a reciclar
As metas de reciclagem são um dos pontos-chave do PERSU (Plano Estratégico para os Resíduos Sólidos Urbanos), um documento âncora do setor que está a ser revisitado e vai ser alvo de análise no 12º Fórum Nacional de Resíduos, que decorre a 18 e 19 de abril, em Lisboa.
Se é importante equacionar os objetivos para lá de 2025, mais urgente ainda é garantir que as metas vão ser cumpridas já em 2020. Mas como impulsionar a recolha seletiva levando mais famílias a usar o ecoponto, modelo que é considerado por muitos como já estando ultrapassado? Para três empresas concessionárias da EGF – a Valorsul, Amarsul e Valorlis – a resposta passa por oferecer bilhetes de cinema, descontos no supermercado e em telecomunicações em troca de mais idas ao ecoponto.
Foi a pensar nisso que as três empresas lançaram a aplicação Recycle BinGo. O objetivo é conseguir que, a jogar, as famílias voltem a comprometer-se com a reciclagem visitando o ecoponto habitual e ganhando, já agora, alguma coisa em troca.
“Sabemos que a distância entre a habitação e o ecoponto é um fator dissuasor dos comportamentos de separação, sobretudo quando esta é superior à distância do contentor do indiferenciado. O primeiro objetivo da aplicação é seguir a tendência de comportamento dos consumidores de quererem tornar as atividades do quotidiano num jogo, através da tecnologia. É expectável que as pessoas com esta inclinação comecem a separar mais materiais e a ir mais vezes ao ecoponto, ao utilizar a aplicação”, explica ao Água&Ambiente na Hora a coordenadora de comunicação e sensibilização da Valorsul, Joana Xavier.
É altamente provável também que quem já tenha o bichinho do jogo fique, por acréscimo, com o bichinho da reciclagem. Embora seja uma iniciativa destinada a toda a família, pretende chegar particularmente às mulheres entre os 20 e os 50 anos. “São elas que habitualmente têm a seu cargo a tarefa da separação. Além disso também são um grupo com particular interesse por jogos deste género, ao contrário do que possa parecer”, sublinha.
A missão principal do jogo é levar as famílias a fazer mais visitas ao ecoponto habitual nos concelhos abrangidos pelas empresas. “Através da geolocalização o nosso smartphone saberá se estamos perto do ecoponto. Ao fazermos check-in desbloqueamos um conjunto de simpáticos bichinhos, os EcoGifts, com os quais vamos preenchendo os nossos cartões BinGo. Cada vez que completamos um cartão ganhamos EcoMoedas – que podemos trocar por prémios”, explica Joana Xavier. A aplicação lança ainda "missões especiais" com o intuito de melhorar os conhecimentos dos portugueses sobre a reciclagem.
O jogo “Recycle BinGo” conta já com mais de 3200 utilizadores e a página de facebook da aplicação tem mais de 1700 seguidores.
CRIATIVIDADE AO SERVIÇO DA RECICLAGEM
É certo que este jogo não permite o controlo daquilo que é ou não depositado nos ecopontos, mas a iniciativa vale pelo esforço de aproximar os utilizadores dos espaços destinados à reciclagem recompensando esse gesto.
“Acreditamos que as pessoas que jogam vão aproveitar para reciclar. Acreditamos que as famílias que estavam menos participativas voltem a dar uma oportunidade à separação das embalagens. No futuro pretendemos adicionar mecanismos de contabilização do que os nossos utilizadores estão a separar em cada ida ao ecoponto, ‘gamificando’ também esse report, mas não queremos que deixe de ser uma experiência agradável”, sublinha.
Todas as recompensas pelo esforço de reciclagem são desmaterializadas. “Para obter o prémio mais baixo, que corresponde a um bilhete nos cinemas NOS, são necessários 2250 pontos, o que se alcança ao fim de algumas semanas a recolher regularmente os EcoGifts e participando nas missões especiais. Os outros prémios disponíveis são vales no supermercado, em lojas de desporto, na FNAC, videoclube da MEO, assinaturas digitais e vales Netflix, entre outros”, revela.
O projeto, orçado em 92 mil euros, foi financiado a 70 por cento pelo Fundo Ambiental. Esta estratégia pode também ser encarada como forma de "sacudir" o modelo que constituiu o ecoponto.
"Há muitas realidades geográficas e demográficas no nosso país. Haverá sempre, com certeza, espaço para diversas formas de recolha seletiva e diversas estratégias para as promover para que, no conjunto, cheguemos ao objetivo final: atingir as metas em 2020 na recolha seletiva trifluxo”, conclui Joana Xavier.
As ambiciosas metas de reciclagem que se perspetivam para os próximos anos estarão no centro do debate no 12º Fórum Nacional de Resíduos, onde o futuro do setor estará em análise.
Durante o 12º Fórum Nacional de Resíduos a EGF vai apresentar uma outra ação de educação ambiental: "A Nossa Casa é um Planeta".
Ana Santiago in Ambiente Online