Black Friday é um câncer no Varejo Brasileiro
Nos Estados Unidos e no Canadá, o Dia de Ação de Graças é comemorado na quarta 5a.feira do mês de Novembro. É um feriado nacional. É um dia que as pessoas usam seu tempo livre para estar com a família, fazendo grandes reuniões e jantares familiares degustando um tradicional perú. É também um dia em que muitas pessoas dedicam seu tempo para pensamentos religiosos, orações e missas. Ocorrem grandes desfiles e eventos como a realização de jogos de futebol americano. Sua origem data de 1620 e simbolizava uma data de agradecimento pelas boas colheitas realizadas no ano.
O evento da Black Friday ocorre no dia seguinte ao Dia de Ação de Graças e marca o início das compras natalinas.
O Brasil “importou” este evento para nosso calendário promocional em 2010 como forma de alavancar as vendas online e contou com 50 lojas participantes na sua primeira edição. Como um câncer agressivo, o evento cresceu ano a ano e hoje é amplamente reconhecido pelos consumidores como um bom momento de “achar pechinchas”.
O fato é que, diferentemente dos Estados Unidos, o varejo brasileiro sempre teve nos meses de Novembro e Dezembro seu ponto alto de vendas do ano.
O que o Black Friday fez foi acabar com o movimento de Novembro - tradicional bom mês de vendas do varejo dado o adiantamento do 13o salário. Os consumidores aguardam a tão divulgada data a para sacar suas carteiras apenas no final do mês. O aumento de vendas do Black Friday nem de perto faz com o que o mês de Novembro fique saudável, pois a venda do dia 1 do mês até a data do Black Friday são ridiculamente baixas. Elas não compensam a perda de vendas do inicio do mês.
Adicionalmente, o Black Friday impacta negativamente as vendas de Natal, pois faz com que de um lado os varejistas vendam com margem mais apertada no Black Friday de forma a atenderem consumidores ávidos por descontos, e de outro lado, faz com os consumidores assumam dividas e diminuam o apetite por novas compras no Natal.
Em resumo, não deveríamos apenas importar “modas” de outros países e sim “tropicalizar” as idéias. Esta observação serve para Black Friday como para uma serie de outras inovações. Não acho que devemos inventar “jaboticabas”, mas sermos um pouco mais prudentes. O varejo emprega milhões de pessoas seja online, offline ou omnichannel. Ter empresas saudáveis e rentáveis é ótimo para todos.
Que tal termos uma Black Friday no mês de Abril em 2020?
Sucesso a todos!