Bolsonaro vem aí, e daí?
Nesta quinta-feira, 30 de março – um dia antes da data alusiva ao golpe militar de 31 de março de 1964 –, às 7h10, o ex-presidente Jair Bolsonaro deve desembarcar no Aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília, depois de passar 90 dias na Flórida, na terra do tio Trump, ops, Sam. Mas e daí? O que vai acontecer?
Bem, a gente precisa entender primeiro o que aconteceu.
Após sua derrota na eleição do ano passado, Bolsonaro silenciou-se. Nem um pio sobre a vitória de seu arquirrival, tampouco o reconhecimento público da vitória do opositor. Viajou para os Estados Unidos e por lá ficou, também sem se manifestar, como se não tivesse que dar qualquer satisfação aos mais de 58 milhões de brasileiros que nele fizeram sua aposta mais valiosa que há dentro da democracia: o voto.
Um senhor capital eleitoral solenemente desprezado. Alguns analistas menos estudiosos apostaram em uma leve depressão pós-eleitoral. Eu diria que o que ele teve foi uma ressaca braba, daquelas que nos derrubam. Chá de boldo é recomendado nesses casos. O silêncio, entretanto, costuma carregar consigo vozes muito agudas. Medo do STF? Prudência – verbete novo em seu dicionário – à espera de um erro do novo-velho governo? Ou apenas uma longa e odiosa ressaca?
Ao permanecer silente, Bolsonaro deixou sua base sem voz de comando, o que abre espaço para o incensamento de novos nomes. Na política não há vácuo, e ‘Tarcísios’ e ‘Zemas’ sabem bem disso. Sorte de Bolsonaro – e talvez azar do Brasil – que os movimentos políticos nesses três meses foram confusos e primários para o ambiente da política.
A oposição está sem rumo, sem nome, com muitas dúvidas e poucas respostas. Bolsonaro será preso ao chegar ao Brasil? Perderá os direitos políticos? Se sim, quem será o herdeiro de seu capital político? Se não, qual será seu papel daqui por diante? Fará uma oposição raivosa e sistemática ao novo governo? Permanecerá em silêncio ou falando por porta-vozes com mandato? Vai liderar um movimento com aliados? Vai receber aliados? O ex-presidente trocou seu número de telefone e não avisou aos amigos de antes. A ex-primeira-dama, Michele, parece mais acessível que o próprio marido. Será ela a nova aposta do bolsonarismo?
Para Lula e o PT, o melhor adversário será sempre Bolsonaro: ele tem um clube fiel, mas agrega muito mais rejeição que qualquer dos demais nomes postos dentro do ambiente conservador. Tarcísio de Freitas, Romeu Zema, Sérgio Moro, Rogério Marinho, General Braga Netto, Michele… todos esses e tantos outros mais são uma incógnita eleitoral. E como toda dúvida é traidora, com ela vêm as incertezas.
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Bolsonaro vem aí. E daí? O que esperar? Bem, 500 policiais fazendo no esquema de segurança do aeroporto, a Esplanada dos Ministérios fechada, um comboio e muito tumulto são as certezas. Quando ao ex-presidente, dele a gente espera tudo… ou nada!
Aparício Fernando Tonelly, o Barão de Itararé, foi profético: “de onde não se espera nada, daí é que não sai nada mesmo”.
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Fernando Carreiro
Há 15 anos, Fernando Carreiro vive no meio do poder e dos poderosos. Jornalista, é consultor de comunicação especializado em imagem, reputação, gerenciamento de crises e estratégia política.