Brasil e Israel: qual o impacto da crise diplomática para a economia
As declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que comparou os ataques israelenses à Faixa de Gaza ao Holocausto, arquitetado por Adolf Hitler e seu exército nazista, criaram ruído na política externa brasileira e levaram a uma escalada diplomática na relação entre Brasil e Israel. Diante disso, qual o impacto da crise diplomática para a economia local?
Os exportadores brasileiros seguem em alerta após as declarações do presidente, embora a avaliação seja de que uma relação prática e pragmática entre o comércio de Brasil e Israel deva prevalecer.
Segundo dados da plataforma governamental ComexStat, o Brasil exportou US$ 662 milhões em produtos para Israel em 2023, principalmente:
Apesar de o volume de mercadorias entre Brasil e Israel não ser significativo, se comparado a outras relações comerciais, uma interrupção traria impacto negativo nos negócios do país, de acordo com especialistas.
Ainda assim, as nações têm certa estabilidade nas negociações pelo acordo do Mercosul.
Persona non grata: repercussão de falas
Na segunda-feira (19), autoridades israelenses convocaram o embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer, para esclarecimentos sobre os comentários de Lula. Em seguida, o governo brasileiro convocou Meyer para consultas.
No Rio de Janeiro, onde a reunião do G20 está marcada, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, convocou o embaixador israelense, Daniel Zonshine, para uma reunião no Palácio Itamaraty. O encontro teve uma duração aproximada de uma hora e meia, e Zonshine deixou a reunião sem fazer declarações à imprensa.
Diante da posição de Lula de não se retratar por sua declaração, o governo de Israel declarou o presidente brasileiro como “persona non grata” na segunda-feira (19), e decidiu manter a posição nesta terça (20).
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Brasil e Israel na esteira do G20
A crise diplomática entre Brasil e Israel se dá em meio aos preparativos para a primeira reunião no âmbito ministerial do G20 sob presidência brasileira. O encontro, que reúne 20 grandes economias do mundo, está programado para quarta (21) e quinta-feira (22), no Rio de Janeiro.
Israel não integra o G20, vale lembrar, mas o embate diplomática pode ofuscar as discussões da cúpula, segundo especialistas, por ser um tema sensível para nações mais próximas, como Alemanha, França e Estados Unidos. Diante disso, a postura de Lula nos próximos dias deve permanecer no foco.
No que as falas de Lula implicam
Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o doutor em ciência política pelo Iuperj Maurício Santoro diz que a crítica sobre Israel não foi problema, mas sim a comparação do Estado israelense com o nazista. A comparação tende a ser feita por militantes de esquerda, “mas tem outro peso na boca de um chefe de Estado. Mexe com feridas históricas profundas não só de israelenses, mas de judeus no mundo inteiro”, explicou.
Também em entrevista ao jornal, Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV), avalia que a fala do presidente Lula ultrapassa as críticas ao governo de Benjamin Netanyahu.
A comparação, segundo o especialista, “vai muito além” de criticar Israel, acusá-lo de violar o Direito Internacional e até de cometer um genocídio. “Afinal, o Holocausto, inédito na historia da humanidade, é muito diferente de outros genocídios, pois a Alemanha montou uma estratégia de escala industrial para exterminar 6 milhões de judeus“, lembra.
Ainda que no Sul Global o comentário possa ver visto como um exagero, mas não com preocupação expressiva, no Ocidente a fala será avaliada por muitos como antissemita e deve afetar a imagem do presidente brasileiro de forma negativa, na avaliação de Stuenkel.