BRASIL E A SUA COLEÇÃO DE DESASTRES ECONÔMICOS.

BRASIL E A SUA COLEÇÃO DE DESASTRES ECONÔMICOS.

Paulo Eduardo Akiyama

Revendo alguns apontamentos, em especial para poder entender parte da atual crise que nosso país está vivenciando. Diante disto, deparei-me com anotações feitas ainda na época da faculdade, onde havia analisado, de forma genérica, a famosa "Aliança para o progresso e Doei ouro para o bem do Brasil".

O movimento, Aliança para o Progresso, foi elaborado pelo então candidato à presidência dos Estado Unidos, John Kennedy, que tinha como objetivo a união dos países contra o comunismo. Na época, imperava a União Soviética como o exemplo deste regime.

Os Estados Unidos apoiariam estes países com seu investimento público e privado para fomentar o desenvolvimento a todos que apoiassem a ALIANÇA PARA O PROGRESSO. Setores como educação, saúde pública e desenvolvimento industrial, seriam beneficiados, resultando em uma melhor distribuição de renda e redução da miséria, sempre com base no capitalismo ocidental.

Com a morte de Kennedy em 1963 e o golpe militar de 1964, os Estados Unidos, sob o comando de Johnson, concentrou atenção na guerra do Vietnã deixando a ALIANÇA PARA O PROGRESSO em plano inferior, sendo retomado posteriormente, com cautela e sem a ênfase necessária, pelo presidente Nixon.

Por fim, em 1964 o Brasil sofre o golpe militar. Teve o apoio dos EUA em relação a manutenção de auxílio para a paz, controle de eventuais conflitos, em especial no nordeste brasileiro, mas sem alardes ou publicidade. Mas o país já estava com os cofres zerados.

Foi lançado então o programa “ Doe ouro para o bem do Brasil”. Fui com minha mãe a praça da Sé e depositei um anel que havia ganhado ainda bebê e sai de lá todo emocionado com uma aliança de latão com os dizeres "Doei ouro para o bem do Brasil". Não tenho mais esse souvenir, mas sim a recordação daquele dia, pois foi marcante.

Durante o regime militar, o Brasil era regido pela ordem e disciplina. Sabemos que muito foi feito ao arrepio dos direitos do cidadão, mas também houve ações que beneficiaram a população. Não sou defensor do autoritarismo, mas faço meu depoimento por ter vivido o momento como estudante universitário.

Iniciamos por volta de 1980, quando então o ministro da agricultura Delfim Neto, do planejamento Mario Henrique Simonsen e o do interior Mario Andreazza, entre inúmeras disputas internas, tentaram implantar o milagre econômico, sendo que em 1979 houve uma maxidesvalorização frente à moeda americana de 30% e em 1983 novamente outra maxi de mais 30%, sempre como justificativa a estabilização do sistema econômico do país.

Neste mesmo período, ou seja, na década de 1970, tivemos a greve dos metalúrgicos do grande ABC. Os trabalhadores paralisaram as linhas de produção, que resultaram em demissões, o que representou uma queda de 52% no setor. Soma-se a este cenário, a busca de empréstimo junto ao FMI.

Em 1984, mesmo com uma inflação na casa dos 235% ao ano, aumento da inadimplência e a não retomada de toda a indústria, havia esperança, porque no final de 83 falava-se na expectativa de superávit da balança comercial e crescimento do PIB.

A crise resultou em 1985 com a quebra de inúmeros bancos, alguns com mais de cem anos de vida. No ano seguinte, após a morte de Tancredo Neves, assume a presidência da República o primeiro civil após uma ditadura militar de 20 anos, José Sarney, como vice de Tancredo, o qual morreu antes mesmo de sua posse.

Historicamente o PMDB mantem-se no apoio de quem interessa, e na época, desembarcou do governo Sarney. Assim, decide a administração, orquestrado pelo seu ministro Dílson Funaro lançar o plano cruzado um e o dois, trazendo congelamento de preços e salários, o que levou o Brasil a um desastre total.

Na sequência, o plano Bresser, congelou os preços, só que por apenas três meses, mas desta vez, sem o gatilho salarial. Mais um que foi por agua abaixo. Bresser deixa o ministério em dezembro e uma inflação de 365% ao ano. Em 1988 com uma inflação galopante, desmandos na economia e desentendimentos dos políticos, culmina – se uma enorme crise.

Em janeiro de 1989 lançou – se o plano verão. Houve o corte de três dígitos na moeda, mais um congelamento de preços e a proposta de cortes de despesas públicas. Extinguiu a correção monetária, as OTN's. Cria-se um novo indexador, porém, a inflação se descontrola e encerra o período com 1.972% ao ano.

Inicia-se a década de 90 com novo presidente, Fernando Collor de Melo. Em março do mesmo ano implementa o plano Collor, confisca a poupança, ou seja, a população fica sem dinheiro. A única coisa boa foi a abertura dos portos, porque o plano não funcionou. Em janeiro de 1991 implanta -se o famoso plano Collor 2, congelando salários, desestimulando a indexação. Acaba-se com o over night (aplicação financeira de um dia para o outro na tentativa de proteger os recursos financeiros). A inflação continua correndo a economia.

Com o impeachment, assume o vice-presidente Itamar Franco e como ministro da fazenda Fernando Henrique Cardoso, que em 1994 implanta o real. Finalmente, o povo brasileiro sente uma estabilidade econômica. FHC elegeu-se presidente e se manteve no cargo até janeiro de 2003, quando Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a sua posição. Mas o PT, infelizmente, não realizou os ajustes necessários, apenas colheu os frutos.

O partido dos trabalhadores segue elegendo Dilma Rousseff, que em seu primeiro mandato já demonstrava fraqueza na administração pública. Foi reeleita em 2014, porém, não reconhecia que a economia do país já estava em total decrescimento e o país já havia passado por um enorme escândalo denominado mensalão, com a prisão de políticos e empresários, condenados. Foi reconhecido, na época, como o maior desvio de recursos público.

Em março de 2014 foi deflagrada a operação lava jato, a qual levanta um esquema de corrupção na estatal Petrobrás. Até hoje, a investigação já possui mais de 41 operações, as quais resultaram em prisões, condução coercitiva para depoimento, busca e apreensão, ou seja, inquéritos policiais, denúncias e processos criminais. Desde essa época, estamos imersos em escândalos políticos, financeiros, judiciais e demais.

Sou apartidário, mas sou ser humano e um pequeno empresário. Assim como eu, não acredito que tenha um empresário de grande porte, que não esteja passando por “boas e más” para manter os negócios.

Esta má gestão nos levou a um canal de corrupção nunca visto antes. Retirou-se muito dinheiro da economia e do caixa do governo e estatais para alimentar poucos interesses. O dinheiro deixou de circular em nossa economia levando milhares de empresas a processo de recuperação judicial quando possível, porém, muitos também foram a quebra. Resultado: desemprego para 14,5 milhões de pessoas.

O setor de serviços está sem poder planejar, pois não há contratantes. O sistema financeiro, cada dia mais apertando o crédito e elevando a taxa de juros para aqueles que mais precisam do recurso.

Talvez, de maneira bem doméstica, a solução de nosso país seria que, os poderes que nos governam, Executivo, Legislativo e Judiciário, ao invés de buscarem as luzes dos holofotes da fama, centrassem força, unidos, para uma solução a médio longo prazo, pois em curto prazo, não há qualquer meio de solução, mesmo que paliativa. Se há necessidade de prisão àqueles que estão envolvidos, que definitivamente os prendam, se há necessidade de reformas, que se votem com urgência.

A única solução para o Brasil é, que todos se comprometam com o papel que assumiram, desde o presidente da república ao mais humilde trabalhador. Trabalho e mais trabalho. É isto que trará uma sobrevida ao nosso país e a nossa população. Dessa forma, seremos capazes de buscar a cura a este mal, mas, caso não tenha união em prol de uma solução não haverá sobrevida, assim, apenas nos restará aguardar a missa de sétimo dia do de cujos chamado Brasil.

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*Paulo Eduardo Akiyama é advogado e sócio do escritório Akiyama Advogados Associados, atua com ênfase no direito empresarial e direito de família.

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