Brasil e sua literatura para além das fronteiras

Brasil e sua literatura para além das fronteiras

O mercado editorial brasileiro começou a enfrentar uma de suas maiores crises a partir de 2014. Diversos fatores trouxeram grandes desafios para o setor e, desde então, muito se discute sobre a reinvenção do mercado, soluções e alternativas para que novos horizontes se abram. Na prática, isso envolve um esforço intenso no sentido de romper com velhas atitudes, com modelos de negócios ultrapassados para, então, sair da estagnação. O Brasil tem um mercado muito tradicional, arraigado em práticas antigas, mas ao mesmo tempo único. O potencial do país é enorme e capaz de vencer os limites das negociações em solo interno. 

Após anos de recessão, em 2019 o mercado iniciou uma pequena recuperação e mostrou alguns resultados positivos. Segundo os dados da pesquisa de produção e venda do setor editorial, o número de exemplares produzidos no Brasil teve um crescimento de 13% em relação a 2018, enquanto o número de títulos aumentou 7,5%. Ao mesmo tempo, as vendas ao mercado nacional apresentarem alta de 7,7% e o faturamento total cresceu 10%. 

Outro dado revela que nos últimos 5 anos, o percentual de títulos traduzidos vem diminuindo: em 2016, 40% dos livros publicados no Brasil eram traduções e em 2019, esse número caiu para 28%. A alta do dólar e a crise interna colaboraram muito para que o mercado voltasse seu olhar para os escritores brasileiros, principalmente aos jovens e aos potenciais talentos. Esse movimento trouxe uma certa robustez para a qualidade e para a oferta de conteúdo brasileiro, tanto internamente como internacionalmente. Nos últimos anos é notável o movimento de abertura de novos mercados, em grande parte por pequenas e médias editoras. O crescimento das exportações de direitos autorais fortalece o mercado interno e posiciona o Brasil também como produtor e fornecedor de conteúdo de qualidade.

Neste cenário, o ano de 2020 começou com grande otimismo, e aí veio a pandemia da Covid-19. A economia global sofreu um grande abalo e o mercado editorial de todo o mundo sentiu fortemente o impacto dos acontecimentos. Aqui no Brasil não foi diferente. A quarentena obrigatória impôs às empresas um desafio gigante pela sobrevivência. E diante de todas as dificuldades enfrentadas, o que vimos foi uma grande mobilização da sociedade civil e do setor, propondo iniciativas e ajudando pequenas empresas a se manterem, acreditando na união de forças na busca por dias melhores. 

Novos tempos

E o que fazer para enfrentar o cenário atual e, principalmente, para sairmos mais fortes dele? Podemos começar refletindo sobre o papel real do verbo inovar, que não significa apenas investir em novas tecnologias. Trabalhar com inovação é mudar pensamentos, comportamentos, quebrar paradigmas, fazer diferente, ousar. O mercado não precisa se reinventar, mas precisa ousar. Precisa ultrapassar os limites do livro enquanto produto final, aprender com outros mercados e encontrar novas formas de fazer negócios, conectando os universos físico e digital. 

Estratégias de marketing com foco em customer experience e planos de negócios bem definidos, por exemplo, podem levar as empresas ao encontro de novas ideias que ajudam a criar e a entregar algo único ao consumidor. É preciso ter coragem e ampliar o olhar para além do livro. O conteúdo editorial é transversal e se integra com toda a cadeia da economia criativa: filmes, séries, música, games, artes. As diferentes mídias estão cada vez mais integradas, e o mercado editorial precisa não apenas se inserir neste contexto, mas liderar este movimento, ser proativo. 

Diante de tantos obstáculos e incertezas, é válido lembrar como os momentos difíceis trazem também muitos ensinamentos. Para olhar para cada um deles com clareza, é preciso estar atento e aberto, livre de preconceitos e premissas. O mercado editorial brasileiro tem um grande desafio e, ao mesmo tempo, uma enorme oportunidade de fazer a diferença. O Brasil soma em criatividade, conteúdo e profissionalismo. E que saibamos multiplicar a coragem e a ousadia necessárias para mostrar ao mundo todas as experiências que nossos livros podem proporcionar aos mais diversos leitores. Afinal, livro vira tudo e tudo vira livro.

Fernanda Dantas



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