Comprar um carro elétrico é bom para o meio ambiente, certo?

Comprar um carro elétrico é bom para o meio ambiente, certo?

Cerca de 23% das emissões globais de CO2 são provenientes do setor de transporte. Então zerar suas emissões comprando um carro elétrico é bom para o meio ambiente, certo? Será mesmo? Esse debate é bem mais complexo. Esses veículos possuem baterias que perdem capacidade de carga com rapidez, tornando-se assim lixo sem destino seguro para o descarte.

À primeira vista, os carros elétricos parecem um deus ex-machina para a nossa consciência ambiental, e o mercado já está cheio deles.

Os emplacamentos subiram 146% no primeiro semestre deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado. E segundo levantamento feito pela Universidade Veiga de Almeida (UVA), esses veículos podem ser responsáveis por cerca de 43 mil toneladas de lixo perigoso até 2030. 

Há empresas, como a Energy Source, que já começaram a buscar uma solução para o problema. A companhia brasileira trabalha com o processo de reuso, reciclagem e reparo de baterias de lítio, tornando-se pioneira a oferecer estas ações em um só lugar, porém ainda com capacidade reduzida. Ela processa até 300 toneladas de baterias por mês. A solução (mas esses carros já não eram uma solução?), porém, não pode estar apenas na iniciativa privada. Há a necessidade urgente de regulamentação para o descarte, que precisa acompanhar os incentivos fiscais dados aos elétricos.

Hoje, com 91,4% das emissões de CO2 no setor de transporte vem das nossas rodovias. Mas descarbonizar é uma tarefa multifatorial, que envolve a diversificação de modais de transporte (ferroviário, aquaviário, entre outros) e a produção e uso de biocombustíveis, como o metanol verde. Essa mudança exige um investimento em infraestrutura que vai infinitamente além de espalhar pontos de recargas para frotas de carros elétricos. Nossos sistemas portuários precisam ser expandidos. Há um custo elevado do SAF, Combustível Sustentável de Aviação, e uma oportunidade de investirmos nessa produção no Brasil que não está sendo aproveitada, entre muitíssimos outros exemplos.

Acredito que esse tipo de reflexão nos traz uma visão macro e muito mais realista de onde está a real problemática, e para onde o debate precisa ir. Por isso, inclusive escrevi esse artigo. 

Minha DM e o campo de comentários estão abertos para darmos continuidade para essa conversa! 

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