Brumadinho, Flamengo, Enchentes e o Pequeno Príncipe: cuidado com os baobás!

Brumadinho, Flamengo, Enchentes e o Pequeno Príncipe: cuidado com os baobás!

Certa vez o Pequeno Príncipe, em mais um de seus devaneios minimalistas, indagou ao rapaz:

 – “É verdade que os carneiros comem arbustos?”

 – “Sim, é verdade”, respondeu o homem sem entender o ponto.

               Ao longo da conversa que se estabeleceu, foi-se elucidando a problemática. O planeta do pequeno, ora, tinha o solo repleto de sementes de Baobás. As raízes dessas árvores gigantescas, de tão fortes, acabam por rachar o planeta ao meio, caso não sejam prontamente cortadas logo que nascem. E foi por isso que ele havia estranhamente se interessado pelos hábitos alimentares dos carneiros: "os baobás, antes de crescerem, são pequenos", sustentava, "e ainda é possível tratar destes antes que seja tarde".

               – “Às vezes não há inconveniente em deixar um trabalho para mais tarde. Mas, quando se trata de baobás, é sempre uma catástrofe!”, explicava o principezinho.

               A analogia transcende as letras de Antoine de Saint-Exupéry e, de forma absolutamente atual, explica muito sobre as catástrofes que temos presenciado com tanta angústia. Não que a ótica seja tão diminuta, mas, de todo o arcabouço de possibilidades, é possível aventar uma que parece se destacar. Os problemas, logo que nascem, deveriam receber pronta atenção e cuidado. Deve-se atentar para os baobás...

O rompimento de uma barragem de rejeitos, um incêndio ocorrido em um centro de treinamento e uma série de enchentes ceifando vidas, sonhos, bens tangíveis e intangíveis. Um pequeno lapso de tempo, mas com desdobramentos para além de uma eternidade. Ainda que distintas, o que as tragédias possuem em comum? O ser humano. O denominador comum parece ser, invariavelmente, a (falta de) ação humana daqueles que deveriam cortar os baobás.

Recheada de negligência, com sórdidas pitadas de descaso e apatia, as atitudes deploráveis dos agentes humanos mostram o quanto a vida vale para estes. Alguns trocados de indenização, empurrados goela abaixo em exaustivas negociações e acordos com as famílias. Nunca maior que seus lucros (claro!).  Do alto de seus egos são incapazes de enxergar a irreparabilidade dos danos. Seja no privado, seja no público, nossos "baluartes" simplesmente dão de ombros para a base da pirâmide e seguem, incautos, a semear novos baobás.

Estava lá. Anunciada. “Arquive... Depois tratamos disso”, deve ter bradado uma ou outra vez um dos grandes executivos de farda verde, corresponsáveis pela fatídico episódio em Brumadinho. “Na próxima semana os mudamos, ainda dá pra alojá-los aí por mais um tempinho”, um dos dirigentes do clube naturalmente ponderou, seguindo apressado para mais uma de suas urgentíssimas reuniões. “Essa cifra? Muito alta. Remaneje o orçamento, depois pensamos na possibilidade de enchentes”, talvez alguém tenha ouvido, ao tentar alertar o Prefeito dos riscos iminentes que dali ecoavam. Estava lá. Anunciada. Retumbantemente anunciada.

Quantos Brumadinhos, quantos CT's, quantas enchentes. Quantas Marianas, quantos deslizamentos de encostas, quantas boates Kiss, quantos Museus Nacionais. Quantos flagelos? Quantas lágrimas nos farão derramar até que comecem a dar importância ao que importa?

“Enfants! Faites attention aux baobabs”. Isso serve para qualquer um de nós. Logo que surja, coíba o problema de crescer. Seja você político ou empresário. Seja em nossas vidas pessoais. Por isso, crianças, prestem atenção aos baobás. 

Compartilhe. É necessário fazer ecoar o grito dos flagelados. Uníssono.


Verônica de Jesus

📊 Administradora | Gestão, Finanças e Processos

5 a

Excelente reflexão, Gabriel. Parabéns!

Lucas Aroucha

Contador | Analista Fiscal | Consultor Tributário

5 a

Que analogia maravilhosa! Mas não estou surpreso por tamanha inteligência linguística apresentada. Parabéns amigo!

Vinicius Moraes

Product Manager @ Citiesoft

5 a

Parabéns, José! Pelo excelente texto e pela habitual e surpreendente capacidade de fazer boas analogias! 

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