A busca por certezas na era multitecnológica. A crise nas convenções sociais.
A abundância de tantos coaches é sintomática. As pessoas querem certezas num momento histórico de disrupção das convenções sociais: gênero, sexualidade, raça, migração, cultura. Ainda que o papel do coach, em tese, não seja o de direcionar, há uma busca por isso e coaches que vendem fórmulas. Por outro lado, não quero dizer que não existam profissionais sérios e úteis a diversas demandas.
Os relacionamentos estão sendo questionados em todos os aspectos em virtude de mudanças tecnológicas, demográficas, econômicas. Novas configurações sociais começam a surgir. A certeza de antes dá lugar à dúvida. A ansiedade cresce com a necessidade de fazer tantas escolhas para algo sem referência. É preciso negociar desejos.
Estava conversando com minha cunhada em Maio desse ano sobre o Dia das Mães na escola que minha sobrinha estuda. A discussão na organização girava em torno da ideia de ter o Dia da Família, substituindo a comemoração separada do Dia dos pais e do Dia das Mães.
Como no caso acima, existem outros inúmeros dilemas:
Os papéis da mulher e do homem fazem sentido ainda? A identidade é definida pelo sexo? Qual o conceito máximo de intimidade? relação sexual ou dormir na casa do (a) parceiro e assistir Netflix ou qualquer outra forma? Ainda cabe noivar? Casamentos precisam durar a vida inteira? Traição é perdoável? Quem cuida da casa? Quem a sustenta? Os dois, o parceiro, a parceira? Casamento pressupõe viver na mesma casa ou cada um no seu espaço? Ser mãe é mandatório? As crianças precisam ser punidas fisicamente para aprender? Quem toma as lições dos filhos? O homossexualismo ainda é tabu? Quem amamenta numa relação de homossexualismo feminino? Licença paternidade deve ser obrigatória e estendida para um tempo maior? Mães ou pais solteiros(as) são verdadeiramente considerados famílias? As escolas devem substituir o Dia das Mães e dos Pais pelo Dia da Família? Os direitos dos negros são respeitados? As imigrações são bem-vindas?
Esses dilemas atuais geram muita angústia. Isso engloba também questionamentos profissionais: trabalhar numa empresa ou empreender? Qual propósito guia o seu trabalho? Ter um contrato CLT ou atuar como PJ (Pessoa Jurídica)? O horário de trabalho deve ser flexibilizado com home office?
Uma forma de responder a tantas demandas é a de refletir e negociar com quem quer que esteja implicado na questão. Aqui reside, talvez, a fonte de tanta perturbação: não se está preparado para pensar nesses aspectos e negociá-los porque tudo estava convencionado antes.
Esperava-se que o individuo estudasse, passasse no vestibular, especialmente, num dos cursos de prestígio como: Direito, Medicina ou Engenharia, comprasse a casa própria, casasse numa relação hétero, tivesse filhos e repetisse o ciclo.
Pedir ajuda a profissionais capacitados é importante para lidar com a angústia. E creio ser fundamental para caminhar rumo a algo que faça sentido para a própria vida, estimular o diálogo e ter mais qualidade no cotidiano das relações.
As questões contemporâneas servem de alimento para pensar no que que se quer como indivíduo e sociedade. Não dá para se furtar ao diálogo, pois ele é a saída. Que se possa praticar diariamente porque é só na troca, no con-viver e no co-habitar que se cria, gera, inova, de modo a obter repostas para novos problemas.
A resposta está na intersecção entre si e o outro, considerando cada contexto singular.