E o ageísmo, hein?
É no mercado de trabalho que o ageísmo mais se manifesta. Que tal algumas estratégias para ajudar a tornar a idade um não-problema em suas entrevistas?
Por décadas, o país manteve a base da pirâmide etária mais ampla e o topo mais estreito, o que significava uma população predominantemente jovem.
Com o passar do tempo, chegamos a um perfil demográfico caracterizado como “adulto” (de 20 a 59 anos).
Durante a maior parte da história nunca se viveu muito, mesmo.
A expectativa de vida do brasileiro ter alcançado a maior média (76 anos) é coisa recente.
Ela aumentou 30,5 anos desde a década de 1940.
Exatamente durante todo este período abordado foi forjado o ageísmo no Brasil.
O termo vem do inglês (ageism) e corresponde ao preconceito contra pessoas mais velhas.
O ageísmo se nota em sua negação.
Pesquisa de doutorado da coordenadora do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Positivo, Christiane Machado, mostra que mercado publicitário ignora a terceira idade, com idosos aparecendo em menos de 3% dos anúncios.
Mas é no mercado de trabalho que a discriminação mais se manifesta.
Artigo novo de Rebecca Zucker na Harvard Business Review traz números.
Em estudo recente da AARP (American Association of Retired Persons), quase dois em cada três trabalhadores de 45 anos ou mais dizem ter sofrido discriminação por idade.
Predominantemente nos segmentos mais tecnológicos.
Sete das 18 principais empresas do Vale do Silício apresentam na força de trabalho uma idade média de 30 anos ou menos.
Afinal, justifica-se o ageísmo pela queda na produtividade?
Os dados da vida real mostram bem o contrário.
De acordo com pesquisa do Stanford Center on Longevity, trabalhadores mais velhos são saudáveis.
Têm uma forte ética de trabalho, são leais e têm maior satisfação com seus empregos do que seus colegas mais jovens.
Além disso, a London Business School mostrou que mais pessoas com menos de 45 anos estavam exaustas (43%) que as com mais de 45 (35%), com o grupo menos exausto sendo acima de 60 anos.
Está claro que o inimigo é o estereótipo.
Contra o qual podemos usar o humor.
No Estadão de 1º de agosto, Carlos Castelo oferece dicas para permanecer "um pouco mais de tempo no ambiente de trabalho após os 50".
Entre elas, levar marmita vegana e vestir-se com roupas de cores chamativas e extravagantes para lembrarem de sua existência.
Uma piada assim só revela o estereótipo visto do outro lado.
Melhor usar estratégias sensatas, como as propostas por Zucker.
A americana listou maneiras de responder ao ageísmo em uma entrevista de emprego.
Conduza com energia em vez de experiência
Mostre sua empolgação com a oportunidade e o trabalho que você faz.
Em vez de focar na experiência que você tem, ou quantas vezes fez um certo tipo de projeto, mostre entusiasmo pelo trabalho.
Chamar atenção para os anos de janela pode alienar ou intimidar o entrevistador, ou fazer você parecer um sabe-tudo.
Adote um mindset de consultoria
Abordar suas entrevistas como conversas de consultoria, mostrando curiosidade e um mindset de aprendizagem.
Use perguntas abertas, combinadas com escuta engajada.
A ideia é entender melhor o contexto da organização e seus desafios particulares para identificar onde e como você pode agregar mais valor.
Essa abordagem não será apenas mais convincente.
Mas também ajudará a se mostrar com mais confiança, à medida em que você anseia ser colega de seu entrevistador.
A mudança de mindset é parte de como você pode mudar a dinâmica de poder percebida.
Desta forma, você deixa de ser a pessoa querendo ou precisando do trabalho para ser aquela que tem a solução ou o know-how que a empresa precisa.
Adote humildade e uma abordagem não-hierárquica
Sua história pregressa não vale muito neste ponto.
Por isso é preciso demonstrar humildade e abordagem igualitária ao interagir.
A colaboração é a norma entre os millennials, geração da qual provavelmente faz parte o entrevistador.
Qualquer coisa que sinalize apego hierárquico, como perguntar sobre título do cargo ou cadeia de comando acende uma bandeira vermelha.
Exatamente sobre a capacidade de se encaixar em uma cultura de trabalho colaborativo.
Conecte-se com seu entrevistador
O ambiente é de profissionalismo, mas estamos entre pessoas.
A pesquisa mostra que começar com cordialidade é eficaz em influenciar os outros.
Isso pode ser tão simples quanto um sorriso.
Ou usar referências atuais com as quais uma pessoa mais jovem poderia se relacionar, como um programa popular na Netflix.
O humor é outra maneira de se conectar e mostrar à outra pessoa como você é agradável de conviver.
No entanto, não use referências datadas ou humor autodepreciativo como "era pré-internet" ou "provavelmente era antes do meu tempo".
Obviamente não trará empatia, sendo então desconfortável e alienante.
Mostre capacidade de trabalhar com diversidade
Use a conversa para listar projetos que atuou em várias funções e níveis de liderança.
Ao fazê-lo, você transmite capacidade de trabalhar bem com colegas mais jovens.
E sem precisar destacar especificamente a idade.
Distingue-se
Ajustar-se a um público mais jovem não significa buscar parecer com todo mundo.
Você deve se sentir confortável e autêntico.
Se necessário, peça ajuda para atualizar seu guarda-roupa e acessórios.
Algumas lojas oferecem serviços de styling gratuitamente.
Vale investir neste serviço também, por que não?
Vire o jogo
Se o desejo é por “mentes mais jovens”, ofereça um pensamento inovador.
Diga que adoraria compartilhar algumas ideias que poderiam ajudar a organização a ampliar seu impacto e ser um modelo para os outros no campo.
Quando perguntado se estaria à vontade em festejar com a equipe, diga adorar celebrar o sucesso com o time.
Se não tiver certeza sobre como responder a um comentário ou pergunta inadequada, aposte na curiosidade.
Neste caso, o truque é perguntar algo como "você pode falar mais sobre isso?".
O preconceito de idade é uma certeza.
Concentrar-se no que você pode controlar e empregar estratégias como estas pode desviar a atenção da entrevista sobre a idade.
Assim você vai redirecionar o foco.
E fazer o entrevistador enxergar o motivo pelo qual você é a pessoa certa para o trabalho.
Image Thinking Soluções de Identidade Pessoal e Corporativa. ES/RJ/SP Palestrante
5 aExcelente texto!