Business intelligence desgovernado

 Estou completando 15 anos de atuação profissional na área de TI, 13 dos quais no desenvolvimento de sistemas de inteligência de negócios,  o tão falado "Business Intelligence".

 Nesse tempo, já trabalhei em todos os perfis que existem neste segmento: Levantamento de requisitos, modelagem de dados, desenvolvimento de processos de extração, transformação e carga de dados (ETL), definição de relatórios, KPI´s, criação de dashboards, information delivery e até gestão de projetos e, vez ou outra, desenvolvendo alguma aplicação para entrada de dados, agendamento, backup entre outras.

 Quem é profissional de TI no Brasil sabe como é isso: cobrar escanteio, correr pra cabecear, agarrar no gol e, caso sofra alguma lesão, ser o próprio massagista - mas ganhar só por uma das funções!

 Porém a maior dificuldade não está nos desafios da função em si, que já eram conhecidos e foram mostrados  para mim desde o primeiro ano nesta área, o  maior problema de todos está no fato de, após todo o trabalho desenvolvido, noites perdidas, stress ao nível máximo, cabelos perdidos e peso ganho, o sistema concebido não atender às necessidades dos usuários que, ao iniciar o projeto não entende bem as próprias necessidades e, com a ajuda de nossos devaneios como alienígenas que prometem um admirável mundo novo,  acabam pedindo o inatingível e eis que nasce, desta forma, a especificação do sistema!

 E esse documento sela, definitivamente, a separação entre o "business" e  o "intelligence".

 Perdidos num mar de termos e novidades tecnológicas, com a mente naquele gráfico "que mexe", tecnologias mobile, Big Data, Analytics, propostas comerciais, carniceiros querendo vender o que o cliente já tem, o cliente final se encontra tão sufocado de todos os lados que o motivo inicial de tudo aquilo acaba se perdendo no meio a tantas especificações complicadas e ilegíveis. E o motivo para se investir em tecnologia é sempre o mesmo: ajudar o negócio a se desenvolver!

Quando perdemos essa noção, seja em um projeto pontual, ou numa grande implantação corporativa, tudo está perdido. O sentido de TI existir está perdido.

O cenário brasileiro não está favorável para nossos técnicos, pois não entendem a inteligência aplicada ao negócio, não entendem o motivo de sua função, não percebem a recompensa de sua criação pois a maioria das vezes ela não está alinhada ao que o negócio precisa, muitas vezes por desconhecimento, por parte das pessoas de negócio, do próprio negócio! Se não souber o que pedir em um restaurante, ninguém saberá o que te servir.

Por isso é preciso retomar a ideia de trabalho em grupo, onde todos entendem o por que de suas funções, qual o impacto dela sobre o negócio, qual engrenagem te aciona e qual é acionada por você. A ideia de ser parte de algo é o que move as pessoas e se sistemas são desenvolvidos por pessoas, precisamos que isso seja refletido em nosso trabalho, desenvolver sistemas que sejam parte do todo, que estejam alinhados às estratégias do negócio. 

Business intelligence não se trata apenas do gráfico "que mexe" (tudo bem, é bem legal realmente), nem apenas de meia dúzia de ferramentas legais ou servidores caros pra amontoar todos os dados de uma empresa, mas é sobre como a informação pode nos guiar em um sentido, desde sua geração até sua interpretação em relatórios com indicadores da performance empresarial.

Então, pessoas de negócio e tecnologia, entendam o sentido! 

Rodrigo Spadaccia

Senior Manager, IT Portfolio Management na SBA Communications

8 a

Marzo Piter, muito boas palavras. Creio que sinto o mesmo que você: a TI deve deixar de ser somente TI e entender de negócio também. Não para interferir, mas para orientar. Algo como "ler o cardápio" no restaurante para poder servir melhor. Nunca a palavra "consultoria" foi mais atual. Não a consultoria de "simples" desenvolvimento, mas sim a consultoria de apoio, visão e entendimento para a boa entrega final do projeto.

Sergio Zaccarelli

Data Analytics & Management Expert | Head of Data Engineering | Driving Data-Driven Transformation with Modern Data Platforms

8 a

A questão aqui é que ainda não conseguimos transformar o que chamamos (ou chamávamos?) de BI em algo que seja flexível o suficiente para o negócio pilotar, e ao mesmo tempo ter a velocidade de receber mudanças que virão ao longo do desenvolvimento (e como virão!), combinado com a consistência, base tecnológica e aporte de múltiplas origens de informação que TI deve prover. Se eu flexibilizo demais e deixo só na mão do negócio, perco o controle, escala e garantia de qualidade de TI, e crio algo departamental. Se fica mais na mão de TI, eu engesso o processo, me desconecto demais do negócio e perco a rapidez em me adaptar e entender dando resposta rápida, mato o projeto, desacreditando o sistema. E aí já sabemos para onde vamos: planilhas, microinformática, soluções 'self-service BI' desktop com gráficos que se mexem bonitinhos na mão do negócio, mas sem capacidade de virar algo corporativo robusto... Realmente essa equação é um desafio a resolver, e para isso que estamos aqui! Excelente artigo, Marzo!

Diogo Rocha

Senior MicroStrategy Developer

8 a

Luis Leia

Acredito que o problema é justamente jogar em todas as posições, a TI deveria ter como função apenas o armazenamento, compilação e geração de dados, para que os analistas ao recuperá-los produzissem a informação necessária aos objetivos de cada área distinta, o que resultaria em conhecimento relevante para suas necessidades e tomada de decisão.

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