Caí no golpe do Nubank com um funil de vendas perfeito.

Foram mais de 30 minutos de conversa com o Nubank . Foi uma experiência bem interessante. Um verdadeiro funil de vendas, começando com topo do funil até a conversão final. Foram várias etapas, pessoas e argumentos para convencimento. Com apenas alguns dados pessoais, os golpistas conseguiram contar uma história digna de um estrategista de marca. 

Vou separar o golpe em três etapas: topo, meio e fundo funil. 

Topo funil

Às 17h45 recebo uma ligação de uma URA, um robô, falando que eu realizei uma compra de R$4.300,00 nas Casas Bahia e que se não identificasse a compra, poderia aguardar que um atendente iria me auxiliar a resgatar o meu dinheiro. 

Resolvi aguardar o atendente. Foram mais de 15 minutos aguardando na fila, onde constantemente o robô me informava que "estamos com um alto volume de atendimento, por favor aguarde! logo você será atendido". 

A impressão que tive é: quanto mais tempo eu aguardava mais "confiança" eu sentia, pois se fosse golpe os contraventores iriam querer atender rapidamente para tirar o meu dinheiro. 

Fiquei na linha, pagando pra ver. Em certo momento fui atendido pelo Renato, que com seu bom português, informou meus dados de CPF, nome da mãe, número de telefone e pediu para eu anotar o protocolo. Também pediu para eu confirmar alguns dados como os quatro últimos números do meu telefone. 

Meio funil 

Realizada a verificação dos dados, o Renato começou a explicar que minha conta havia sido invadida e que tinham realizado uma compra de R$ 4.300,00 nas Casas Bahia. Além da compra nas Casas Bahia, os invasores tinham solicitado um empréstimo no valor de R$ 5.000,00 da minha conta Nubank. Após passar essas informações, o atendente pediu para aguardar na linha que iria validar outras informações. Aguardei. 

A partir desse momento, tomei consciência do tamanho do problema, com o atendente falando de forma concisa e direta, com um ótimo portugês e a ligação com excelente qualidade. Fiquei aguardando na linha. De tempos em tempos o Renato solicitava para eu aguardar que logo iríamos resolver o problema. 

Depois de alguns minutos o Renato voltou e pediu para acessar meu app do banco. Fui seguindo os passos que comentava. Ele me pediu informações de quanto eu tinha de crédito liberado na seção "empréstimo" pois foi aí que os invasores resgataram o valor total disponível. Fui informando os valores que não eram reais, obviamente, e o Renato me confirmava todos os dados. Dizia "exatamente Sr. Fernando, os dados estão batendo, fique tranquilo que vamos resolver o seu problema". Em diversos momentos o atendente me perguntava se aconteciam comportamentos estranhos do app; se recebi algum SMS com algum código estranho, deixando a entender que eu poderia ter caído em um golpe. 

Depois de mais alguns minutos o atendente falou: "Sr. Fernando, obrigado por aguardar. Como o seu caso é do setor de empréstimos, vou transferir a sua ligação para a gerente da conta, ok?" Eu aceitei e aguardei por mais uns 5 minutos na linha. De tempos em tempos o Renato voltava na ligação dizendo que a gerente logo iria me atender. 

Fundo funil 

Finalmente chegou a minha vez! O Renato comentou que iria transferir a minha ligação para outro número e que iria acompanhar a resolução do problema junto ao gerente de contas. 

Depois de alguns minutos a gerente me atendeu. Não recordo o nome dela, mas aqui vou chamar de Paula. A Paula começou a conversa, comentando que iríamos resolver o problema. Seu ótimo português também chamou a atenção. Inicialmente ela confirmou todos os dados (Nome, CPF, telefone, e-mail, nome da mãe…) e pediu para eu explicar como era o meu comportamento com o cartão de crédito. Se era costume utilizar por aproximação; se tinham outras pessoas da família que utilizavam o cartão…. Depois de compreender o comportamento ela comentou que iniciaria o processo de proteção da minha conta, principalmente os R$ 5.000,00 que foram retirados de empréstimo. 

Nesse momento eu comentei "ok, mas como eu faço para resolver o meu problema? Tô preocupado que vou ter que pagar R$ 5.000,00 de empréstimo". A Paula comentou que iríamos resolver logo, só faltavam algumas etapas. A minha pseudo gerente finalmente falou "agora vamos iniciar o processo de segurança da sua conta, ativando novamente o token anjo, que vai proteger sua conta e devolver o seu dinheiro. Para ativar o token anjo, um robô vai entrar em contato com o seu whatsapp e é só seguir as etapas que vou te orientando via telefone". Sim! Depois de iniciar o golpe através de um robô, falar com 2 atendentes, volto a resolver o meu problema com um robô. *gênios. 

Aguardei mais alguns minutos e o robô finalmente me chamou. 

Aqui vai o print da minha conversa com o "robô". Notem na construção das etapas, me levando ao fundo do funil. Ao mesmo tempo em que recebia as mensagens do "robô" a gerente continuava orientando quais passos eu deveria seguir para ativar a minha proteção e reaver o dinheiro de volta.   

Na última mensagem da conversa a gerente me orientou a copiar e colar o código, que enviaria o dinheiro retido para a conta do Nubank que protegeria os recursos da conta em uma conta de segurança do Nubank.

Notem o cuidado com a imagem de perfil, título e nome. 

Copiei e colei o código no app do Nubank e a gerente de contas acompanhou e orientou todo o processo. Notei que ela ficou mais incisiva nos últimos minutos na ligação, criando um senso de urgência para realizar a operação, utilizando a escassez como artifício de conversão. Por fim comentei com a gerente que tinha feito a transferência do valor solicitado e gostaria de saber quais seriam os próximos passos. Ela começou a ficar nervosa, pois não localizava o valor da transferência. Claro, não realizei a transação, obviamente. A Paula, minha gerente, começou a me questionar se eu não realmente tinha feito a transferência, pois não a localizou. Ainda pediu o comprovante pelo whatsapp. 

Ficamos no impasse até eu comentar "parabéns pelo processo do golpe, vocês foram insistentes e construíram várias etapas para convencimento". A Paula ficou em silêncio e caiu na risada falando "eu sabia! eu sabia! Estava muito fácil para ser verdade. Até comentei com os meninos aqui que estava achando muito estranho". Perguntei se muitas pessoas caiam no golpe. Ela me confirmou que sim e que nem sempre é tão demorado quanto o nosso papo. 

Lamentei com ela, dizendo que tiram dinheiro de pessoas que às vezes nem tem. Ela me ignorou e continuou rindo. *Nesse momento já escutava a risada de fundo, dos comparsas. 

Depois de rir mais um pouco me deu boa noite e desligou. Estou até agora refletindo sobre toda essa mobilização, pelo lado do golpista, em criar as contas, pensar nas mensagens, criar as estratégias de argumentação e conseguir levar as pessoas ao fundo funil. 

Se utilizarem a estratégia em qualquer trabalho que não seja enganar as pessoas, se dariam bem ou não. Por aqui ficam as perguntas: 

• Será que eles tiveram um coach? 
• Onde conseguiram meus dados? 
• Quando horas por dia ficam aplicando os golpes?
• Qual será a taxa de conversão do funil? 
• Como eles mensuram o ROI dos golpes? Será que mensuram? 
• Como fazem a divisão do lucro? 

Também não sei. Já caiu em um golpe? conta.