Cabeças 4.0 - em busca da superação
Future Skills

Cabeças 4.0 - em busca da superação

Atravessamos momentos particularmente difíceis, complexos e acima de tudo imprevisíveis. Às pessoas, organizações e aos seus gestores é exigida hoje uma enorme coragem para resistir e fazer frente aos terríveis desafios económicos e sociais que atravessamos. A sobrevivência das organizações, antes designada com o termo competitividade, é hoje marcada com a exigência de tomar decisões e actuar perante a incerteza de novos factores que surgem diariamente, totalmente desconhecidos e imprevisíveis. No entanto, não tomar decisões e não agir será fatal (url, 2019).

A mitigação do risco sempre foi um dos primeiros desígnios da gestão, promovendo-se assim as iniciativas que permitissem aumentar a previsibilidade dos resultados. Estas medidas eram contrárias a inovação e à concepção de novos modelos de negócio, pois qualquer inovação encerra um significativo risco. Mas será que estes pressupostos se mantêm válidos após um contexto de pandemia, em que a incerteza impera? A resposta é não!

A realidade que vivemos surgiu de forma totalmente inesperada, alterou dramaticamente o contexto e abalou algumas definições estruturais, como o conservadorismo favorável à previsibilidade e contrário à inovação. Estes são tempos governados pela incerteza e por uma necessidade extrema de inovação e de recriação de modelos de negócio e de operação das organizações.

Proponho e descrevo as 5 competências essenciais dos profissionais e dos gestores em organizações, conferindo-lhes assim a estrutura mental necessária para enfrentar os actuais desafios, e seguirem no caminho da reconstrução com resiliência (“future skills”):

1.     Colaboração

2.     Comunicação

3.     Digital

4.     Aprendizagem constante

5.     Iniciativa

 

1. Colaboração

Vivemos em confinamento, com trabalho remoto, forçando as equipas a trabalhar à distância. Levantam-se novas barreiras que dificultam ainda mais a necessária colaboração a uma gestão eficaz e à produção de resultados. Novas formas de colaboração devem ser asseguradas, proporcionadas por tecnologia que permita reduzir as barreiras físicas e encurtar as distâncias. A internet hoje suportada em banda larga com fibra óptica leva a nossa casa os meios necessários de trabalho com características semelhantes às existentes no local de trabalho, igualmente rápidas e seguras.

No entanto, a vontade de partilhar e de colaborar com os outros está dentro da cabeça de cada um de nós. Se essa vontade não existir, de nada servem os meios tecnológicos disponíveis, permanecendo sem utilização. A chave para uma colaboração eficaz está então dentro das nossas cabeças e depende da nossa vontade. É necessária uma mente aberta e verdadeiramente livre de preconceitos para conseguir colaborar com os demais e superar-se a si própria.

2. Comunicação

Uma comunicação eficaz permite alcançar o máximo potencial de uma equipa de trabalho, maximizando as sinergias, o alinhamento de espectativas, os objectivos, estratégias e a produção de conteúdos. Sendo a comunicação uma necessidade em qualquer contexto, mesmo anterior ao estado de calamidade, torna-se ainda mais relevante num contexto de colaboração à distância, em que as equipas são forçadas a dialogar menos, adoptando canais alternativos escritos ou vídeo conferência. Quando a dimensão das equipas aumenta, as dificuldades de comunicação também aumentam, ocupando uma parcela muito relevante de tempo, sendo este um recurso escasso e necessário á produção.

É por isso fundamental que os gestores tenham uma elevada capacidade de comunicação, com clareza, assertividade e elevado poder de síntese. Devem reduzir as mensagens ao estritamente essencial, de forma transparente e clara, sem segundos significados ou interpretações, pois não existe o tempo nem a possibilidade de os corrigir.

3. Digital

Os canais digitais são actualmente uma obrigatoriedade para a comunicação e para a gestão, promovendo ao grau de analfabetos todos os que não os consigam utilizar com eficácia. Não existe o tempo para atravessar o Cabo da Boa Esperança e levar uma mensagem de Lisboa a Cebu quando um email demora apenas alguns segundos. O acesso a informação e a indicadores de apoio à decisão facultados por meios digitais, representa um diferenciador critico na tomada das decisões certas e na definição de estratégias ganhadoras.

Torna-se assim fundamental que os gestores procurem adoptar os canais digitais antes de qualquer outra alternativa e mobilizem as suas equipas a fazerem o mesmo. Este será um diferenciador que se traduz em redução de custos, em enormes ganhos de eficiência e numa poupança significativa do tempo necessário, quando comparado com uma abordagem tradicional sem suporte tecnológico. Os ganhos obtidos por via da simplificação e os aumentos de velocidade podem ver os seus efeitos multiplicados pela adopção de inovação de base tecnológica. Os humanos têm muito a beneficiar em todas as actividades de pura execução ou mesmo de decisão, recorrendo a tecnologias como IA/ML, libertando assim uma parcela significativa para actividades de análise e definição (estratégia, arte, ciências criativas).

4. Aprendizagem constante

A aprendizagem permite identificar as lacunas de conhecimento que motivam novamente o estudo e a nova aprendizagem. Mais ainda, apenas alcançando níveis mínimos de literacia em algumas disciplinas (matemática, tecnologia, línguas, entre outras) se torna possível construir os alicerces necessários para, em cima desses alicerces, continuar o percurso de aprendizagem. Como exemplo, o estudo avançado de análise de dados ou de análise matemática apenas é possível aos alunos que concluíram com sucesso os níveis anteriores de conhecimento obtidos no ensino secundário. Outro exemplo será a utilização de plataformas digitais para conferências à distância tão usadas agora em momentos de confinamento, que continuam a ser impossíveis de utilizar pelas populações mais idosas ou por todos aqueles que não tenham um conhecimento básico do que é a “internet” ou ferramentas como o google (Meet, email) ou o Facebook, às quais adicionamos a computação Cloud e a inteligência artificial (ref, 2018).

O conhecimento gerado e potenciado pelos processos de aprendizagem, tem sido essencial para o progresso das sociedades em todas as suas dimensões, desde a económica, nos transportes, comunicações, medicina, ou mesmo em termos da organização social. Este caminho de progresso apenas tem sido possível por via da aprendizagem constante e pela paixão da leitura que é um verdadeiro acelerador deste processo. Uma pessoa que gosta de ler tem igualmente uma maior disponibilidade mental para aceitar a inovação e o conhecimento proporcionado por outros, sendo também mais inovador e mais ágil nos processos de mudança.

5. Iniciativa (Drive)

Os tempos que vivemos não são compatíveis com a inercia ou dormência. É tempo de acção e de tomar a iniciativa, de assumir riscos e de mobilizar todos os que estão em nosso redor. Esperar por melhores dias ou aguardar por melhores condições é desfalecer e agonizar, até que os últimos recursos de que dispomos se esgotem. Várias das recentes mudanças serão permanentes e muitas das fontes de receita até á pouco existentes jamais voltarão. Como digo com frequência “a sorte dá muito trabalho” e apenas poderá existir “sorte” para aqueles que a procuram. Umas vezes falhamos em processos de inovação em que tomamos a iniciativa ou experimentamos, mas outras resultam naquele sucesso que compensa largamente várias das tentativas falhadas que lá fomos encontrando ao longo do caminho que percorremos.

Olhando um pouco para factos históricos, observamos que as espécies hoje dominantes tomaram algures no passado a iniciativa e assumiram riscos sérios de sobrevivência, como o “Homo Sapiens” que começou o seu percurso em África e veio progressivamente conquistando as demais espécies, incluindo de animais de grande porte e levando muitas dessas espécies á extinção.

A capacidade de iniciativa e de incentivar outros, por vezes também designada por “Drive”, é o motor do empreendedorismo e de várias importantes conquistas, sendo muitas delas disruptivas e de enorme impacto nas gerações futuras.

 

***

Uma “Cabeça 4.0” resulta assim num ser humano colaborativo (Team Player), excelente comunicador e que consegue transmitir as suas ideias aos outros com facilidade e assertividade, utilizador compulsivo das tecnologias e da várias inovações tecnológicas, que gosta de ler e de aprender todos os dias, que toma para si a iniciativa de propor e construir novos projectos e novas soluções para os problemas que encontra (Drive), com grande coragem e sem medo de falhar saltando de derrota em derrota até à vitoria final, mas que ainda assim consegue ajudar os outros, ajudar a sua equipa, a sua família e ainda consegue respeitar o ambiente, vivendo em harmonia com a natureza e com as demais espécies.

Podemos facilmente recordar algumas mentes 4.0 da actualidade como António Horta Osório (Banca), Teófilo Ribeiro Leite (ICC, Calçado), Paulo Pereira da Silva (Renova, Papel), Paulo Rosado (Outsystems, Tecnologia), João Barros (Veniam, Transportes), Nuno Fonseca (Sound Particles, Multimedia), Ricardo Santos (Heptasense, AI@Video), ou mesmo o Padre António Vieira no seculo XVII (filosofo e escritor, universo literário Português) e Vasco da Gama no seculo XV, sendo injusto por não mencionar muitos mais, mas não temos o tempo ...

O principal inimigo está dentro de nós e pode vencer, se aceitamos a passividade, mas também reside dentro de nós a capacidade de reagir e de promover diariamente cada uma das cinco características que enumerei. Podemos caminhar devagar, mas se persistirmos e continuarmos a caminhar um pouco todos os dias, com auto-estima e ambição, conseguiremos elevar a nossa cabeça ao patamar “4.0” e alcançar novas metas, antes inimagináveis.

 

-- Jorge Gamito Pereira

2021.05.20

Ricardo Artur Ribeiro

25+ Years of practice, Lecturer and innovator in Digital Transformation and Financial Technology. PhD candidate.

1 a

Que excelente artigo Jorge Gamito Pereira

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