Cenários mutantes – como traçar estratégias em situações de cenários mutantes

Neste artigo explico resumidamente o que caracteriza um cenário mutante, o tipo de “criatividade” que precisamos aplicar para a tomada de decisão e, por último, abordo três recomendações para fazer deste cenário uma oportunidade de transformação e crescimento.

Cenários mutantes são caracterizados por períodos de alterações súbitas que impactam e transformam profundamente uma situação conhecida e dominada. Acontecimentos geopolíticos de alcance global, como a Segunda Guerra Mundial, o 11 de setembro de 2001, os avanços tecnológicos digitais e atualmente o Corona Vírus são exemplos de tempos mutantes de grande impacto, que modificaram nossa dinâmica diária e provocaram o redesenho da malha social.

Em outro nível, cenários mutantes também afetam os ecossistemas dos mercados e das empresas; a obsolescência de uma tecnologia, a fusão de grandes grupos ou o desafio de enfrentar a entrada de um novo e poderoso concorrente são intempéries que forçam grandes mudanças, alterando a forma como os negócios são geridos e gerenciados.

E como lidar com cenários mutantes? A resposta talvez tenha origem no uso e na aplicação diferenciada da criatividade. O polêmico teórico da física quântica indiano, Amit Goswami, em seu livro “Criatividade Quântica” apresenta dois tipos de criatividade: a Situacional e a Fundamental.

A Criatividade Situacional é geralmente aplicada na resolução de problemas cotidianos e aparentemente previsíveis em que as respectivas resoluções não alteram o ambiente ou o contexto. Nesse caso, a criatividade garante o bom funcionamento do status quo vigente.

Já a Criatividade Fundamental é disruptiva e é utilizada na resolução de problemas extraordinários. Essas decisões, resoluções e aplicações alteram seu contexto de origem e estabelecem novas relações com todos os agentes envolvidos.

Em tempos de cenários mutantes devemos aplicar a criatividade fundamental, desafiando todos os processos e práticas da organização. As mudanças geradas por esta abordagem em uma organização não acontecem organicamente, para que elas ocorram é importante que os seguintes princípios sejam seguidos:

1- Formação de um Gabinete de Crise | O líder deve formar um pequeno e dedicado time multifuncional: o Gabinete de Crise. Tal Gabinete tem autonomia para se mover durante a crise, tornando-se   responsável por decidir e executar a nova estratégia, evitando assim a complexidade burocrática das organizações. O Gabinete de Crise forma assim uma estrutura de governança mais ágil e moderna.

2- Decisões baseadas em fatos | Apesar das incertezas existentes em tempos de profundas transformações, é fundamental que todas as decisões sejam baseadas nos fatos mais recentes e não em especulações. Com olhar detector, tais fatos devem ser constantemente monitorados e atualizados e as análises devem ser sistemáticas. Essa atualização constante construirá os contornos dos cenários mais prováveis.

3- Garantir a implementação |  Estratégias geradas para cenários mutantes competem com a inércia e com a “segurança” de conduzir a empresa como business as usual. Tal comportamento gera resistências que atrasam a implementação das decisões necessárias. A implementação das ações que compõem a nova estratégia deve ser provocada e não democraticamente implementada. O processo decisório é centralizado no líder e em seus aliados do Gabinete de Crise, composto por representantes de todas as áreas vitais da empresa.

Portanto, quando estamos em pleno cenário mutante flexibilidade é fundamental, porque só há uma certeza, a estratégia vai mudar. Execute com vigor, mas não se apegue à solução encontrada. Adote o princípio: “esta é, por enquanto, a melhor visão (e resolução) que temos sobre o desafio enfrentado. Amanhã veremos”.