Caminho de Volta
Em 2016 eu ainda cursava uma pós-graduação em Inovação Social no Amani Institute, quando alcancei alguma clareza sobre o que eu gostaria de fazer e no que eu desejava me tornar.
Como a sonhadora que sou, sonhei grande: quero trabalhar com Educação para transformação e vou me tornar Ministra dos Direitos Humanos. O plano estava traçado e a partir dali a única convicção que eu tinha – e ainda tenho – é a de que precisaria estudar e me preparar muito para chegar aonde pretendia.
Na época, ainda estudando, decidi que aplicaria para o mestrado também. Comuniquei a minha decisão à minha querida professora Ilaina Rabbat, que depois de celebrar e me encorajar, me alertou: “Gabi, se o propósito é se tornar Ministra dos Dir. Humanos no Brasil, não será só um mestrado ou doutorado que te levará até lá, mas a rede de contatos que você cultivar.” A mensagem foi clara: num país como o Brasil, o compromisso com a profundidade e a responsabilidade por se manter em constante formação nem sempre são requisitos para ocupar espaços de poder, sobretudo na política. Essa fala sempre me acompanhou e desde então vem norteando as minhas escolhas.
Decidi seguir a minha convicção e parti para o mestrado. Com uma bolsa 100% subsidiada pelo Governo Britânico, em 2018 conclui o mestrado em Direitos Humanos na London School of Economics and Political Science. A primeira da família a conquistar um título desse, a estudar fora do país e a chegar mais longe do que qualquer um de nós pensou que seria possível. Na formatura, agradeci muito e me lembrei da fala de um chefe, que certa vez disse que meu “inglês era medíocre” e me fez ter certeza que era hora de buscar excelência em outros espaços. Aprendi muito e quanto mais eu aprendia, maior era a sensação de que eu não sabia o suficiente.
E num ano tão conturbado quanto 2018, fui me afogando nessa silenciosa sensação de insuficiência, incapacidade, mediocridade. O debate eleitoral acalorado me chamou para a responsabilidade de compartilhar o que eu sabia. Mas quem disse que alguém se interessava pela minha opinião sobre discursos discriminatórios, violações de direitos e veiculação de fake news? O meu título acadêmico – tão sonhado e celebrado - me rendeu não mais do que uns poucos minutos de atenção. Minha experiência em campo, como advogada e empreendedora social, muito menos.
E quem diria, que mesmo ali, tão além do que eu imaginei chegar, eu escolhi me recolher. Fui pega pela cilada da escassez e aceitei ocupar o lugar do silenciamento e – quase – invisibilidade, sob o pretexto que não queria ser “mais uma” falando de coisas que ninguém quer ouvir. Fui parando de escrever, de compartilhar, de postar, de conversar. Segui trabalhando em campo, criando projetos dos quais me orgulho muitíssimo, mas que poucos sabem do que se tratam – só aqueles que perguntam ou vivenciam. Fui me acostumando a esse lugar despercebido e cedendo cada vez mais um espaço que poderia caber a mim.
E tudo ia relativamente bem, até o chamado global para #FicarEmCasa. Os projetos foram suspensos, as reuniões canceladas, os cronogramas interrompidos e a expetativa de renda frustrada. Educação em Direitos Humanos, Cultura de Paz e Engajamento Social não é prioridade agora...mas imagina se a gente tivesse começado bem antes? Seria justamente essa a educação que serviria como antídoto para atravessar momentos como este com mais consciência individual e responsabilidade coletiva? Eu acredito que sim.
Por isso, depois de um longo tempo afastada da escrita e das redes, sinto que é hora de voltar a compartilhar o que me parece relevante. Sem pretensão de que o seja para todo mundo, mas com a intenção de que sirva, de alguma forma, para incrementar reflexões mais profundas e comprometidas com um mundo em transformação. Também vou me permitir arriscar com mais vídeos e lives (#medo), além de me colocar à disposição para receber dicas e sugestões sobre como me apropriar das ferramentas digitais.
Todo esse relato para justificar que às vezes é preciso atravessar o inimaginável para buscar coragem e novas formas de se reinventar e se colocar a serviço do outro. É bom se ausentar, mas também é muito bom percorrer o caminho de volta. Todo mundo é suficiente sendo o que já é e que a gente possa seguir com humildade para reconhecer a nossa constante insuficiência como motor de colaboração e compartilhamento. Afinal, já diria o Papa Francisco, “ninguém se salva sozinho”.
CEO Grupo Mulheres do Brasil
4 aFeliz por ter sua imprescindível fala das redes novamente
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4 aGabi! Que incrível de ler! Eu agradeço muito a partilha e chegou aqui como um abraço! Seguimos!