A caminho do mundo digital

A caminho do mundo digital

Olá pessoal, boa semana a todos. As últimas vezes que me atrevi a escrever artigos no linkedin acabei me decepcionando com o número de visualizações. Como diz aquele cancioneiro popular que após cantar uma canção recebe pouquíssimos aplausos, são poucas, mas são sinceras!. Brincadeiras a parte, como acredito que o mais importante do que visualizações é compartilhar conhecimentos, experiências, realizações e frustrações continuo minha saga de escritos. Espero que sirva para sua reflexão.

Quase que todos os dias, percebo a imposição de uma narrativa de mundo digital. Constantemente sou bombardeado por meio de email-marketing, vídeos, banners digitais e até artigos como esse, com a ideia central de um futuro maravilhoso que já chegou. A realidade “high-tech” parece que veio para ficar. São smart-cities, comandadas por machine learning, via internet of things em um mundo de bit coins, todo ele suportado por blockchain. Tudo que existe na internet é armazenado em tempo real em um Big Data. Recebo também um grande volume de ofertas relacionadas com formações e certificações. Nelas me apresentam os mais variados métodos ultra-modernos. Alguns criticando os chamados “métodos tradicionais”. Parece algo enviado dos céus, enfim, uma nova “bala de prata” que resolverá não, já estaria resolvendo todos os meus problemas. É tanta “novidade” que nem qual o design thinking terei que fazer primeiro.

Mas é só começar o dia e percebo o quão longe estou dessa realidade que tentam me “vender”. Começa pelo despertador. Toca a música, no volume, com intervalos enfim do jeitinho que eu quero. Só que por um acaso um dia desses fiquei sem energia elétrica. Logo, nada disso funcionou. Levantei, corri na pastelaria para comprar algum pão e a máquina de cartão não funcionava. Sou obrigado ir a um terminal de auto atendimento (ATM) para retirar o dinheiro. Mas, para o meu azar, o ATM está sem dinheiro. Precisei ir a um terminal ainda mais longe. Após tirar o dinheiro, comprar o pão, beber o café, fui a estação de comboios (trens aqui em Portugal). Tudo ok com o ecrã aonde acompanho a previsão das viagens, mas, por um acaso alguém resolveu pular na via e o comboio se atrasou. No ecrã nenhuma menção sobre este evento e o consequente atraso do comboio. Como eu e o comboio nos atrasamos, para ganhar tempo solicitei um serviço de motorista TVDE, o popular Uber aí no Brasil. Nos horários de pico a demanda por esse tipo de serviço aqui é bem alta e tive que esperar pelo menos uns quinze minutos até um motorista chegar e me levar até o meu destino.

No trabalho mais uma amostra de como mundo digital está tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Vejo máquinas e equipamentos que poderiam ser configurados para realizar uma série de trabalhos repetitivos e sem sentido. Mas, o fabricante não permite o uso deles no regime automático. Ainda tem o sindicado tentando impedir qualquer mudança com o argumento de que tal medida acabará com todos os empregos. A competição da moda são documentos digitais versus documentos físicos. Os segundos ainda vencem, com uma vantagem menor do que já tiveram no passado em relação ao primeiro. Isso graças a legislação que ainda não reconhece totalmente a assinatura digital. E os processos de negócio? Isso como diziam no Brasil são como “cabeça de bacalhau”. Todo mundo diz que existe, mas ninguém nunca viu. Procurei, procurei e procurei de insanamente por eles, mas, só consegui achar sinais, rastros de trabalhos organizados em conversas que tive diretamente com quem os executara. E tal propalado “foco do cliente”? Todos com quem conversei disseram ter “foco total no cliente” como se fosse a mesma coisa. Me disseram que usando esta estratégia fica mais fácil alcançar as metas que a equipe vendas estipulou. Alguns funcionários desse cliente me disseram estar exaustos dada a quantidade de horas que trabalharam. Pedem constantemente melhorias, nas condições de trabalho, mas até agora, nada. Fui investigar para entender o porquê de tanta reclamação deles e o que descobri? A arquitetura de aplicações tem lacunas gravíssimas, é cheia de remendos e os chamados “puxadinhos” que funcionam com um produto, mas não funcionam com outro. A arquitetura de tecnologia que suporta tais aplicações é de “última geração”, com um monte de ficheiros (como chamamos os arquivos aqui Portugal) integrando dados em um vai-e-vem frenético, sendo que muitos são integrados de forma manual. Me recordo daquela narrativa disruptiva com os dizeres: “- Esse novo século não é a continuação do século passado! É uma ruptura.” Como é que pode isso? Como aprendi a dizer por aqui já fiquei baralhado.

Em minha sincera opinião esse “mundo digital” ainda vai demorar um pouquinho para entrar “trilhos”. Não basta empurrar goela abaixo estupendas tecnologias disruptivas se o ambiente que o cerca não está preparado para absorvê-las em toda a sua plenitude. Eu sei que muita gente não vai gostar, mas pra chegar até o tal mundo temos que pensar na transição até lá.

No alt text provided for this image

  Figura 1 – Estados da mudança

Apesar da evolução que alcançamos ainda nos encontramos em um estado embrionário quando pensamos naquele futuro “high-tech” cheio de tecnologia que descrevi lá em cima. Provavelmente nossa transição ocorra em patamares e não exponencial como muitos tem afirmado.

No alt text provided for this image

  Figura 2 – Gráfico de função exponencial

Talvez uma curva aritmética tendendo ao exponencial com patamares cada vez menores. Ou seja antes de passarmos ao próximo passo da mudança rumo ao mundo digital será necessária uma pequena estabilização que tenderá a tornar-se cada vez menor antes do avanço rumo ao próximo passo. É o que consigo enxergar nesse momento. Desculpa a sinceridade, mas, o resto em minha opinião é “futurologia”. Logo, penso que nossa transição não será tão rápida como alguns “tarados pelo desenvolvimento” preconizam e nem tão lenta como alguns devem ter imaginado que seria minha opinião quando começaram a ler este artigo.

No alt text provided for this image

  Figura 2 – Gráfico de uma função crescente com patamares

Admitindo que antes deste mundo fantástico que vendem por aí, exista a necessidade de se pensar em uma transição ao mundo digital algumas questões fundamentais precisarão ser respondidas:

1.      Que tipo de cultura será necessária nesse mundo?

2.      As pessoas estarão plenamente adaptadas para viver lá?

3.      Que tipo de capacidade será requerida?

4.      Quem irá capacitar as pessoas para sobreviver?

5.      Haverá algum roteiro para a transição ou ela será reativa como nos dias atuais?

Se vamos todos viver em uma economia onde os bens se transformarão em serviços a partir de recursos compartilhados, como ficará o conceito posse, uma vez que continuamos a fomentá-lo como se tal futuro não existisse? Nossas instituições já preparam pessoas para tal conceito de vida nos dias atuais? Como as pessoas sobreviverão em uma sociedade com esse tipo de cultura? Haverá trabalho para todos ou permaneceremos nessa silenciosa e cruel exclusão social?  Será como nos dias de hoje aonde somos descartados do mercado de trabalho depois que atingimos um limite de idade? A legislação será a mesma? Que tipo de profissão existirá se cerca de 90% do que fazemos hoje será absorvido por máquinas com inteligência artificial? As formações serão como na atualidade? Existe uma projeção ao menos de como deve ser o roteiro da sociedade ou vamos evoluindo de forma reativa no famoso “quem grita mais, chora menos” como na atualidade? Essas perguntas aparecerão sempre que se tenta responder as questões fundamentais que listei acima. Provavelmente ainda não existam respostas para todas elas.

É bem possível que após esta explanação, você tenha sido contaminado pela minha visão mais “pé no chão” e também esteja achando que essa história de que a economia do século XXI (vinte e um) é uma rutura em relação a economia do século XX (vinte) é mais uma daquelas histórias que estão muito mal explicadas. Como está na moda dizer não passam de “fake news”. Calma! Nem ao céu nem ao inferno. Chamo a atenção apenas para o modismo que junto com estas ondas que prometem ser a nova “bala de prata” para sua vida podem desaparecer com a mesma velocidade que apareceram. Tenha consciência que um processo de mudança que é o que vivemos na atualidade não se faz só com jargões de negócios, tecnologias de última geração e cursos com técnicas revolucionárias. Mudança bem-sucedida precisa do comprometimento da maioria ou não se realiza em sua plenitude. Havendo o entendimento e aceitação da maioria a contribuição para a mudança torna-se natural. Quando se pula alguma destas etapas o resultado é quase sempre diferente do que se espera. E isso vale até mesmo para o mundo digital. Um abraço e até a próxima.

@fabiosanchez

29/10/2019

Samuel Gimenez

Engenharia de Projetos e Automação na C.A.S.T. Comercio Automação e Serviços de Tecnologia

5 a

Grande camarada....escrevi várias coisas pra você mas se perdeu. Outra hora te mando alguns informativos interessantes pra vc considerar em suas análises...!!! Abraços!!! ;)

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Fabio Sanchez

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos