Capim-dourado

Capim-dourado

Nossa intenção era visitar o Cânion do Cipó, na estância Favo de Mel - complexo do Bateia – Serra do Roncador – Barra do Garças MT. Muito lindo o lugar. Valeu a pena demais. Mas o caminho – o percurso em si – reservou vários outros encantos, entre eles encontrar uma vereda com capim-dourado. Sim, capim-dourado aqui no nosso cerrado mato-grossense!

Recentemente visitei o Jalapão (Tocantins) e lá conheci toda a riqueza de artesanato produzido com esses fios dourados da Syngonanthus nitens, ou melhor, dessa sempre-viva, cuja haste brilha em tons de ouro que reluzem ao sol, e no seu ápice brota uma pequena flor branca. Com habilidade e criatividade, é matéria prima para confecção de bijuterias, chaveiros, bolsas, chapéus, decoração e diversas outras coisas.

Uma verdadeira preciosidade do Cerrado. Desconhecida por muitos (inclusive por mim até um mês atrás), é fonte de trabalho e renda para centenas de pessoas (ou milhares, talvez) em Tocantins. Disseram-me que esse artesanato começou com os índios Xerente e, no início do século XX, foi aprendido por moradores da comunidade quilombola da Mumbuca. Desde então, é passada de geração em geração.

Esse fato me fez pensar no quanto de coisas boas o nosso lugar, a nossa terra oferece, e não sabemos dar valor. Riquezas em forma de alimentos, de remédios, de utilidades inúmeras, ou para pura contemplação, e que se perdem por aí, simplesmente porque não nos damos ao trabalho de os conhecer, perdemos o hábito de ser curiosos. Sabedorias ancestrais que são deixadas de lado, substituídas pela cultura do “moderno”, do “importado”. Pagamos caro para coisas vindas de fora, de outros continentes, e perdemos oportunidades de fazer com que aquilo é nosso, que existe em abundância aqui, seja transformado em fonte de trabalho, renda e orgulho para nossa gente.

Mas voltando ao capim-dourado: fiquei bem feliz em encontrá-lo. E quem estava comigo naquele passeio também ficou. Tivemos a oportunidade de vivenciar o belo e isso nos fez sorrir. Manoel de Barros já dizia: “Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós.” Assim seja! 

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