Capitalismo dos Stakeholders pelo fim da oposição entre negócios e sustentabilidade
Não se trata apenas de fazer a coisa certa, trata-se de fazer negócios.
A importância de se investir em sustentabilidade não depende mais da consciência ambiental de cada um, ela influencia diretamente nos investimentos e no crescimento das organizações.
O mundo pós-pandêmico é um mundo muito mais preocupado com propósitos e princípios. No entanto, a partir de 2020 ser protagonista em mudanças globais tornou-se indispensável para corporações que pretendem crescer com consistência daqui pra frente.
Isso aconteceu por um simples motivo: o esforço comum em cumprir regras sanitárias para salvar vidas despertou a consciência e a responsabilidade das pessoas. A ideia de que somos todos responsáveis pelo bem comum intensificou os sentimentos em torno das agendas de sustentabilidade. Essa tomada de consciência está bem expressa no esforço coletivo intitulado “década da ação”, no qual os países signatários da ONU são chamados a atender as 169 metas dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos em 2015.
Consciência ambiental em ascensão
Em que medida isso afeta o mundo empresarial?
Nos últimos tempos, assistimos resultados graves da falta de consciência ambiental no planeta: icebergs maiores que a cidade do Rio de Janeiro se desprendendo da calota polar, desmatamento ilegal e queimadas desenfreadas dos biomas brasileiros, crises hídricas, etc. E a preocupação em frear esses impactos se tornou parte consciente de uma agenda comum.
Segundo a pesquisa Earth Day 2019, realizada pelo Ipsos, mais da metade da população brasileira tem o desmatamento como prioridade ambiental, seguida por poluição das águas e tratamento de resíduos. E de acordo com a pesquisa realizada pela consultoria PwC, 95% dos brasileiros se sentem mais inclinados a consumir produtos e serviços relacionados a um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, idealizados pela ONU.
Dessa forma, sustentabilidade ambiental caminha para se tornar sinônimo de sobrevivência também no mundo dos negócios. A tendência é que clientes priorizem opções sustentáveis, que os melhores profissionais prefiram trabalhar em empresas que agreguem a esses valores e que investidores levem relatórios de ESG cada vez mais em conta na hora de fechar negócio.
Adaptar é sobreviver
No Global Outlook Report de 2021 da BlackRock, foi anunciado uma nova ordem de investimento na qual a sustentabilidade é considerada elemento chave para o futuro empresarial, sem que o retorno financeiro fique em segundo plano. Muito pelo contrário, a previsão é que a emissão de poluentes e destruição do meio ambiente sejam cada vez mais alvos de penalidades regulatórias, impostos mais altos e custos de financiamento, portanto não ser sustentável vai te fazer perder dinheiro a longo prazo.
Ou seja, é importante ter em mente que a responsabilidade ambiental deve ultrapassar o âmbito do consumo consciente. Investidores estão cada vez mais interessados nesse aspecto e isso inclui também grandes instituições financeiras. Até mesmo grandes seguradoras como a Swiss Re e outras empresas começam a exigir práticas ambientalmente responsáveis como parte da contrapartida para segurar determinado negócio ou organização.
A Stakeholder Capitalism Metrics Initiative é outro exemplo de como essa questão está sendo tratada mundialmente. Desenvolvida pelo International Business Council (IBC) do Fórum Econômico Mundial, a iniciativa explora um conjunto de medidas comuns que podem ser utilizadas para a criação de valores sustentáveis. Sabendo que mais do que ações imediatistas são necessárias, o seu objetivo é buscar soluções e estratégias para a integração entre o setor corporativo e a sociedade.
Essas soluções giram em torno de métricas e divulgação. “O que pode ser medido, pode ser gerenciado”, segundo o IBC, que, junto com grandes empresas de consultoria, criou uma série de diretrizes para guiar a medição e divulgação de como estão sendo desenvolvidas as ações de sustentabilidade dentro das empresas. É importante que as empresas agreguem confiança, credibilidade e transparência em seus projetos ambientais para poder usufruir melhor dos benefícios que eles trazem.
Por meio dos quatro pilares que sustentam essa iniciativa: Princípios de Governança, Planeta, Pessoas e Prosperidade, busca-se encorajar empreendimentos e empreendedores, dos maiores aos menores, a colocar a sustentabilidade como o coração da criação de valor na empresa de hoje e do futuro, transformando-a em prioridade número zero.
Em janeiro de 2021, 61 CEOs de algumas das maiores empresas do mundo apoiaram publicamente a Stakeholder Capitalism Metrics Initiative. Com isso, a iniciativa do IBC se consolida como mais um instrumento de governança global para mostrar a todos que é possível construir um novo capitalismo enquanto uma força para o bem das pessoas e de todo o planeta.