Caronte pode esperar

Hoje, 31 de Março, completou dois meses que sai do hospital, após 7 dias de internação devido às complicações do COVID.

Foi uma experiência transformadora para mim. Nunca tive problemas de saúde, nem me lembro quando foi a última gripe que peguei.

Problemas de saúde se resumiam, até então, a um cálculo renal que me acomete a cada 2 anos ou ortopédico, por excessos de prática de esportes.

Nesses sete intermináveis dias de internação, sem saber o que poderia acontecer de fato comigo nem de quanto tempo ficaria ali, tive a oportunidade de realizar um reset em meus pensamentos.

Se o pior acontecesse, estaria arrependido profundamente e assim pedia mais uma chance com a certeza que poderia "entregar" mais à vida e seria digno de todo aquele sofrimento.

Ao mesmo tempo, agradecia por ter sido eu que estava passando por aquilo, e não minha esposa, meus filhos ou meus pais.

Me pus a escrever e listar os princípios que sempre orientaram meus pensamentos e atos, buscando os por quês de não estar satisfeito com uma provável partida naquele momento. Não foi uma tarefa simples, mas bastante reveladora.

Sempre que o ser humano passa por uma situação difícil, ele se refugia numa dimensão futura. Comigo não foi diferente. Fiz o plano e me agarrei no futuro, mas algo me incomodava...

É fácil retornarmos aos velhos hábitos quando voltamos "ao normal". Fazemos promessas por sabermos que podemos ser melhores e, de repente, somos engolidos pela rotina, pelas atividades do dia-a-dia, e as promessas ficam como uma vaga lembrança de um dia que conseguimos acessar a projeção da melhor versão de nós mesmos.

Escrever esse texto é o exemplo que estou seguindo o meu plano, tentando inspirar as pessoas a não esperarem passar por uma situação como essa para repensarem suas vidas e buscarem a melhor versão delas mesmas.

Não devemos perguntar qual é o sentido da vida, somos nós que estamos sendo questionados por ela.

E você? Está entregando a melhor versão de você mesmo hoje? Ou está esperando algo acontecer?