Carta aberta às jovens mulheres em início de carreira: como ocupar o seu lugar à mesa

Sheryl Sandberg dedicou um capítulo inteiro do seu livro Lean in - traduzido no Brasil para "Faça acontecer: mulheres, trabalho e a vontade de liderar" -, para nos estimular a ocupar um lugar à mesa. No livro, ela conta um episódio que viveu em uma reunião com café da manhã para um debate, na qual todos os convidados homens serviram-se e sentaram-se à mesa. As quatro mulheres que compunham a equipe de convidados, contudo, foram as últimas a se servirem e sentaram-se em cadeiras em um dos cantos da sala, e não à mesa, ainda que convidadas.

A autora conta que o momento foi um divisor de águas, na medida em que percebeu que, além dos obstáculos institucionais, as mulheres enfrentavam também uma batalha interior, retraindo-se e deixando de assumir o protagonismo para tornarem-se meras espectadoras. Diante disso, uma coisa é fato: é preciso assumir o protagonismo da própria história, avocando o lugar à mesa, ainda que não se seja convidada. É preciso fazer acontecer.

Como, contudo, ocupar o lugar à mesa quando ela parece tão distante? Quando os espaços de debate e de deliberações parecem herméticos? Quando se está no início da carreira?

As informações que vou compartilhar fazem parte do conhecimento empírico que venho adquirindo desde que comecei a trabalhar, há cerca de sete anos, quando tinha dezenove anos e cursava o primeiro semestre de faculdade de Direito, mas especialmente do que aprendi em infindáveis leituras que fazem parte da construção da pessoa e profissional que sou e que me torno a cada dia.

Quando se inicia, seja como estagiária ou mesmo nos primeiros anos de carreira propriamente ditos, dificilmente há convite para a participação dos debates importantes, seja na questão estratégica ou na formação de teses. Fazer acontecer perpassa, primeiramente, assumirmos uma postura altiva, proativa e interessada. Para tanto, seguem as dicas:

1. Não tenha medo da exposição. Sempre que houver oportunidade, apresente suas ideias, seus temas de interesse e demonstre conhecimento sobre assuntos diversos. Na dúvida, escolha enfrentar os desafios e dedique-se ao máximo para vencê-los. Ficar recolhida pode parecer confortável, mas não vai contribuir para garantir o seu lugar à mesa.
2. Não espere as demandas chegarem até você. Estude, aprofunde-se, desenvolva a criatividade e proponha soluções. Ofereça apoio e aproveite a oportunidade para que conheçam o seu trabalho. Promova esforços para fazer parte, e não somente estar presente.
3. Não se restrinja ao seu campo de atuação. Multidisciplinaridade é imprescindível para a proposição de soluções inovadoras. Estude para além da sua área de atuação e leia sobre os mais diferentes temas. Não fique presa ao conhecimento técnico. Procure desenvolver alguma veia artística, tenha domínio cultural, em especial, tenha conhecimentos de literatura, sociologia e política, que fazem parte da construção de todo ser humano e tornam qualquer pessoa muito mais interessante.
4. Pratique networking e faça mentoria. Conhecer pessoas e buscar conhecimento com quem tem mais experiência torna os caminhos menos tortuosos e enriquece nossa formação. Ter com quem contar para sanar dúvidas a respeito de situações com as quais nunca havíamos nos deparado e que possa nos auxiliar a tomar decisões difíceis é precioso. Especialmente no início da carreira, quando tudo é muito novo, precisamos ter em quem confiar para buscar orientação. Tenha humildade e saiba pedir ajuda.
5. Desenvolva sua inteligência emocional, estude oratória e negociação. Na faculdade, aprendemos muito sobre a teoria e pouquíssimo sobre a prática. Evidentemente, ter amplo e profundo conhecimento sobre os assuntos a que nos propomos a trabalhar é primordial. Contudo, para alçar posições mais altas, precisamos nos desafiar e desenvolver outras habilidades. Saber manter a calma para lidar com inconvenientes, falar de forma clara e concisa e ter poder de persuasão é essencial, especialmente no âmbito do Direito. A comunicação é a nossa principal arma, façamos o uso correto dela.
6. Inspire-se e inspire. Ninguém é uma ilha. Nós, mulheres, precisamos ser rede de apoio umas para as outras. Busque inspiração em outras mulheres, seja protagonista e dê o exemplo para as demais. Sempre que puder, inclua as que estiverem ao seu alcance e saiba: a sua postura irá impactar as mulheres à sua volta, especialmente as mais jovens. Tenha isso sempre em mente e aja com responsabilidade.

Tenho, ainda, um longo caminho a trilhar e me deparo todos os dias com situações em que preciso me reinventar. De todo modo, posso garantir que os desafios valem a pena e que compartilhar conhecimento, ainda que ele esteja em construção, faz toda a diferença. Sejamos a diferença que queremos para todas que pudermos atingir, só assim o caminho será menos árduo enquanto coletivo.