Cenários de retomada pós pandemia
As lições que a Pandemia Covi 19 estão deixando acumulam-se em inúmeras áreas, esse artigo propõe, a partir da análise elementos importantes desse evento, uma reflexão acerca das significativas contribuições do estudo de cenários ao longo do tempo para o sucesso das estratégias organizacionais, especialmente, frente a mudanças exponenciais.
Em tempos de inovações tecnológicas e mudanças exponenciais, a eclosão da pandemia do Covid-19 impõe mesmo transformações vagamente antes imaginadas. Parece que se está assistindo a uma série de ficção científica cinematográfica. Parece que não faltam aqueles que se enamoram de explicações incríveis de conspirações internacionais para a dominação do planeta. 1 Quando disputas políticas reais se misturam com problemas complexos, bem, informação e tomadas de decisão podem ser muito negativamente afetadas e piorar ainda mais a percepção de causas e efeitos. 2 3 4
Contrariando conclusões desse tipo, a aplicação de estudos de cenários pode prestar um serviço excepcional à compreensão que o mundo não será o mesmo após a pandemia, mas também que já não era mais o mesmo antes dela começar. Relações pessoais, cuidados sanitários e de saúde, negócios, parece que tudo o que se vinha fazendo precisa e pode melhorar, e sem sombra de dúvidas, ao melhor slogan heraclitiano, continuará mudando.
Os ventos e as correntes marinhas mudam, esteja atendo capitão, você precisa conhecê-los bem para orientar sua tripulação a fazer os ajustes necessários nas velas e no curso. Só que agora mudam o tempo todo, mais rapidamente.
O tipo de mudança que passa a apresentar-se é o exponencial. E mudanças exponenciais são difíceis de ver porque são formadas por um conjunto de lentas e menores mudanças em escalas de tempo incrivelmente longas. Assim, quando o ambiente e os elementos necessários para um salto estão presentes o impacto é absurdamente rápido e, em geral, destaca a desatenção e, ou, o despreparo da maioria. 5
Veja a evolução da pandemia COVID 19, perceber a velocidade do avanço do vírus pelo planeta e seu impacto na vida de um número enorme de pessoas é avassalador. As autoridades chineses reportaram a descoberta do novo coronavírus em 7 de janeiro de 2020, a epidemia já havia se espalhado. Antes mesmo da Organização das Nações Unidas “batizar” a doença COVID 19, mais de 50 mil pessoas estavam infectadas e somava-se quase 1 mil mortos. Em 19 de março, já haviam mais de 240 mil casos confirmados e a marca de 10 mil mortes ultrapassada. 6 A pandemia levou ao isolamento social quase 1 bilhão de pessoas, em 35 países em menos de 3 meses. 7
Estamos vendo a parte exponencial da evolução, parece uma praga bíblica mesmo, ou um ataque alienígena, mas trata-se do desdobramento de uma série de fatores que se desenvolveram lentamente ao longo do tempo. O Brasil experimentou a primeira epidemia em 1563, com a contaminação dos indígenas com a varíola trazida pelos europeus. 8 Estima-se que, no Século XVII, morriam 400 mil pessoas por ano na Europa. 9 Houve um alerta, um sinal de ameaça internacional com a SARS, em 2002/03, e com a MERS, em 2012. 10 Planos para atendimento aos infectados e a atenuação dos impactos na economia passam agora a ser agenda prioritária de líderes em todo o planeta, chovem projeções estatísticas, 11 12 apelam para a colaboração e cooperação, mas não raro, soam como meros lamentos…
Alexander Adler, historiador e especialista em geopolítica contemporânea, descreveu em 2005, com base em um relatório da CIA, Agência Americana de Inteligência, como o mundo poderia ser atingido pela ocorrência de uma pandemia iniciada na China e chamada de SARS Coronavírus. Ler esse trecho hoje chega a ser assustador pela precisão e detalhes relatados, e, especialmente dos fatores causadores. 13
Sim, exatamente como no caso das Torres Gêmeas, 14 as autoridades foram alertadas, e após a publicação dos livros de Adler, todos poderiam saber dos riscos. É exatamente assim que as organizações são surpreendidas por mudanças tecnológicas, sociais, econômicas, político-legais e ambientais. Mudanças que afetam clientes, fornecedores e concorrentes, criam e destroem mercados, impulsionam e tornam obsoletos produtos, geram motores de crescimento, ou transformam em commodities de baixo valor.
O desprezo às mudanças de cenário lembra a historinha do sapo que se jogado em uma panela de água fervente, coloca toda sua energia, pula e salva sua vida, mas se colocado em uma panela de água fria, não é capaz de perceber o aquecimento lento e gradual e acaba morrendo cozido. No caso da pandemia, está sendo difícil pular da panela, talvez porque ele já estava cozinhando há tempos.
Aproveite esse momento e dedique um tempo para analisar os eventos que historicamente mais afetaram seu negócio, observe atentamente o que está acontecendo nos dias atuais e quais os possíveis desdobramentos futuros. Analise como podem ajudar ou atrapalhar seus objetivos. Tenha em mente que não se trata de adivinhação, mas um exercício exigente de reflexão. Baseie sua análise em fatos e dados e se o cenário for complexo, e os problemas estão cada vez mais complexos, desenhe três cenários, um mais otimista, um bastante razoável e um mais pessimista.
Formule ações para cada um deles, aproveite as oportunidades mais promissoras, elimine ou diminua as ameaças mais evidentes. As chances de sair da crise melhor ou, no mínimo, menos pior, serão aumentadas. Tenha em mente que planejamento e monitoramento precisam ser sistemáticos, esteja sempre de olho nas constantes mudanças e tome as medidas necessárias. E lembre:
“Assim é a vida, daqui a pouco a página vira, o cenário muda, novos ventos, nova brisa, novos ares, novos mares.”
Saúde e sucesso sempre!