As cidades inteligentes e o seu impacto nos negócios

As cidades inteligentes e o seu impacto nos negócios

Até a década de 1960, a maioria dos brasileiros ainda vivia no campo. Também havia menos cidades do que hoje e, basicamente, as que existiam eram suficientes para atender às necessidades de todo mundo. Mas a partir dos anos 1970, as coisas começaram a mudar. A industrialização e as melhores oportunidades de emprego levaram muita gente a trocar o rural pelo urbano, o que provocou mudanças profundas na organização do país.

Hoje, mais de 80% da população brasileira vive em áreas urbanas, aponta o IBGE. Junto com a urbanização, veio também outros problemas. Veio uma expansão precária e apressada das cidades. Veio o crescimento desordenado. Veio a falta de planejamento urbano, os engarrafamentos, a favelização, as ocupações irregulares. A desigualdade social. Mas veio também o impulso inesperado para um outro movimento, este bem mais recente: o surgimento das chamadas smart cities - ou, simplesmente, cidades inteligentes.

As cidades inteligentes são o reflexo de um importante ingrediente que não existia nas décadas passadas, mas que pode remediar os gargalos remanescentes da urbanização: a tecnologia. Quando ferramentas tecnológicas se aliam ao planejamento da cidade, a vida de seus habitantes melhora, o acesso a serviços básicos se desburocratiza e o desenvolvimento urbano se torna mais sustentável.

O modelo inteligente de cidade não pretende criar uma superestrutura a partir da tecnologia. Pelo contrário. As smart cities se voltam para melhorar a infraestrutura já existente, buscando responder com mais eficiência às necessidades de seus habitantes. Foi exatamente o que apontou o estudo Cidade inteligente, o essencial para líderes de cidades, feito pelo Institute for Management Development (IMD): em vez de investir em soluções caras, o melhor a ser feito pelos governantes é adotar ações que possam aprimorar o que já existe, em qualquer esfera.

Fazer, por exemplo, o que já é realidade em São José dos Campos, no interior paulista. Em março deste ano, São José se tornou a primeira cidade inteligente do Brasil, certificada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). O título foi concedido após um rigoroso processo que considerou 276 indicadores para detectar boas práticas de gestão que afetam a qualidade de vida da população. Por lá, a tecnologia já está diretamente inserida na dinâmica da cidade: os semáforos são inteligentes, o prontuário médico está unificado em uma rede única, um dispositivo informa os motoristas, em tempo real, onde há maior concentração de vagas livres para estacionar, o transporte público é 100% formado por ônibus elétricos e 100% da área urbana e rural é coberta por lâmpadas LED.

Fora das fronteiras brasileiras, a cidade de Songdo, na Coreia do Sul, é considerada a primeira cidade inteligente do mundo. Uma cidade construída do zero, sob demanda e totalmente controlada pela internet: uma rede sem fio monitora, por exemplo, os sistemas de semáforos, o fluxo do trânsito e o descarte correto do lixo por meio de um mecanismo que aspira os resíduos diretamente das cozinhas e os leva até o centro de processamento através de uma rede subterrânea de túneis.

Ainda que estejam em continentes diferentes e tenham realidades completamente diversas uma da outra, Songdo e São José dos Campos têm muito em comum. Principalmente por um fato primordial: elas entenderam que a tecnologia será inevitável para ajudar no funcionamento das cidades do futuro.

A tecnologia pode melhorar serviços, economizar dinheiro e tornar as operações públicas mais eficientes. Pode promover novos hábitos, economizar o tempo dos cidadãos, impulsionar práticas sustentáveis, reduzir desperdícios, otimizar recursos. Pode programar postes de luz para fazê-los acender automaticamente quando o sol se põe. Pode monitorar o contágio de uma determinada doença e alertar motoristas, em tempo real, sobre vias congestionadas. Pode ajudar gestores públicos a lerem variáveis, como o fluxo do tráfego e o consumo de energia e, com isso, organizar serviços mais alinhados às solicitações e necessidades de seus moradores.

Uma cidade inteligente vai muito além de buscar soluções para amenizar o iminente colapso urbano. Ela também ajuda a atrair investimentos e a impulsionar o desenvolvimento econômico e tudo isso respinga no mundo empresarial. Afinal, as empresas também são parte de uma cidade e essa rede de conexão permite que elas possam crescer junto do seu ambiente e de seu povo. Permite também que possam melhorar seus processos internos, aumentar a produtividade e identificar novos nichos de mercado a serem explorados - que, a propósito, são infinitos.

A tecnologia, já sabemos, existe para servir às pessoas. E, por isso, não pode estar dissociada do espaço público que elas ocupam. Mais do que em qualquer outro lugar, a tecnologia precisa estar presente onde pode trazer facilidade. E ser empregada onde pode fazer a diferença.

Fabrini Galo (CCA IBGC) MBA

Advogado. Professor de Educação Executiva. Conselheiro. CCA IBGC, Jurídico, Governança, M&A. Inovação, Startups, Sustentabilidade, ESG, Energia Renovável, Capital Humano, Regulação, Board Member.

2 a

Excelente. Inteligência em prol do desenvolvimento sustentável das cidades.

Cidades inteligentes, requer investimentos pesados em tecnologia, jogando os pequenos empresários e a população pouco qualificada para fora , triste realidade no mundo em que vivemos.

Giovani Bernardo .

Empreendedor, Mentor e Conselheiro de Empresas. Foco em Inovação Corporativa, Ecossistemas de Inovação, Governos e Cidades Inteligentes. Voluntário no ExcelênciaSC.

2 a

Muito bom Cleverson Siewert ! Com foco nas pessoas, tendo a tecnologia como um dos canais, certamente melhoramos as cidades e, por consequência, melhoraremos o país.

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos