Cinco segundos contra a “Síndrome do Enter”

Cinco segundos contra a “Síndrome do Enter”

Piloto automático. Efeito Manada. Expressões cada vez mais presentes nas nossas vidas. Longe de ser algum fenômeno da modernidade, é algo da natureza humana, mas que vem sendo exacerbado no mundo digital, com a velocidade das coisas e a necessidade que temos de dar respostas imediatas para tudo e qualquer coisa. Seja uma resposta que você tem que dar ao seu filho ou para alguma tarefa de trabalho. Com a vida cada vez mais smart e o mundo mobile e essa condição que nos foi dada de dar respostas prontas, consequentemente começamos a ser cobrados por essa celeridade.

Só que isso vem tomando uma proporção enorme a ponto de nos fazer sentirmos como cães em uma eterna corrida atrás de nossos próprios rabos, sem nunca alcançar. É essa urgência de ter que falar, dar opinião, não poder demorar um dia para responder uma mensagem no whatsapp ou um comentário no facebook sob pena de ser tachado de indelicado. É essa necessidade de estar sempre em movimento e com uma cobrança de que não podemos parar ou não temos o direito de parar para refletir sem nos sentimos mal.

Costumo utilizar muito em minhas palestras e aulas a expressão “Síndrome do Enter”, mal que nos acomete e atinge o sistema nervoso indo da primeira sinapse cerebral normalmente até a ponta do dedo indicador. E causa uma necessidade incontrolável de ter que responder imediatamente aquele e-mail de cobrança e para o qual você manda uma resposta desaforada de bate-pronto, sem respirar. E traz uma pressão por receber uma mensagem em alguma rede social e necessariamente ter que responder aquilo no momento seguinte sem parecer desatenção. E também nos traz aquela sanha desbragada de sair mandando coisas, compartilhando fotos, textos, vídeos e tudo mais na mesma velocidade com que recebemos, sem um olhar mínimo.

Dentre os vários e recentes episódios, um acontecido ontem me chamou a atenção e me despertou a reflexão. Soubemos pouco tempo depois (ainda bem que não presenciei ou vi nada ao vivo) de um episódio de suicídio bem próximo de nosso escritório, primeiro por meio de uma das pessoas da nossa equipe que tinha acabado de passar por lá e causou uma comoção em toda a equipe por conta do relato.

Em paralelo, recebi uma mensagem de whatsapp de minha querida amiga Eugênia Cabral me alertando para uma foto que estaria circulando pelas redes e mostrando o corpo do rapaz. E que ela foi “forçada” a ver por uma vizinha com quem sequer tinha contato, mas que mostrou-lhe a imagem como se fosse um (mórbido) troféu digital.

Por coincidência, recebi depois essa tal foto de vários grupos, inclusive familiares. Na hora me veio o questionamento. Até que ponto não estamos mesmo acometido pela tal “Síndrome do Enter” a ponto de perder o poder de reflexão e consciência que caracterizam o ser humano e o diferenciam?

Lembrei-me de uma célebre expressão que ouvi muito em minha infância de meu pai. “Quando tiver uma raiva, conte até dez antes de fazer alguma coisa!” Mas não dá mais tempo de contar até dez hoje em dia!! Dez segundos, viu! Dez hoje em dia é tempo demais, dá tempo até de dar uma resposta em uma entrevista, como costumamos ver nos nossos Media Training na AD2M. E para as pessoas pode parecer uma eternidade entre parar para pensar e utilizar o indicador.

Estou pleiteando para o bem da humanidade e da nossa saúde que baixemos a bola um pouquinho e, na hora H de um momento de decisão ou de raiva, paremos por apenas cinco, cinco segundinhos de reflexão para dar tempo de pensar e nos perguntar. Por que vou fazer isso? Por que eu devo mandar aquele e-mail desaforado? Por que eu devo ligar de volta para o cliente com a raiva me dominando? Por que tenho que dar essa resposta grosseira para minha esposa ou para o meu filho? Por que buzinar com o trânsito ainda parado ou não dar passagem a outro motorista que está no mesmo engarrafamento que eu? Por que preciso mandar adiante aquela notícia negativa ou aquele meme indecente que fui marcado em qualquer uma das redes sociais?

Precisa mesmo? Vai me fazer uma pessoa melhor? Aquilo vai me engrandecer ou fazer o bem para o dia das outras pessoas? Aquilo merece o meu.....enter?

Cinco segundinhos farão uma diferença danada. Para o mundo. Para nós mesmos.

Myra Viana

Jornalista | Professora | Doutoranda e Mestra em Comunicação pelo PPGCOM-UFC | Pesquisa e Ensino | Produção de Conteúdo | Marketing Político

8 a

Excelente reflexão! ;)

Eugenia Cabral

Marketing digital, produção de conteúdo e estratégias de comunicação

8 a

Oh se fazem! Excelente reflexão, Mauro!!

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