Protegidos por bolhas de sabão

Protegidos por bolhas de sabão

Já está amplamente conhecido por muitos, não apenas nacionalmente, o momento delicado da segurança pública no meu amado Ceará. Terra dos verdes mares bravios, desta feita por motivos nada nobres e literários, as plagas alencarinas estão hoje assombradas por um sentimento de violência materializado por conta de ataques e incêndios criminosos e velados toques de recolher em Fortaleza e no interior, fruto de uma guerra das facções contra o poder público, em uma violência insana na qual inocentes servem de escudo ou bucha de canhão.

Sem entrar no mérito de toda a narrativa histórica dessa crise, que vem sendo muito bem contada e acompanhada pelos meus colegas jornalistas das redações, lutando inclusive contra a maré contrária de boatos e notícias que atrapalham qualquer cobertura séria, prefiro me ater aos meus sentimentos dicotômicos.

Nesse último domingo estava aproveitando o tempo com a Família e me permiti brincar com meu filho caçula, o George, de algo que ele adora e eu há muito não fazia. A metáfora da dicotomia está exatamente aí. Estávamos nos divertindo ao soprar e fazer bolhas de sabão para sairmos correndo atrás até conseguimos estourá-las. Claro, outras se desmaterializavam antes mesmo da nossa intervenção.

É quando volto à situação atual da vida em nossa cidade e me vejo, assim como inúmeros amigos meus também, sei disso, em uma gangorra emocional. De um lado, um certo alívio egoísta por não estar (ainda) presenciando fatos ou sentindo esse clima de tensão e violência tão perto de mim e dos meus familiares. Do outro, um sentimento forte de preocupação genuína por todos aqueles que estão no meio de uma briga tão inconsequente, sofrendo as consequências desse cabo de guerra, e aquela culpa cristã pela falta de uma empatia que vá além do discurso.

Acordei hoje muito mexido emocionalmente por isso tudo e logo me veio à mente o George correndo atrás das bolhas de sabão e alegremente destruindo uma a uma. Em paralelo, voltavam aos meus ouvidos trechos de conversas que tenho tido com amigos e com colegas de profissão e aqui na agência sobre esse “graças a Deus que não vi nada disso ainda onde moro”. Completou o liquidificador de emoções essa sensação clara de estarmos todos nas redes sociais conversando dentro de potes (para fugir da figura esférica já falada, mas usando o mesmo conceito de espaço fechado), arrulhando teorias e disparando mensagens uns para os mesmos outros.

O fato é que continuo me sentindo e vivendo na minha bolha, grande ou nem tanto, com outras bolhas grudadas ou por perto, talvez, mas com a sensação de que quanto mais achar que esse é o lugar mais confortável ou seguro, maior será o susto quando chegar um George para estourá-la. Ou quando o sabão acabar e ela simplesmente sumir no ar.

Gilval Menezes

Quer passar a fazer uma Segurança Diferente? Vem comigo!

5 a

Meu querido e poético amigo Mauro! Belíssimo texto. Traduziu muito do que eu sinto.

Rafaela Britto

Diretora de Atendimento | Especialista em Comunicação Corporativa e Gestão de Crise | Adepta da Felicidade Corporativa

6 a

Realmente um tema bem pertinente, essa individualização que a sociedade busca em suas bolhas é cada vez mais preocupante. Quando falamos assim até gera uma certa distância, mas quando nos colocamos no sujeito dá um susto mesmo e nos leva à refletir, como você tão bem fez. Para sair dela? empatia, empatia, empatia. Deve ser um mantra. 

Alexandre Santiago Freire

Planejador e Educador Financeiro Pessoal | Especialista em Finanças Pessoais, Investimentos, Seguros e Previdência Privada | Wealth Management

6 a

Meu amigo Mauro me identifico com o seu sentimento de saber q estamos em bolhas isolados enquanto nossos irmãos sofrem todo esse contexto lamentável causado por todo esse nosso contraste social, má gestão e perversidade humana. A meninas q trabalham aqui em casa estão aterrorizadas e estão se deslocando por aplicativos já q os ônibus ficam escassos. De certa forma somos impactados mas essa nossa impotência de n ter muito o q fazer é frustrante. Só nos resta tentar ajudar os próximos e fazer o nosso papel como cidadão de cobrar e vigiar.

André Pascoal

Strategy Operations & Efficiency | Associate Manager

6 a

Bela reflexão Mauro. As bolhas de sabão e a passividade do “devolva o meu Ceará” revelam que ainda temos muito o que aprender sobre “sermos um” e sobre “dar e receber”

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