Circunstâncias
Eu tenho ousado praticar essa frase. Digo ousado pois se eu for avaliar as expectativas e as circunstâncias, não dá nem pra planejar, quanto mais alcançar o que parece impossível. Nos últimos meses, tenho aprendido, na marra, que, sendo mãe, a gente planeja o impossível mesmo. Somos um e a criança é outra. A criança fica doente, a criança tem uma agenda escolar e a criança tem necessidades específicas.
Impossível porque se você olhar as estatísticas, a disparidade de “sucesso” profissional entre mulheres e homens é absurda. E não é “mimimi, é só correr atrás, olha a fulana o que ela consegue fazer...". E por discursos assim, algumas desistem antes de começar, porque só o planejar já se torna uma tarefa quase inalcançável.
Nos sentimos incapazes pelas circunstâncias e não por nossa capacidade. Só que, muitas correntes relacionam o “se deixar vencer pelas circunstâncias” como falta de capacidade e de organização. Que injusto!
Eu me considero uma pessoa positiva e que busca sempre se atualizar, olho sempre o lado bom das coisas, o modo prático de resolver as situações sem ficar me lamentando, sempre fui de não aceitar o que vinha de ruim, pensando: “ok, aconteceu isso, e o que eu faço daqui pra frente?”... mas, desde que decidi abraçar essa tarefa de gerir o próprio trabalho, as circunstâncias tem me feito sofrer. Odeio não ter o controle.
As circunstâncias tem me feito pensar, algumas vezes, que talvez seja impossível mesmo. Pelo menos pra mim. Sou incapaz? Sou pouco “motivada”? Nunca fui... porque agora?
Circunstâncias. Circunstâncias é aquele lance que acontece quando você planeja a semana depois de sua filha passar um mês doente e, finalmente ter melhorado, e você não ter ganhado o dinheiro que planejou devido a isso, e aí... seu celular queima. Assim, do nada. Placa. Não tem conserto. Circunstâncias também é o que acontece junto com o seu celular queimado, sua filha fica doente de novo e, você tem que parar tudo pra voltar ao hospital. Sim, 15 dias depois de uma alta hospitalar.
É também, você resolver o problema celular e filha doente, aproveitando o sábado de “folga” entre a espera de 4h no #geniusbar (não achei o bar) para dar uma passadinha na emergência (siiim, fazemos tudo junto ao mesmo tempo forever), e, finalmente, sentar no domingo a noite para planejar uma semana “produtiva” e sua casa inundar, assim, de repente, devido a alguma falha no controle da água.
Sabe aquela sensação de correr na esteira? Você tenta correr mais rápido e... cai. Levanta pra correr novamente, mas não sai do lugar, corre mais rápido... e cai de novo.
A gente acha que não sai do lugar, e pensa em abandonar a esteira... talvez academia não seja para mim...
De repente, olha para as pernas que estão ficando mais fortes, a massa magra que está aumentando, o abdômen e os braços enrijecendo e a habilidade pra levantar mais rápido quando cai.
Eu quero escolher olhar por este lado. Enxergar as pernas “fortes” – ao menos na analogia... hehe – que estou ganhando.
É fácil? Não. É só querer? Também não... Faço isso sorrindo? Ahh, é pedir demais, né?
Todo mundo pode? Claro que não... depende da estabilidade emocional/condições que a gente tenha no momento.
Planejar o impossível tendo a consciência que vai fazer tudo para cumprir, mas que, talvez, não seja possível. Não agora.
Se respeitar que tem dia que será preciso mudar a rota, e até mesmo o destino. Sofrer por isso, sim... porque somos humanos e não dá pra vencer todo dia... mas não por muito tempo e nem ao ponto de nos paralisar.
Ontem fui dormir pensando na sensação da esteira... não consigo sair do lugar, as “circunstâncias” não deixam.
Acordei pensando nas pernas fortes e nos ajustes de planejamento que eu teria que fazer devido as circunstâncias.
Talvez o equilíbrio entre a corrente do “É só querer usar as técnicas xyz que você alcança o sucesso” e as circunstâncias (absolutamente todo mundo tem as suas) que tem todos os motivos pra fazer a gente abrir mão de alguns desafios é o “O que EU CONSIGO fazer HOJE para chegar no meu planejamento impossível?”
Mesmo se eu não chegar nele, ao menos em algum lugar possível eu terei chegado. Não estarei parada. Ou, na pior das hipóteses... terei pernas fortes!