Claro que é possível ultrapassar a grande asneira do Brexit!

Claro que é possível ultrapassar a grande asneira do Brexit!

Em 1957, os ingleses não fundaram a CEE. Em 1972 decidiram aderir. Durante os 44 anos em que formaram parte do projeto de construção europeia nunca se sentiram confortáveis no e com o processo. Em 2016, saíram. Uma asneira monumental. Uma frivolidade cuja responsabilidade recai sobre os que lideraram o processo de integração. E sobre todos nós.

 Quem foi o grande ausente deste processo? Quem é que poderia ter evitado o Brexit? Quem é que teria podido defender a permanência do Reino Unido na UE? Quem é que poderia ter tido um peso suficiente - no referendo - para desequilibrar a balança a favor da permanência dos ingleses na UE?

A resposta é simples. Aqueles que acreditam e defendem que a permanência do Reino Unido é indispensável para construir a Europa que vai seguir em frente. É um facto que essa voz não se fez ouvir com a contundência devida durante a campanha do referendo. É aqui que existe a lacuna. É aqui, penso eu, que se dá a enorme fragilidade da UE: não possui veículos políticos que representem todo o peso específico que possui o projeto político da integração europeia: a falta de partidos políticos de base verdadeiramente europeia que possuam uma visão e um projeto político que não seja a soma de visões nacionais. 

Reclamamos até à saciedade que os lideres europeus possuam uma visão para a Europa. Pedimos ao Conselho Europeu que se eleve acima da soma dos interesses nacionais para criar um interesse da União. Criámos a figura de um Presidente do Conselho Europeu que supostamente deveria representar essa visão, essa estratégia. A sério que pensamos que isso é possível? Esses lideres políticos pertencem a estruturas políticas que têm uma visão estritamente nacional da integração europeia. Que põem os interesses nacionais acima dos interesses dos Europeus. Não se pode esperar outra coisa. É normalíssimo. Ninguém lhes pode atirar à cara que não seja assim! Ninguém, com os pés assentes na terra, pode esperar que não seja assim!

O processo de integração avançou sempre quando confrontado com obstáculos. Hoje o obstáculo não é económico. Está em construção (ainda que aos solavancos) a União Económica, a bancária, a orçamental. Até a fiscal. Até a política, embora a retalhos e sem valentia e visão estratégica. E esta só avançará decisivamente quando se criarem partidos políticos - os veículos políticos por excelência numa democracia representativa - que sejam construídos por Cidadãos dos 28 Estados (UK incluído). 

Eu sou profundamente céptica quanto à possibilidade dos atuais partidos poderem dar este salto qualitativo. Não acredito que os PPEs ou os PSEs hoje existentes possam dar esse salto. A verdade é que foram os grandes ausentes na campanha para o referendo britânico. Porquê? E quando digo os grandes ausentes, refiro-me ao facto de terem podido estar presentes com todo o seu peso e não o terem sequer equacionado. Eles estiveram, de facto, presentes. Os Tories estão no PPE. O Corbyn está no PSE. Mas a presença do PPE ou do PSE limitou-se ao peso das suas sucursais britânicas. As grandes ausentes, as que poderiam ter feito a diferença, teriam sido as sedes europeias. Estas não estiveram presentes precisamente porque não são verdadeiras sedes europeias. São apenas o local onde estão representadas as filiais de cada um dos 28 partidos políticos no ativo nos Estados Membros. Não têm ligação - enquanto sedes que representam os Cidadãos PPEs ou PSEs dos 28 Estados Membros - com os Cidadãos desses Estados. O tal Vicepresidente espanhol do PPE que fez, no outro dia, um discurso brilhante sobre a UE no Parlamento Europeu deveria ter feito esse discurso em Manchester. Ou no mítico estádio de Murrayfield em Edimburgo. Ou no pub da esquina da rua principal de Cardiff. Teria feito a diferença, right?

A resposta a esta fragilidade, a resposta ao Brexit é política. Mas o holofote não pode estar a apontar para o Conselho Europeu. Tem que estar apontado para a Cidadania europeia. É ela que poderá desbloquear este impasse e remediar esta asneira monumental que foi o Brexit. Neste preciso momento, o processo de integração exige que se criem partidos políticos que ultrapassem decisivamente o pensamento, a visão, a estratégia, a ideologia de base nacional. O processo de integração tem que levar a marca, o brand da Cidadania. Senão...iremos colecionar Brexits!

Não fui eu que pus o autocarro da integração em marcha. Mas estando em marcha, chegámos a esta paragem decisiva. Como chegámos a outras, antes. Que não foram devidamente reconhecidas, como seria de esperar. Não ver esta, é um erro crasso. Outro erro crasso. Patente na fotografia dos 27 em Roma, na solenidade da Declaração de Roma, na comemoração dos 60 anos do processo de integração. What a pitty, what a shame...Mas tem solução!

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