Coaching e a Neurociência
Magazine bevaluable.pt - Maio 2020

Coaching e a Neurociência

Em Maio decorre a semana internacional de Coaching que representa para os profissionais da área um momento de partilha, debate, reflexão e networking.

Assim nesta edição decidi partilhar de forma sucinta, com o objetivo de obter reflexão e comentários, o trabalho que tenho realizado e que é diferenciador nas sessões de coaching com os meus Clientes.

“O conhecimento das relações entre o corpo e espírito fascinou e atraiu pensadores, filósofos e cientistas, desde os tempos mais antigos e em todas as civilizações. Porém, é só no final do século XIX que se situa o início histórico de um abordagem científica. Abordagem esta, que levará no princípio do século XX a estabelecer uma nova disciplina – com pouca solidez e com limites pouco definidos – neurologia dos comportamentos. As concepções atuais sobre as relações cérebro-comportamento provêm da fusão, no final do século XIX, de quatro tradições experimentais: neuroanatomia, neurofisiologia, neuroquimíca e psicologia”. Michel Habib (1998), Bases Neurológicas dos Comportamentos.

A neurologia mostra as relações entre lesão cerebral e as funções cognitivas e motoras. A neuropsicologia debruça-se sobre os mecanismos cerebrais dos comportamentos e das funções mentais.

Assim, é com a “lente” da neuropsicologia que observamos a estrutura e função dos centros que comandam os comportamentos. Mas o que é a estrutura, a função e os comportamentos?

Quando falamos em estrutura debruçamo-nos sobre o sistema nervoso central (espinal medula, tronco cerebral, cerebelo e o cérebro) e o sistema nervoso periférico (os nervos cranianos e os nervos espinais com os seus gânglios associados). Ainda, no sistema nervoso central, o papel fulcral de dois tipos de células, os neurónios (possuem a propriedade característica da função nervosa, que é a de gerar um sinal nervoso. O potencial de ação, as sinapses e a libertação de neurotransmissores são a função neuronal) e as células gliais fundamentais para manter a “saúde” dos neurónios (tem o papel de suporte, limpeza, frabricação da mielina, nutritivo e metabólico e de defesa imunitária),

A função é o modo como os sistemas se articulam para influenciar as funções cognitivas (memória, atenção, linguagem) as funções executivas (tomada de decisão, lógica, raciocínio, estratégia e resolução de problemas), as funções de regulação das necessidades biológicas (temperatura corporal, comportamento alimentar, regulação da sede, comportamento sexual) e as funções de emoção e prazer.

O comportamento engloba tanto as atividades humanas tais como podem ser avaliadas pela simples observação da forma como o indivíduo se comporta exteriormente, como também noções mais abstratas como a memória, atenção, linguagem e outras funções mais subjetivas como as sensações e emoções. Ou seja, comportarmo-nos é a expressão prática do que a estrutura e a função permitiu ao indivíduo adquirir e aplicar.

Compreendemos assim, que a estrutura e a função têm um papel fundamental nas funções cognitivas, executivas, de regulação e de emoção e prazer, isto é, na aquisição e desenvolvimento de diversos conhecimentos e aprendizagens, desde a infância e pela idade adulta, e consequentemente na forma como nos comportamos em diversos contextos.

«O Modelo integrado de investigação e intervenção em Coaching, pela Be Valuable» com base nas neurociências, mais especificamente, neuropsicologia aprofunda a forma como adquirimos aprendizagens e como as substituímos por outras. Ou seja, desconstruímos comportamentos para adotar novos comportamentos. E isto de uma forma sistémica (EU, os Outros e o Contexto).

Quando numa sessão de coaching, através de questões poderosas, os nossos clientes obtêm um maior entendimento sobre as estruturas e funções do sistema nervoso e a forma como elas implicam nos comportamentos, permitimos que os mesmos consigam gerar mecanismos conscientes que controlam a resposta “automática” que o cérebro já tem para nós em determinada circunstância. Por exemplo, ofereceram-nos uma rosa e ao pegar nela picámos o dedo num espinho: se foi a primeira vez que vimos a rosa e houve este acontecimento, o cérebro recebeu o estímulo através do sistema nervoso periférico que o enviou até ao cérebro. No cérebro registou o sucedido, enviou uma resposta para o exterior para fazer, neste caso, face à dor e armazenou este evento na memória. Na próxima vez que pegar numa rosa a memória sinalizará que podemos picar-nos. O que este funcionamento nos diz? Que se contrariar determinado comportamento, diversas vezes, e tiver um reforço positivo o mesmo ficará, em determinado momento, registado na memória. Deixará de ser um comportamento consciente para passar a transparente. Ou seja, ocorreu uma mudança efetiva de comportamento. Claro que esta mudança é sempre resultado do livre arbítrio, ou seja, sabemos como a função da memória de determinado comportamento ocorre e só poderá ser alterado se a pessoa, verdadeiramente, o quiser e se for disciplinada para tal. Imaginem a alteração de uma rotina num processo produtivo. É disto que estamos a falar. Consciencializamos, encontramos uma nova abordagem, incorporamos no processo e ao mecanizar temos a expetativa de determinado retorno. A mudança de comportamento ocorrerá se o retorno for concreto e por isso a resiliência e a motivação intrínseca são palavras chave neste processo. A Consciência de si fará a diferença!

 

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