Bons velhinhos, Coelhos, duendes e porque eles não podem ser mais protagonistas que o ator principal do Natal

Bons velhinhos, Coelhos, duendes e porque eles não podem ser mais protagonistas que o ator principal do Natal

Caros leitores, apesar do LinkedIn ser uma rede social com objetivos amplos, certamente é mais voltado para atividades de interação mais profissionais. Outras redes sociais já suprem bem o papel para assuntos essencialmente mais particulares. De qualquer forma, na minha vida profissional eu sempre adotei uma linha mais humanista, voltada a entender e respeitar o ser humano de forma ampla, sem desassociar e esquecer que, por de trás de todo profissional, há uma pessoa com as mesmas necessidades, problemas, dilemas que todos nós temos. Por isso, decidi repetir este artigo de cunho reflexivo e, na minha opinião, importante para esta época do ano. Espero, sinceramente, que possa nos ajudar a pelo menos refletir sobre as festas e comemorações de cunho religioso que se transformaram também em festas sociais.

Você já assistiu algum filme onde o ator principal se tornou coadjuvante? Bem, isto pode acontecer quando o diretor ou não soube interpretar a obra em que se baseou o filme ou porque fugiu do roteiro ou ainda, porque o coadjuvante é tão bom ator que apaga ou “rouba a cena” do protagonista. Sem tirar a liberdade que cada expectador tem para interpretar de forma livre sobre a estória com uma lente diferente da imaginada pelos autores. Difícil de acreditar que o Hagrid possa ser mais importante que o Harry Potter ou o Smeagle consiga se sobressair mais que Gandalf ou o Hobbit Frodo. Para entender porque coelhos, duendes, e velhinhos são cada vez mais nossos heróis, convido a todos começarmos juntos uma reflexão sobre alguns personagens de nossas vidas ou eventos que acontecem todo tempo ao nosso redor, e que não paramos para questionar porque e como elas foram criadas e como seus reais significados podem ter mudado no transcorrer da história sem que saibamos rastrear o rosto que existe por de trás da máscara.

Grande parte das tradições ao nosso redor tem sua origem em épocas remotas e foram criadas e modificadas, muito provavelmente, centenas de vezes através das gerações até chegar ao que conhecemos hoje. Acho que o bordão “quem conta um conto aumenta um ponto” é muito apropriado para ajudar em nossa argumentação. Exemplos não nos faltam, o fofinho coelho da Páscoa, por exemplo. Mas reflitamos um pouco. Coelho, Páscoa, ovo de chocolate? Imagino que todos saibam que coelho não bota ovos, certo? Mas porque coelho se a celebração é para comemorar a lembrança cristã da suposta “ressurreição” de Jesus ao terceiro dia após ser crucificado? Mais estranho ainda para alguns é que Jesus estava em Jerusalém na época da comemoração da Páscoa. Ué, agora fiquei confuso, a Páscoa não era sobre uma parte da vida de Jesus enquanto esteve aqui na Terra? Mas como ele foi para a Páscoa em Jerusalém quando tinha 33 anos? Então a Páscoa já existia antes? Bom, tudo tem um motivo e, neste caso, para não deixar ninguém curioso, a Páscoa comemorada há 2.000 anos com Jesus adulto e passando livremente pelas velhas ruas da cidade santa era para celebrar a libertação do povo hebreu da escravidão no Egito. O significado da palavra Páscoa é, ao “pé da letra”: Passagem. Seja a Páscoa - Passagem da escravidão dos hebreus para a liberdade ou a Páscoa - Passagem de Jesus crucificado de volta a vida para os cristãos, a origem da palavra nos parece correta, mas para histórias e significados diferentes. Para um povo de origem predominantemente católica cristã como o brasileiro, a Páscoa tem um significado importante e, apesar de ter um cunho religioso, quem rouba mesmo a cena é o tal ator coadjuvante de orelhas grandes e rabos de pompom: o coelho (da Páscoa), que é símbolo da fertilidade, e o ovo, símbolo do nascimento. E lógico, o chocolate, mas sobre este prefiro não tecer comentários nem procurar saber a origem, pois o bom mesmo é saboreá-lo.

Natal, esta sim é uma comemoração mais abrangente e relevante, principalmente para a a civilização ocidental. Mas notem as semelhanças com nosso exemplo anterior. Agora em vez de coelho temos o simpático e bom velhinho papai Noel. Em vez de ovos temos muito opções livres de presentes. Você pode escolher o presente que quiser, todas as idades têm direito de ganhar e muitos podem ter o prazer viciante de comprar. Bom, pelo menos o Natal parece bem mais democrático. As crianças, desta vez, não são mais quase exclusivas detentoras dos direitos soberanos sobre os agrados como acontece com os ovos de chocolate. Mas o natal não é só presentear, claro. Todos sabemos que é para comemorar o nascimento de Jesus, certo? Bom, é verdade, mas calma aí, quanto tempo paramos para lembrar, estudar e entender isto durante o Natal? Bem, talvez pensar em quem foi este menino que nasceu há 2.000 anos não seja tão importante para grande parte dos apressados seres humanos que ocupam o tempo sem ter tempo de pensar, pois é mais fácil consumir bens e informações prontas e mastigadas, trabalhadas por aqueles que massificam a propaganda que cria uma cultura onde "Comprar" e "Ter" é mais importante do que "Amar" e "Ser". Os valores da cultura de nossos tempos talvez estejam moldando sociedade que olhará para o passado e a história terá transformando o menino de Nazaré em um ator secundário. Ah, mas para que questionar? O importante é montarmos a árvore, colocarmos as luzes bonitas hipnotizantes por todo canto e comprarmos os presentes nos shopping centers cada vez mais confortáveis e preparados para nos trazer o prazer seguro do consumo. Ou apreciarmos o calor humano trazido pelas hordas de pessoas que se amontoam em regiões como a 25 de março atrás de boas pechinchas e que já aproveitam para, inconscientemente, pagar a cultural penitência de fé da idade média sem precisar frequentar uma igreja e acender uma vela. Sem contar a preciosa concorrência para achar o maior Peru ou Chester que enfeitarão por poucos momentos a linda mesa natalina.

 Mas voltemos às reflexões que realmente interessam: entender a verdade por de trás da história que não se escreveu. Primeiro, por que chamamos o Natal de Natal? Por que ele tem de ser no dia 25 de dezembro e não em outra data? Se a comemoração é sobre o nascimento de Jesus e começamos a contar nosso calendário antes e depois dele, como é que ele foi nascer bem no dia 25 de dezembro? No mínimo deveríamos achar isto estranho. Para mim parece mais óbvio que Jesus tenha nascido no dia 1o. de janeiro, não acham? E o papai Noel? Nada contra ele, eu até acho ele bem simpático. Sempre achei uma injustiça com ele não termos chaminés em nossas casas no Brasil. Nunca soube como é que ele se virava por aqui. Aposto que ele ficava estressado quando acabava de entregar os presentes nos EUA, porque parece que é lá que todos os natais sempre aconteceram, e tinha que vir para o Brasil passar um baita calor com aquela roupa vermelha que hoje deve ser confeccionada pela ”The North Face”, grife especializada em roupas para dias e noites de inverno, e entregar os presentes sem chaminés. Um desrespeito ao pobre velhinho de bochechas rosadas e sempre sorridente. 

Certa vez, quando eu ainda era bem pequeno, fiquei escondido na escada do sobrado esperando ver o que acontecia. Tenho quase certeza que vi um duende do Papai Noel colocar um presente debaixo de nossa árvore na sala. Acho que o homem simpático de barbas brancas não conseguiu entrar em casa e mandou um assistente não-concursado entregar. Acho que ele passava antes por Brasília para depois vir a São Paulo. Talvez ele não saiba que no Congresso Nacional não há crianças inocentes. Bom, mas o importante é que o presente estava sempre lá. Pelo menos na minha casa. Verdade que quando criança nunca parei para pensar na casa dos outros ou mesmo naqueles que nem casa tinham. Hoje, me parece óbvio porque nem passa isto pela cabeça de uma criança, mas difícil entender porque alguns adultos inteligentes fingem não existir nada além do seu protegido mundinho.

 Mas vamos às explicações que matarão a curiosidade de quem nos lê ou ouve. A palavra Natal é usada para referenciar a vinda do Cristo a Terra e seu significado principal é “Nascimento”. Me parece apropriada. Já a explicação mais provável de acontecer no dia 25 de dezembro é porque na Roma antiga se comemorava neste dia o início do solstício de inverno, que era nesta data e, também porque acontecia a festa pagã em homenagem ao deus sol, muito associado com Jesus depois da adoção pelo Imperador Constantino do cristianismo como religião oficial de Roma. Eu apostaria dizer que, da forçosa unificação das diferentes seitas pagãs com o catolicismo nascente, se criou uma religião com, digamos, itens acessórios e penduricalhos que provavelmente nunca passaram pela cabeça de Jesus ou seus apóstolos.

Hoje a igreja católica tem muito de suas crenças e dogmas baseados nesta mistura que ocorreu em Roma. Sobre papai Noel, bem, muitos dizem que foi inspirado em um bispo chamado Nicolau, ou Santa Klauss depois de canonizado, que distribuía presentes às crianças de sua época. Verdade? Depende! Entendo que o lúdico, a fantasia, a viagem imaginária dos nossos “pimpolhos” não pode ser perdida e é parte da época em que formamos nosso caráter. Para as crianças reunidas entre nós e para os eternos adultos que ainda mantém o espírito nobre e simples dos pequeninos, ainda gosto de acreditar que o bom velhinho virá me presentar. Apesar de saber que ele não é o ator principal. É sábio dizer que a cada tempo as suas verdades. Sei que não é o tipo de confissão que se faz em público, mas tenho uma vontade louca de abraçar e beijar o papai Noel, apesar de ter alergia a pelo de rena.

 Seja lá qual for a comemoração religiosa, Páscoa ou Natal, é certo que hoje, em maior ou menor escala, acabamos deteriorando a pureza e a profundidade de certas crenças ou costumes antigos, transformando aquilo que deveria ser sagrado, religioso, de fundo moral e, cheio de reflexões positivas para nossa vida, em comemorações da sociedade, do povo, da mídia, do comércio, pouco associando-as ao que deveria ser o significado puro e real.

 Nas duas festas citadas, tenhamos então certeza de que o personagem principal é Jesus. Ele e tão somente ele. Seja na narrativa de sua partida deste mundo para outro quanto na sua chegada ao nosso minúsculo planeta dentro deste universo infinito. Certamente, não tenho a mínima pretensão de recomendar a ninguém para esquecer Noel, duendes, renas, trenós, árvores de natal e as ótimas confraternizações em família. Principalmente quando une a família pelo prazer de estar entre os entes queridos. Simplesmente, quero convidar todos a dedicar poucos minutos, mesmo que só durante a ceia de natal ou antes dela, para lembrar juntos do espírito mais avançado e perfeito que já tivemos a honra de receber em nosso planeta. Convidar todos a refletir que sua presença no mundo foi, desde que ele abriu os olhos e iluminou o mundo, tão importante que a história se dividiu em antes e depois de Cristo. Chamar todos a comemorar também seu nascimento, nesta data e, se possível, em todos os dias. Agradecendo a DEUS por ter nos enviado aquele que nos serve de inspiração, guia, mestre, professor e que nos deixou um legado de ensinamentos morais universais como a importância de amar a todos indistintamente, mesmo aos inimigos, a perdoar 70 x 7 vezes, ou melhor, a perdoar tantas vezes quanto for necessário, a ter fé que remove os obstáculos do tamanho de montanhas e nos enche de esperança para dias melhores, a praticar a caridade que de tão importante foi colocada por Jesus como a reunião de todas as outras virtudes e condição única e essencial para estar junto a ele, mostrada na metáfora do dia do juízo final onde Jesus nos colocaria a sua direita ou a sua esquerda de acordo com o quanto tivéssemos ajudado mais ou menos os nossos semelhantes nas atitudes diárias de nossa vida.

 Brindemos então a esta festa maravilhosa. Busquemos o verdadeiro presente deixado por Jesus, não nas chaminés, mas junto aos pés de todos os seres vivos: a poderosa ferramenta do conhecimento moral do Cristo, que nos permite pelo exercício do livre arbítrio o real entendimento das virtudes, que praticadas continuamente em nossas atitudes se tornam hábitos, que no longo prazo nos trazem evolução, sabedoria e paz. E ao aniversariante, maior protagonista de toda a história, além do nosso muito obrigado, nossos aplausos em pé e repetidos várias vezes ao som das vozes bradando ao grande artista do filme de nossa existência em voz alta: Bravo! Bravo! Parabéns Jesus!

 Artigo escrito em 24/12/2016

Autor: André Luiz Nadjarian


Jocelito André Salvador

Associate Founder e CEO na Conducere Intelligent Health

8 a

Perfeitas as suas considerações, Andre! Há muito tempo não via uma defesa tão sensata do verdadeiro sentido de tão relevantes festas. Deus te abençoe, seu Caro! Abraços.

Excelente reflexão Andre. Infelizmente, observo que a maioria esmagadora prefere um mundo lúdico e compram porções de ilusões em busca da chamada "felicidade". Preferem a "matrix" dominadora a ter que usar a mente em pensamentos, estudos, reflexões e entendimento de um mundo, cada vez mais, com valores relativos, flexíveis e, por vezes, totalmente invertidos, isso inclui também o mundo de negócios.

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