Se você não desacelera, a vida vai dar um jeito de te fazer parar. Eu vivenciei isso na pele quando, enquanto cuidava da minha mãe que foi submetida a uma cirurgia de urgência graças a um episódio de crise na vesícula, passei eu mesma a sentir os sintomas da mesma doença.
O tratamento, graças a Deus, é simples, e a recuperação é rápida. Já nos próximos dias, eu devo voltar inteiramente à ativa. Mas parar foi importante pra eu me dar conta de algumas coisas.
- Eu desaprendi a descansar. Eu já tinha ouvido essa observação antes, vinda de algumas pessoas próximas, de que a minha rotina era excessivamente corrida, que eu não me permitia repousar, sempre correndo de um lado para o outro. E, posso falar, é a mais absoluta verdade! Quando eu me vi com aquela ruma de tempo nas mãos e sem “nada” pra fazer, eu entrei num leve parafuso. Não à toa fiz mil e uma atividades (li, fiz crochê, assisti a séries, terminei uns cursos que estavam pendentes) para manter a mente ocupada.
- Minha habilidade de estar presente está comprometida. Por recomendação terapêutica, eu tenho que fazer caminhadinhas leves de 15 a 20 minutos após as refeições, para auxiliar na digestão. Aproveitei esses minutos para meditar, rezar o terço, ouvir um podcast... (viu?! Não sei ficar quieta!) e percebi que a minha mente rapidinho divaga para outro lugar. Tem sido um belo exercício perceber quando estou dispersa e me trazer de volta ao presente, ao aqui e agora, recomeçando a prática quantas vezes for necessário.
- Tenho pessoas em quem confiar. Eu realmente gosto de trabalhar. E estar longe do trabalho, especialmente quando eu sei que coisas importantes estão prestes a acontecer, gera uma baita de uma angústia. Mas, quando eu me dei conta de que formei um bom time, bem treinado e capacitado para manter tudo rodando mesmo sem a minha presença, o alívio veio. Sou muito grata a eles por isso.
- Aceito e encaro as consequências das minhas escolhas (mas não me torturo por causa delas). Eu tenho plena consciência de que adoeci por uma combinação de vários fatores, alguns genéticos, mas também como resultado de algumas escolhas erradas que fiz, em especial de não levar uma vida mais saudável. É o preço, tenho que pagar. Porém, há uma grande diferença entre se responsabilizar e se torturar. Óbvio que poderia – e sempre poderei – fazer melhores escolhas de vida, mas viver em lamúria e sofrimento em razão disso não é nada saudável ou produtivo. Aprender a seguir em frente é necessário.
- A cura do corpo tem também muito a ver com a cura da mente. Mente sã, corpo são é um ditado verdadeiro. Quanto mais você se permite mergulhar em si, por mais difícil e doloroso que isso possa ser, mais rica sua vida se torna. É preciso coragem para se conhecer, encarar o seu lado feio, ignorante, mesquinho, medroso. Mas é apenas quando se tem consciência das próprias falhas e limitações que a possibilidade de melhorar como pessoa surge.
Tempo livre é uma bênção, né?! Nada melhor que o ócio para possibilitar esse tipo de reexame.
Porém, se você aceitar um conselho desta que vos fala, conselho este que segue o velho chavão “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”, não espere que a vida se encarregue de te fazer parar. Pise nos freios você mesmo, tome fôlego, contemple a paisagem, e siga em frente.