Como a cidade tem tratado seus rios?
Neste momento de pandemia, nos colocamos a refletir sobre nossas relações com as pessoas com quem convivemos e com o espaço que ocupamos. Estudos atuais constatam claramente como a natureza tem o poder de se regenerar através da diminuição das ações destrutivas do homem, como atualmente com a diminuição na produção e lançamento de poluentes na atmosfera. Percebemos também como nos faz falta circular, conviver e até mesmo respirar em ambientes abertos nesses momentos de distanciamento social (quem tem o privilégio de fazê-lo), sendo este momento também uma oportunidade para repensar e buscar formas de otimizar essas relações.
No início do ano, ainda sem grandes efeitos da pandemia no Brasil, a capital mineira sofreu com as cheias de seus rios urbanos, que trouxe devastação em várias áreas da cidade de Belo Horizonte. Tal situação não desconhecida, da população entretanto, trouxe maior comoção por dessa vez atingir áreas “mais nobres” do município, e mesmo ocorrendo por conta das mudanças climáticas, ficou claro que a falta de atuação do poder público tem também grande responsabilidade nesses casos.
Ou seja, o ambiente natural sofre e se transforma junto com a cidade. A grande questão é que a sustentabilidade dos rios urbanos é assunto polêmico no planejamento das cidades. Considerados empecilho para o desenvolvimento, leva os administradores das cidades muitas vezes a suprimir seus cursos d’água, canaliza-los ou até mesmo abandoná-los deixando que se tornem grandes esgotos a céu aberto, sem limpeza ou manutenção fazendo com que se tornem empecilhos na relação com a cidade e seus ocupantes.
Outro problema é o fato de que, decorrentes de exploração destrutiva, ações de recuperação muitas vezes envolverem obras caras de infraestrutura, que por vezes são de complexa execução e de longo prazo, o que em mandatos políticos de 4/5 anos deixam de ser prioridade, por serem obras que não serão vistas ou esquecidas, e em pouco tempo passarão a ser preocupação do próximo gestor político.
Entretanto, o que podemos fazer pelo nosso ambiente ao nosso redor? Nem sempre temos condições de atingir objetivos de transformação profunda, mas fazendo a nossa parte como cidadãos podemos cuidar do nosso ambiente, e incentivar que os demais façam o mesmo.
Valorizar o nosso patrimônio natural é a melhor maneira de melhorar essa relação e chamar a atenção dos governantes para o problema. Dar valor ao que não é visto para que possa voltar a ser contemplado como parte da cidade, não como um problema, e assim cobrar de nossos governantes que assumam suas responsabilidades para melhoria da qualidade dos espaços urbanos. A cidade é um organismo vivo, e para que funcione bem, é necessário que todas as partes estejam em harmonia, pois tudo está interligado.
Na cidade de Mariana, a ocupação das margens do Ribeirão do Carmo foi além de seu berço, essencial para o seu desenvolvimento, inclusive econômico, advindo desde a época do garimpo até os tempos atuais.
Assim, no prêmio {CURA} de 2017 fomos instigados a responder à seguinte questão: “Como a cidade tem tratados seus rios?”, e quando olhamos para a cidade de Mariana, a resposta que nos veio não foi positiva: Segregação. Os dois principais cursos d’agua dividem não só a cidade ideologicamente da “área antiga” da “área nova” mas é como se destacassem da malha urbana. A cidade trata os Rios como elementos separado de si, como se não fizesse parte dela e assim fecha seus olhos para o Ribeirão que deu nome ao povoado que veio se tornar a primeira vila de Minas Gerais. Transeuntes atravessam a ponte do córrego do Catete diariamente, e se quer olham para ele. Chegam a esquecer que está ali, sendo lembrado apenas em suas cheias, ou quando exala mal cheiro nos dias mais quentes.
A ocupação centenária, irregular, sem planejamento ao redor do centro histórico arrasta seus conflitos entre Rios, mobilidade urbana e conservação do patrimônio histórico tendo seu pico na ponte da Rua do Catete e na Praça Tancredo Neves, onde a cidade enfrenta trafego intenso e confuso, tanto de veículos quanto de pessoas, e tenta sem sucesso organizar seus fluxos e dar o mínimo de segurança a seus usuários.
Frente a essa questão, fomos instigadas a propor, discutir e levantar ideias que pudessem dar start nessa solução através da integração desses rios ao tecido urbano, sendo o ponto de partida para uma possível solução desses problemas, integrando o ambiente natural ao construído, sem deixar de lado a preservação da história da cidade afim de promover melhor qualidade e melhores possibilidades de uso do espaço urbano.
O trabalho propõe a revisão dos leitos dos cursos que cortam a área central do município, com a revitalização de suas margens e usos ecológicos para estas, como implantação de filtros biológicos nas áreas mais críticas, reflorestamento de algumas áreas próximas a áreas de convivência e criação de espaços públicos voltados para o Rio, buscando a reintegração do mesmo com a cidade. A intenção foi a de buscar melhorias para todos os problemas e sobrecargas existentes na região, instigando também o desenvolvimento de políticas públicas de regularização do comercio informal, erradicação de invasões nas áreas de proteção permanente e ações de mobilidade urbana, trazendo o foco para pedestres e ciclistas, buscando a apropriação dos espaços da cidade de forma consciente e harmônica com o patrimônio natural e histórico do município.
O projeto foi desenvolvido em parceria com as profissionais Aline Soares, Ana Beatriz Xavier, Flora Passos e Isabela Ramos.
Links relacionados:
- https://www.mg.gov.br/conteudo/conheca-minas/turismo/cidade-de-mariana
Responsabilidade Social | Relacionamento com Comunidades
4 aMariane Franco e Ana Beatriz Xavier fiquei maravilhado com essa proposta! Algum movimento no sentido de envolver a Prefeitura de Mariana e tirarmos esse projeto do papel? Tive a oportunidade de morar e trabalhar, juntamente com vocês duas, nesta querida cidade por um ano e mantenho até hoje laços com ela. Gostaria de ver essa requalificação urbana na prática. Grande abraço e parabéns pela iniciativa!
Arquiteta e Urbanista | Planejamento e Design Urbano
4 aÉ importante chamar atenção pro desenvolvimento sustentável das cidades. Podemos tirar partido dos recursos naturais como forma de transforma-la em um ambiente mais agradável e saudável. Não deixemos que o progresso seja sinônimo de destruição! Muito obrigada, pessoal!
Líder Disciplina Infraestruturas l Mineração l Afry Tecnologia l Pós graduada em Pavimentação Asfáltica l Pós em Geotecnia - Estabilidade de Taludes e Muros
4 aPerfeito, May. Bom dia.
Architectural designer
4 aMuito bom!
Arquiteta | Especialista em Planejamento Urbano | Geoprocessamento | Acompanhamento de Obras | Reassentamentos Coletivos | Mediação de Conflitos | Regularização Fundiária |
4 aOrgulho dessa equipe!! Parabéns pelo artigo Mariane, ficou ótimo e exemplificou muito o nosso trabalho!