Como dar ordens ao filhos?
Dar ordens aos filhos é uma arte. A seguir algumas sugestões práticas que você pode testar em sua casa. Em primeiro lugar você precisa tomar cuidado para não ser autoritário. É diferente ter autoridade e ser autoritário. Ser autoritário é falar coisas do tipo "Faça porque eu estou mandando", “a casa do seu amigo é a casa do seu amigo, aqui quem manda sou eu”. Tudo que é “carteirada” atenta contra a dignidade da criança, que mesmo com quatro ou cinco anos, na cultura atual, é estimulada a perguntar, tentar entender e sente-se humilhada se for obrigada a obedecer cegamente a ordens abruptas e para ela incompressíveis.
Antes de exercer uma posição de autoridade, vale conversar com a criança, ajudá-la a entender e permitir que ela negocie, desde que ela seja respeitosa e negocie alternativas razoáveis (não barganhas). Por exemplo, se ele disser “Posso tomar banho só daqui a 20 minutos, e antes acabar de ver a série? Prometo que vou dormir mais cedo amanhã” é uma tentativa válida de negociar. Diferente de ele barganhar “deixe-me me ver a série até mais tarde e nessa semana eu ajudo você a lavar a louça” (a disposição de ajudar a lavar louça deveria fazer parte da cooperação natural de uma família, não ser moeda de troca). Também não é aceitável ele apenas tentar vencer pela insistência, se habituar a opor-se a regras repetindo de modo insistente cada vez mais alto e rápido que quer ficar ainda vendo a série.
Seja qual for o processo de conversa ao final caberá a você determinar o que deve ser feito, sempre tendo ouvido antes, e explicando o porque decidiu aceitar, ou não, a sugestão de seu filho. Algumas crianças vão aceitar sua ordem, outras tentarão enrolar os pais, e por fim, algumas chegarão à birra. Nesse momento você terá de impor a ordem, mas não aos berros, ou de modo humilhante ou desabafando sua impaciência, e sim com firmeza, mas calma, você deve se posicionar como o veiculador, ou tradutor que transpõe para a criança as regras do mundo e da vida. Isto é, explique de modo conciso que ele terá de obedecer, esclareça que seguir o procedimento que você está indicando é importante por tal e tal motivo (tomar banho para não ficar com eczemas na pele, estudar para um dia ter profissão, etc.).
Explicar ao seu filho é diferente de tentar convencê-lo. Os pais dão ordens, mas são ordens legítimas, baseadas em critérios de saúde, viabilidade prática e ética e não um duelo de vontades arbitrárias. Não se trata de minha vontade contra a sua. A criança talvez possa precisar de algum tempo para se acostumar, mas ela vai tendo desde o início diretrizes claras, sobre qual é a função do pai e da mãe. Deste modo a criança vai aprender desde o começo que as ordens que chegam são maneiras dos pais transmitirem e traduzirem para ela o porquê das coisas e cuidarem dela.
Você encontrará detalhes de como na prática impor limites a crianças de várias idades e adolescentes em meu livro “A arte de dar limites – como mudar atitudes de crianças e adolescentes”. Crianças desde pequenas humilhadas por arbitrariedades, impaciências, desabafos, injustiças tendem a se tornar “aborrecentes”, tal qual crianças que crescem sem limites por pais que deixam tudo. Se praticar com consistência uma educação com autoridade, mas não autoritária, tenderá a ter filhos adolescentes razoáveis e acessíveis. O adolescente que você colhe é fruto da criança que você plantou.