Sozinho ou Solitário?
SOZINHO (A) OU SOLITÁRIO?
Chamou a minha atenção uma matéria em um programa de televisão sobre a diferença entre estar sozinho ou na solidão. A matéria foi concentrada em depoimentos de pessoas que vivem só (não dividem seu espaço com outras pessoas). Infelizmente, embora muito atual, o tema foi abordado de modo bem superficial e o que chamou realmente a atenção foram os depoimentos selecionados para a matéria.
O tom da conversa foi: (...) para que ter alguém aqui me “enchendo o saco”? E ainda teve um senhor que deu o seguinte depoimento: “agora eu posso assistir televisão na hora que eu bem quiser...” – seria cômico, se não fosse trágico...
A principal diferença entre os termos trata de sua própria condição. Estar sozinho é uma condição física. Trata da ausência de outras pessoas em seu ambiente ou em sua vida. Estar só não implica necessariamente em algo negativo. A condição de morar sozinho, dormir sozinho, comer sozinho (dentre outros), permite o pressuposto de outras possibilidades naturais como o contexto (momento da vida), necessidade ou simplesmente uma escolha. O grande Fernando Pessoa escreveu: “Liberdade é a possibilidade de isolamento”. Todos sabemos que em determinados momentos ou circunstância isso é muito importante.
A solidão é um sentimento. Não é uma condição física e sim psicológica. Não é possível estar sozinho (desde que não seja usado como sinônimo de desacompanhado) em uma festa, supermercado ou no centro da cidade. Mas é plenamente possível estar solitário. Não é necessário nos isolarmos para sermos abraçados pela solidão. Essa é uma condição pessoal, particular e íntima.
Voltando à matéria é difícil não refletir sobre os depoimentos: “É bom estar sozinha para não ter ninguém enchendo o saco! ” ou “Posso assistir à televisão quando bem entender”. Serei um adivinho se supor que seus relacionamentos não têm dado certo? Caso contrário, bastaria dizer algo como “é muito bom voltar para o meu cantinho, para as minhas coisas, na minha paz...” – uma escolha!
As pessoas que buscam estar sozinhos em função de limitações, frustrações ou fobias, na verdade ainda convivem intimamente com a solidão, e terminam por mascarar esse sentimento ao atribuir ao outro (agente externo) a responsabilidade por sua condição.
Somos seres sociais e tanto a convivência em grupo, como o relacionamento a dois ou em família é um caminho possível e natural. Não vale a pena abrir mão dessa possibilidade!
Estar sozinho deve ser um caminhar, o trilhar de uma estrada que passa por esse cenário, mas não precisa necessariamente acabar ali. Compreender e interpretar seus hábitos, desejos e manias e alinha-los com suas reais necessidades e expectativas, pode ser um bom começo para trilhar essa estrada com maturidade e tranquilidade.
Quanto à solidão... vamos deixa-la aos poetas, artistas e compositores. A gente se emociona e depois vai para casa ser feliz!
Founder of Pão Prosa | Professor | Researcher | UFPR | 1C CNPq | h-index: 53
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