Como escrever 2.144 palavras, nos dias atuais, sem falar daquele “vírus canalha*”...
Sim, esse é mais um artigo que traz uma reflexão sobre a realidade que vivemos atualmente. Mas vou tentar não usar duas palavras, muito usadas por todo ser humano no planeta Terra (e talvez até por aqueles que embarcaram na SpaceX, sortudos eles, não?..hehe). São elas: aquele vírus com nome de coroa em espanhol e quando uma epidemia ganha dimensões globais, que começa com “P”.
(*Se houver a necessidade de usar essas palavras neste texto, vou mudar para frases e expressões que meu avô Ferdinando Ferracina usava, afinal ele completaria 100 anos no último dia 28 de maio. E vou fazer essa homenagem...)
Esse é menos um dia (sim, agora conto assim: afinal estamos cada dia mais perto do fim da “Canalha*”), e venho aqui “dar asas à minha criatividade, escutar minhas próprias inspirações e encontrar a beleza do que sou capaz”, como as próprias Carmelitas descalças de Cádiz – que vivem a paz de uma clausura – ensinam e pregam.
Desde o dia que eu acordei às 3h34 para anotar algumas ideias em um papel sobre esse artigo, estou pensando em falar para você das particularidades, individuais e coletivas, que os medos primitivos, o isolamento e a angústia vêm trazendo para você e para mim; e o quanto teremos que mudar profundamente em questões como:
- Para o agora, me desligo ou me conecto?
- Como me fortaleço como indivíduo para influenciar o coletivo?
O futuro sempre foi incerto, mas dessa vez até ele deu uma trégua: vai mudar! Isso é certo, e a nossa escolha é de que lado queremos estar. O mais importante é a atitude com que se vive, a interpretação pessoal que se faz da situação, a consciência de que não se trata de uma derrota, como aprendi pesquisando sobre as Carmelitas (conteúdo do Podcast “Autoconsciente”, apresentado por Regina Giannetti).
Você também se sente uma criança, que não pode se despedir do seu cachorrinho, que virou “estrelinha”, e tampouco entendeu o que isso quer dizer ainda? Explico: foi difícil não nos despedirmos da vida social e livre que tínhamos (e não sabemos como vamos voltar a ela...), não? E em um piscar de olhos – com a chegada do “Bunda mole*” – nos vimos isolados ou expostos, vulneráveis e perdidos. Ou seja, dá aquele sentimento de “eu deveria ter aproveitado mais...”.
Porém, isso tudo se resolve como em qualquer outro dilema: fazendo escolhas! Viver e passar o tempo com a sensação de um grande vazio é uma delas. A outra é se ver no topo da cadeia, se adaptar e encontrar sua liberdade interior e seu combustível para se reinventar.
Evitando que me desligar ou me conectar não se torne uma luta contra o cérebro
Falando da primeira questão, “Para o agora, me desligo ou me conecto?”, vivi, fortemente, mais no início da Quarentena, um dilema que me desestabilizou: ou me desligava, ao ponto de não entrar numa bad vibe de notícias ruins e tragédias causadas pelo “Comi que nem um rei*”; ou me mantinha conectado às pessoas, via redes sociais, e aos recursos de entretenimento (as Lives dos cantores e influenciadores que digam!).
Não é porque estou escrevendo que encontrei a fórmula e agora você deve seguir meus passos. Mas vou compartilhar algo que lendo sobre essa fase, me fez criar uma visão própria (o resto vou só compartilhar bons pensadores e teóricos) sobre como me conectar como indivíduo e até onde ir como membro de uma comunidade, como parte do coletivo: o único terreno que realmente te pertence é a sua própria pessoa. Por isso, o desafio vai além de estar sozinho, mas na companhia de nós mesmos.
Esse é um trabalho de desapegar do que antes tínhamos controle, do tipo, nunca mais vou me relacionar de maneira igual com um pacote de pão de forma, sem passar detergente e esponja antes de guarda-lo no armário. Mas ao desapegar disso, há caminhos para se apegar com outros sentimentos em nossas vidas; e minha sugestão vai para a humildade, ou seja, não controle, controle-se!
E aqui vale anotar: “Não são necessários espaços exteriores, mas andar folgadamente no próprio mundo”. Eu disse que essas senhorinhas Carmelitas eram sábias.
Agora para passar para a segunda questão, quero falar de uma palavrinha mágica, que para mim também passará de maneira silenciosa pelo desapego. A palavra é: produtividade! E para isso, vou recorrer à Aisha S. Ahmad, professora de Ciência Política da Universidade de Toronto, que fez uma análise que o legado dessa “que te conserve os olhos, porque a boca...*” vai viver conosco por anos, talvez décadas. “É simplesmente impossível voltar à vida como se nada disso tivesse acontecido. Assim, embora possa parecer bom por enquanto, é tolice mergulhar num frenesi de atividade ou ficar obcecado com sua produtividade neste momento. Isso é negação e auto-ilusão. A resposta emocional e espiritualmente mais saudável seria se preparar para ser mudado para sempre”.
Ou seja, é possível conviver com você mesmo, em isolamento e de uma maneira livre. E a nova relação entre prosperar e fracassar que vai se construindo para um caminho sem volta é uma grande parte dessa resposta. A prioridade agora é desapegar do controle e, principalmente, pensar na segurança da sua casa, mesmo que isso pareça um retrocesso na sua produtividade e uma provação à sua liberdade.
Ser produtivo agora é estar fortalecido como indivíduo e ciente de como fazer o bem para a comunidade é tão simples e valoroso nesses tempos. Ninguém precisa ver e saber que você é produtivo, a partir de agora, por isso eu me refiro à “maneira silenciosa de desapego”. Uma vida de completa exposição nas redes, que apresenta um status de que posso ser um vencedor, frente a um cenário de quarentena, ainda vai envergonhar muito esses influenciadores, ou até mesmo aquela prima ou colega do seu trabalho, daqui uns anos. Estamos vulneráveis sim! E qual o problema?
Aproveitemos a oportunidade para aprender com quem pode nos oferecer algo, que tenha como vivência. E já te adianto, não será com um ex-BBB que você vai abrir sua mente para “esta pode ser uma oportunidade para descobrir a maior e mais genuína liberdade: a liberdade interior, que ninguém pode tirar”, como as Carmelitas nos compartilham com uma vivência genuína e sem exposições.
Ligando a chave da humildade e da liberdade ao conviver com a gente mesmo
Para falar da segunda questão, de “Como me fortaleço como indivíduo para influenciar o coletivo?”, quero continuar na reflexão de Aisha S. Ahmad, quando ela diz que “mais do que nunca, precisamos abandonar o performativo e abraçar o autêntico. Modificar nossas essências mentais exige humildade e paciência. Mantenha o foco nessa mudança interna. Essas transformações humanas vão ser sinceras, cruas, feias, esperançosas, frustrantes, lindas e divinas — e serão mais lentas do que os ‘atarefados’ estão acostumados”.
Com isso, o que quero destacar é que de forma silenciosa essa crise te permite ser mais lento, ou me permite ficar mais distraído. Aquele conceito de que ou você é produtivo e “empreendedor” (com a conotação mais nociva que o brasileiro criou para essa palavra), ou você é um “abraçador de árvores”. Mas lembre-se o que Ahmad disse, o autêntico vai se sobressair ao performativo no meio. Ou seja, preparem-se: as portas estão se abrindo para os “abraçadores de árvores”; afinal “Old ways won’t open new doors”.
E com a opinião de Ahmad, quero fazer um gancho para um novo elemento neste texto, que deixemos que essas novas portas “mudem o modo como você pensa e como você vê o mundo. Porque o nosso trabalho é o mundo. Que essa tragédia, enfim, nos faça derrubar todas as nossas suposições falhas e nos dê coragem para ter novas ideias”. Aqui quero falar sobre os influenciadores, aquele que literalmente lidera rumo a escolhas que façam sentido; como disse Marc Tawil, estrategista de Comunicação, “é sobre o outro e não sobre nós. Porque será uma competência fundamental eleger quem nos influencia, a quem damos este presente”.
Eu não precisaria escrever uma única palavra sobre esses paradigmas. É só apresentar a capa da Marie Claire sobre os “The Real Influencers”. É disso que estou falando... Quando me refiro a “fazer escolhas”, “se ver no topo da cadeia”, “ser autêntico”. E aqui acrescento ser admirado, tornar-se referência e, literalmente, ser Influencer! Ser enfermeiro, há décadas atrás, não passava de uma profissão simpática, mas que silenciosamente era encarada, por muitos, como uma carreira mediana e de pouca prosperidade. E daqui pra frente? Não preciso de pesquisa nenhuma para ter certeza que crianças e adolescentes vão, no mínimo, sonhar em suas brincadeiras que são profissionais de saúde como os enfermeiros.
E nesse ponto quero voltar aos “abraçadores de árvores”, e comprovar que de forma silenciosa esse espaço vai sendo ocupado e temas como sensibilidade, inteligência emocional, empatia e, por que não, depressão, vão surgindo como prioritários. Hetan Shah, diretor executivo da Academia Britânica, afirma que “as epidemias são fenômenos biológicos, mas também sociais”.
A jornalista espanhola, Laura Chaparro, especialista em ciência e saúde, apurou que ao lado de epidemiologistas, matemáticos e cientistas da computação que analisam incansavelmente o movimento do “Graças a Deus... Amém*”, especialistas das ciências humanas também estão trabalhando duro para impedir que a doença se espalhe. São antropólogos, psicólogos ou sociólogos, cujo trabalho não chega às manchetes.
É óbvio que os profissionais de saúde merecem aplausos eternos e são sim mais do que influenciadores do presente e do futuro: são heróis. Mas não super heróis! Uma “carroção*” acaba gerando boatos e incertezas, que os jornalistas e psicólogos podem entrar para essa “Liga de heróis”; ou os economistas, afinal eles podem aconselhar as empresas, pequenos empresários ou até mesmo governos a enfrentar uma crise econômica sem precedentes de forma humana. Quem sabe seja o momento desse dinheiro, “de sobra” no mundo, ir parar em mais mãos?
Ou seja, os profissionais das ciências sociais tem as portas mais do que abertas para fazerem a diferença e deixarem para baixo do tapete um possível conceito de improdutividade ou insucesso falido para se tornarem influenciadores, que ligam a chave da humildade e da liberdade para que o individual influencie o coletivo. Marc Tawil também comentou que 2020 marca a mudança profunda desse pensamento sobre influenciadores.
“Entre os aprendizados, trazidos pela “essa vista é um presépio*”, está uma real abertura de consciência, que já nos faz discernir entre aquilo que presta e aquilo que não mais merece o nosso tempo ou atenção. Pela primeira vez em muito tempo, teremos a oportunidade de aplaudir heróis de verdade, uma gente melhor para o mundo (e não apenas do mundo), pessoas que engajam para o bem, propagam ideias e constroem pontes e não muros”.
Concluindo essa segunda questão, ligar a chave da humildade e da liberdade ao conviver com a gente mesmo tem a ver com o outro. É preciso “se acolher” dentro desse novo cenário para que seja possível acolher o outro, seja como forma de influência, seja operando um respirador ou somente sabendo que viver em comunidade é, às vezes, somente ficar em casa em isolamento e ajudar a poupar vidas e reduzir uma tal de “curva”...
Se você não tem certeza se está praticando sua visão de viver em comunidade, ouça o genial filósofo Mario Sergio Cortella. “Há uma imensa diferença entre agrupamento e comunidade; esta pressupõe partilha de interesses e cuidado protetor mútuo, enquanto aquele resume-se a uma simples agregação de pessoas com raros objetivos coletivos comuns, pontuado por sinais de uma filantropia que, no mais das vezes, por ser calculista e interesseira, beira o cinismo utilitarista”.
E se você está certo de que está praticando esse exercício de altruísmo, ouça o Cortella também. “Em meio à multidão (e o sabemos por experiência própria ou relatada) é possível sentir-se sozinho; conhecemos, por nós ou pelos outros, a condição de viver em cidades com milhares e milhares de outras pessoas e, ainda assim, experimentar e desejar a solidão. De uma certa maneira, essa realidade angustiante nega uma das mais fortes convicções do filósofo francês Gabriel Marcel que, em meados do século 20, acreditava que ‘a solidão é essencial à fraternidade’”.
“Não se conforme com o que conhece e sabe… agora que há a oportunidade, abra-se a novidades que lhe acrescentem sabedoria e a encham de alegria. Esta é uma oportunidade para viver a comunicação a um nível mais profundo, mais íntimo. Fale com quem está em casa com tranquilidade, sem pressas, escute-os até que terminem, deixe que o diálogo faça crescer a confiança e as confidências construam cumplicidade. Diga aquilo que nunca tem tempo de dizer, conte o que sempre quis contar, fale de tudo e de nada, mas com carinho, que é o que chega à alma e nela se aninha” - Carmelitas descalças de Cádiz
Parabéns, uma das inúmeras coisas que aprendi e desenvolvi nos anos de estudo e prática de RH, é sempre reconhecer uma pessoa, quando o feito por ela, foi executado, criado de maneira brilhante. Ótimo texto, com fundamentação e criatividade, inspirador. Apesar de estar chegando aos 60, e ainda não ser avô, consigo imaginar a alegria e o orgulho do seu avô, seja em qual nuvem do céu ele esteja agora descansando. God Bless All!
Superintendente Recursos Humanos | Business Partner | Desenvolvimento Organizacional | Educação Corporativa | Gestão de Desempenho | Comunicação Interna | Remuneração | Benefícios | Operações e Serviços de RH
4 aEsse é meu garoto! 🤩
Head of Digital Marketing at Opaque Perfumes e Cosmetiques
4 aPor questões óbvias este texto me tocou demais (tivemos a honra de compartilhar o mesmo avô, dono dos asteriscos) E também por conta de todo seu conteúdo instigante, que me fez parar e pensar. Brilhante primo. Brilhante. 👊🏼
Executivo de Comunicação | Comunicação com colaboradores | Métricas e indicadores de Comunicação | Employer Branding | Cultura organizacional | Gestão de crises | Palestrante
4 aAgradecimentos a Regina Giannetti D. Pereira, Marc Tawil, Hetan Shah, Mario Sergio Cortella