Como estou lidando com meu diagnóstico de TDAH?
Pouca gente sabe, mas a pouco mais de um ano e meio fui diagnosticado com TDAH, o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade.
Apesar de ser um choque como qualquer diagnóstico isto me ajudou muito a me entender e tirar diversas culpas que carregava desde a infância.
Por ter pegado gosto por estudar, como disse em um texto anterior, prestava muita atenção na explicação da professora, copiava a matéria com muita atenção, e por interesse de aprender mais lia os livros mesmo antes de ser a matéria que ia estudar naquele período letivo.
Isto era meu hiper foco em ação, neste caso me auxiliando.
Mas ao se aproximar dos períodos das provas eu não conseguia parar para estudar. Não conseguia abrir o caderno ou os livros. Não sentia esta necessidade.
Para mim eu havia aprendido somente com o que a professora havia ensinado, mesmo que um bimestre inteiro tivesse passado.
E hoje eu entendo que a dopamina de me imaginar tirando uma boa nota e me imaginando ter o conhecimento necessário para fazê-la bem era o suficiente.
Isto se aplicava também quando precisava fazer trabalhos escolares. A falsa confiança que eu tinha de que realizaria aquela tarefa em poucas horas me deixava sempre na situação da síndrome do estudante, onde eu sempre deixava as coisas para última hora.
Me imaginar fazendo um trabalho maravilhoso novamente me preenchia e fazia com que eu perdesse o senso de urgência, de que não precisaria fazer aquilo naquela hora, porque foi tão fácil e tão gostosa a sensação de concluir o trabalho, que é realmente como se ele estivesse feito.
E aí entramos na terceira característica que me acompanha até hoje:
Por amar ler, ter momentos de hiper foco onde fico horas estudando, os mais diferentes assuntos, ter tido as minhas fases de blog, podcast, vídeos, séries, livros, todo tipo de coisa, me tornei uma pessoa muito criativa.
O meu jeito de fazer amizades e quebrar gelo é fazendo piadas, todos que me conhecem sabem desta característica, e modestamente adapto piadas rapidamente a situações que podem ter acabado de acontecer.
Isto também me dá uma capacidade muito grande de imaginar soluções para problemas, novos produtos, novas coisas para fazer e testar.
Mas notaram um padrão?
Eu imagino tanto estas coisas, com tantos detalhes, que me preencho só pela realização imaginada, e abandono os projetos muitas vezes mesmo antes deles começarem.
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Meus maiores motivadores são prazos, principalmente os curtos, onde eu não tenho espaço para procrastinar. Nada me coloca mais em ação que um prazo perto de ser estourado, ou até mesmo já estourado. Só aí o meu senso de urgência parece perceber a situação.
E isto é potencializado por burocracias. Tudo aquilo que, infelizmente eu não percebo valor acaba indo para uma área que eu sempre vou deixar para depois, e muito provavelmente cairá na área do esquecimento onde serei cobrado e finalmente executarei.
E logicamente com o tempo passando outras coisas que me sobravam agora são um problema, como a memória.
Hoje sou muito claro e sincero quando digo que se não está na minha agenda não existe. Se combinarmos algo, por favor imediatamente me mande um convite para a minha agenda.
Tento o tempo todo voltar a usar aplicativos de gestão de tarefas, mas que depois de um tempo abandono por causa do pensamento de que é uma burocracia.
Na verdade, me empolgo no começo, construindo todo um sistema de produtividade, e ... bom acho que já deu para entender o que acontece.
Tenho, como todo mundo da nossa área, dezenas de cursos que nunca cheguei abrir, livros e mais livros digitais na pasta de e-books que que nunca passei nem da introdução, pago diferentes serviços de entretenimento e de estudos, e todos eles vão acumulando. A minha vontade é de fazer tudo, o meu tempo daria para fazer algo, mas sem foco acabo não terminando nada.
Recentemente instalei na minha máquina pessoal um aplicativo que monitora tudo que faço e me traz relatórios, e constatei que procrastino pouco nos meus projetos pessoais, e pretendo em breve fazer o mesmo para o meu horário de trabalho, mas pela quantidade de reuniões e coisas que faço no dia a dia, creio que chegarei em resultados parecidos.
Ainda estou tentando descobrir os melhores caminhos, logicamente ouvindo outras pessoas com o mesmo transtorno que o meu, e experimentando para ver o que funciona, com a certeza de que cada um de nós é diferente, e tudo bem se não funcionar.
Mas comemoro cada dia que concluo ao menos duas ou três coisas que havia me programado, que dou atenção a pelo menos um dos meus hobbies, que vejo no relatório agora que fiquei mais tempo em sites de referência do que em vídeos que consomem o meu tempo, e assim vou vivendo um dia de cada vez.
Se você se identifica e não tem um diagnóstico, procure ajuda, mas sem um viés, afinal a nossa realidade nos leva a achar que fazemos menos do que poderíamos.
Se você tem diagnóstico e alguma coisa que eu disse te ajudou, ou se você tem mais alguma dica que não está aqui, pode deixar nos comentários, ou se não se sentir confortável em se expor, mande uma mensagem no privado.
Independente de como, será um prazer trocarmos figurinhas.
Agora que eu terminei de escrever este texto, e estou tentando ganhar esta rotina de escrever todo dia, deixa eu voltar para minha próxima atividade, que espero eu não esteja atrasada!
Engenheiro de Suporte Senior @ Microsoft | Azure, Security, DevOps
9 mCara. Me identifiquei demais com tudo que você disse. Acho que vou fazer um teste.
Master in connecting and inspiring people | Mentor | Speaker | People Manager | Master Professor | Business Manager | Ex Microsoft | NPO founder | Board Member | Startup Advisor | CEO
9 mParabéns por mais essa iniciativa Alexandre Santos Costa. Você e sempre será um profissional mais valioso! MVP! MVP! MVP!
CEO (e Fundador) na Tudo é acessibilidade
9 mGostaria de comentar algo de forma mais profunda, mas se assim o fizer vou atrasar a minha próxima tarefa que já pode estar atrasada... e bom, enfim, você já sabe do que estou falando. Vou marcar na sua agenda aquele café... 😂
Founder & CEO at B2Mark | Product Marketing Manager at J-Oplium | Cybersecurity & Digital Marketing Specialist | Champion of FIAP's 2023 StartupOne | Multi-Awarded Video Creator
9 mRelato muito sincero e corajoso, num lugar onde soa muito pertinente mostrar "produtividade". Parabéns! Ansiosa pelos próximos textos!