Como garantir uma assistência à saúde de qualidade diante da formação insuficiente dos profissionais de saúde?

Como garantir uma assistência à saúde de qualidade diante da formação insuficiente dos profissionais de saúde?

Sempre que converso com gestores de diferentes serviços de saúde, públicos ou privados encontro uma dor em comum: a qualidade de formação dos profissionais de saúde. A formação dos profissionais de saúde no Brasil, incluindo médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem, enfrenta desafios significativos em relação à qualidade e à adequação às necessidades reais do nosso sistema de saúde. Essas dificuldades são agravadas pelos efeitos da pandemia de COVID-19,  crescimento da oferta de cursos de ensino a distância (EAD), que têm suscitado debates acalorados sobre sua eficácia na preparação de profissionais para áreas tão complexas e delicadas.

 

Na pandemia de COVID-19, devido ao fechamento das instituições de ensino para evitar a propagação do vírus SARS-COVD-2, as universidades e escolas técnicas tiveram que migrar rapidamente para o ensino a distância. Isso significou que a formação teórica continuou de forma remota, mas muitas das experiências práticas essenciais foram interrompidas ou adaptadas para um formato online.

 

A proliferação de faculdades de medicina nos últimos anos, muitas vezes sem infraestrutura adequada ou corpo docente qualificado, tem gerado preocupações sobre a qualidade do ensino médico. Estudantes formados em instituições que não oferecem experiências práticas suficientes, como estágios em hospitais bem equipados, podem não estar preparados para enfrentar os desafios reais da prática médica.

 

A enfermagem também enfrenta desafios similares. Muitas instituições de ensino apresentam lacunas na formação prática com carga horária prática insuficiente e supervisão de campo deficitária. A baixa remuneração dificulta a atração de bons profissionais para o ensino em enfermagem. Infelizmente a maioria dos professores possui pouco tempo de formação, pouca ou nenhuma experiência prática e recebem baixos salários.

 

A introdução do ensino a distância (EAD) para cursos de saúde é um dos aspectos mais controversos do debate sobre a qualidade da formação. Embora o EAD ofereça flexibilidade e maior acesso ao ensino, há uma crescente preocupação de que ele possa fragilizar a formação dos profissionais de saúde.

 

Diante desse cenário, os serviços de saúde têm buscado alternativas para mitigar os efeitos de uma formação deficiente. Muitos hospitais e clínicas estão investindo em programas de treinamento e capacitação contínua para os recém-formados, a fim de garantir que esses profissionais adquiram as habilidades práticas que não foram adequadamente desenvolvidas durante sua formação acadêmica.

 

No Hospital Vitória, em parceria com o Centro de Capacitação e Desenvolvimento Humano da FEAS, estamos desenvolvendo o Programa de Atualização em Enfermagem (PAE) para os profissionais técnicos de enfermagem. O objetivo é promover atualização em competências e habilidades de enfermagem com foco em atuação em unidade hospitalar integrando ensino-serviço.

 

O programa envolve atividades teóricas e práticas e distribuído em 3 estações (módulos): cuidados básicos de enfermagem, procedimentos de enfermagem e atendimento de emergência e cuidados intensivos são realizadas durante o período de trabalho na instituição. Com 130 horas de formação previstas, os participantes receberam um certificado de “Aperfeiçoamento em Assistência de Enfermagem Hospitalar”.

 

Uma instituição comprometida com qualidade assistencial precisa investir no desenvolvimento dos seus profissionais, diante dos problemas de formação dos profissionais de saúde atualmente e que repercutem em risco assistencial. Para a mudança do cenário, é necessário um pacto entre todos os envolvidos da esfera pública e privada pela qualificação da formação dos profissionais de saúde. Um cenário de crise como o da saúde suplementar e de desafio de financiamento do SUS não pode ser enfrentado sem pessoas capazes de cuidar com qualidade e práticas sustentáveis.

Julienny Bastos

Enfermeira | Pós-Graduação em Urgência e Emergência | Experiência em Pronto-Atendimento, Atuação Multissetorial e Gestão de Equipes

3 m

✨👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos