Como lidar com o desnude político no ambiente corporativo?
Entre 4 anos, política não costuma ser a pauta principal em ambientes corporativos. Aparece ali ou aqui com um projeto de lei ou decisão do STF, mas nada comparado ao jogo do Flamengo de quarta-feira (quem dirá o título da libertadores).
Porém, a regra mudou nos últimos 2 meses. Decisões foram tomadas, apoios declarados, projetos defendidos e ofensas proferidas.
A genuína fé na completa destruição das instituições na hipótese da vitória do lado opositor dificultou cada linha de conversa (que evoluíram para debates, que se tornaram brigas). O papo da copa ficou pesado e estranhamentos aconteceram. Mas, e agora?
Do ponto de vista político-institucional, os próximos meses serão de transição. O novo governo precisa aparar as arestas, precisa haver um diálogo, cada vez mais distante, entre o vencedor e vencido.
Contudo, para nós (o grande público votante e não votado), resta a convivência. Esse não é um texto para falar de como todos deveríamos dar as mãos e cantar Imagine. Reatar laços parece uma tarefa mais difícil do que foi em 2018, contudo, projetos precisam ser fechados, empresas tocadas e a vida vivida.
Dentro desse contexto, duas coisas chamam a atenção e merecem destaque:
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Em primeiro lugar, a cultura de cada empresa terá seu teste final nas próximas semanas. Se o ambiente interno de cada departamento já sofreu graves tensionamentos nos últimos meses e, em muitos casos, se mostrou antiético e tóxico (vide as denúncias de assédio eleitoral), resta um desafio final para aqueles que escolheram manter suas diretrizes éticas e democráticas.
A vitória de Lula pode significar muitas coisas nos próximos dias: uma insurgência da parte vencida, ameaças de golpes de estados, alegações de fraude eleitoral. E se no cenário anterior, onde Lula e Bolsonaro competiam pela vitória, já ouve uma significativa dificuldade de manter a casa em ordem, quem dirá agora, onde uma parte venceu e a outra pode tomar decisões cada vez mais extremas.
Cabe à organização, ao mesmo tempo que busca manter os direitos de expressão resguardados, evitar que um clima de guerra permanente contamine toda a estrutura empresarial.
Em segundo, é o momento de ressaltar os princípios de uma convivência profissional. Nesse momento, onde cada pessoa foi julgada por seu posicionamento, pode existir uma tendência entre associar a pessoa votante aos problemas do candidato, logo, questionar sua técnica, sua competência, seu caráter. Tudo baseado, unicamente, na sua escolha política para presidência.
Diante desse cenário, é papel das empresas ressaltarem seus processos internos de avaliação e acompanhamento profissional. Profissionalizar cada vez mais as 1:1s e checkpoints de desempenho com objetivo de evitar avaliações subjetivas e injustas.
Como de costume, o futuro guarda um desafio particular para cada pessoa e organização. Possuir valores e processos sólidos representará, mais uma vez, a diferença entre o sucesso e fracasso no longo prazo.