O aprendizado não depende de cursos, mas depende de método

O aprendizado não depende de cursos, mas depende de método

O início de carreira de recém-graduados costuma envolver uma busca incessante por cursos livres e pós-graduações. Mestrado, MBA, Cursos rápidos: tudo que sirva para enfeitar o currículo e  “se destacar” parece ser válido.

Contudo, existe uma diferença crescente entre adquirir um diploma e um aprendizado eficaz. Por dois motivos.

Em primeiro, a quantidade de opções no mercado é inversamente proporcional a qualidade do conteúdo passado. Basta uma rápida busca por "MBA" no Google que será possível se deparar com grades horárias curtas, currículos enxutos e aulas gravadas há mais de 6 meses.

Em segundo, a resolução de problemas nos ambientes educacionais é diferente (e muito) da resolução de problemas reais. Enquanto cursos apresentam um ambiente controlado onde a solução é encontrada após as instruções serem seguidas, as respostas para perguntas reais demandam uma interdisciplinaridade pouco ensinada.

A razão dos referidos motivos ocorrerem reside na (a) demanda por conhecimento especializado nas empresas nunca ter diminuído e (b) a estrutura de um curso online poder ser menos custosa e de fácil "escalada", ou seja, aumenta-se o número de alunos (faturamento) sem precisar aumentar seus custos (professores, estrutura física, marketing) na mesma proporção. Então, cada curso torna-se uma potencial "mina de ouro", independente de sua qualidade.

Contudo, a realidade é que o ato de aprender não precisa passar pela realização de cursos, especialmente os pagos.

Se consideramos que as informações passadas nas aulas são recortes de uma bibliografia básica para aquele assunto, compreender a temática de modo abrangente é o ideal. A busca direto na fonte (ou seja, nos livros) pode evitar que você fique refém de didáticas questionáveis, imprecisões interpretativas, superficialidades teóricas ou até mesmo erros de fato.

O método de Leitura Estrutural

Porém, alterar o local de busca não é o suficiente para um aprendizado eficaz. Deve-se adotar uma técnica que faça sentido para que as informações contidas ali possam ser aplicadas nas atividades pretendidas.

Nesse sentido, entre os diferentes métodos possíveis, apresento o método de Leitura Estrutural¹, útil para a compreensão e catalogação das ideias de autores, independente da dificuldade do texto lido. Nas palavras do seu idealizador, professor Ronaldo Porto Macedo,

"[n]este tipo de leitura se admite a premissa metodológica (ainda que provisória) de que um texto deve ser lido como parte de um sistema coerente de argumentos, conceitos e proposições. Assim, diante de eventuais lacunas e aparentes contradições, o leitor deverá, antes de tudo, procurar a interpretação que permita recuperar a coerência e a lógica interna dos argumentos" (MACEDO JÚNIOR, 2007, p. 5).

Seu método pode ser compreendido em duas frentes: os tipos de leitura e a descrição estrutural.

Acerca dos tipos de leitura, destaco dois: a rápida e a devagar. A Leitura Rápida é uma ferramenta útil e auxiliar da leitura devagar, especialmente para verificar se aquele texto merecer ser lido, ao passo que a Leitura Devagar é onde se busca compreender as ideias centrais do autor.

Na Leitura Rápida, Macedo Júnior destaca técnicas como exercitar a busca por palavras-chave, compreender a obra como um conjunto lógico de argumentos, uma leitura atenta aos primeiros e últimos parágrafos do texto, entre outras. Para a Leitura Devagar, a dica principal é responder a pergunta: "por que o autor está construindo a sua argumentação desta forma?".

Após a leitura, passa-se para a descrição estrutural. Trata-se da elaboração de um esquema que auxilia no reconhecimento e na visualização da estrutura interna de um texto, na sua arquitetônica conceitual e nos seus movimentos.

Nesse esquema visual, as ideias principais (entre elas, a central) recebem um número sozinho. As ideias secundárias possuem um número referente à sua ideia principal, acrescido de outro que indica a ordem em que aparecem e assim sucessivamente, conforme a imagem abaixo:

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Conclusivamente, defende-se que: (a) um curso pode ser uma ferramenta útil para o aprendizado, porém, além de não ser a única, ele deve ser escolhido com base no corpo docente que ministrará as aulas; e (b) a racionalização do processo de leitura de um texto é essencial para o progresso intelectual do leitor.

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(1) As informações completas e dicas sobre o Método de Leitura Estrutural podem ser encontradas em: MACEDO JÚNIOR, Ronaldo Porto. Método de Leitura Estrutural. São Paulo: Cadernos Direito GV, v. 4, n. 2. ISSN 1808-6780, mar. 2007, pp. 41.


Sobre o autor: Pedro César Sousa Oliveira é mestrando em Direito pela Universidade Federal de Uberlândia. Atua como Consultor Pleno de Open Source Intelligence na Aliant.

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