COMO LIDERAR À DISTÂNCIA?
Em época de pandemia a pergunta que dá nome a este artigo se mostra muito pertinente. Mas para respondê-la é importante ficarmos na mesma página, revisitando alguns conceitos. Então, vamos antes falar sobre o que é liderar, sobre relacionamento e, por fim, tratar de equipes virtuais ou remotas.
Fui escoteira a vida toda e por isso tenho certa familiaridade com hierarquia, regras, desempenho e liderança. Mas confesso que por tempos me deixei levar pelo mito da liderança nata. Eu achei por bastante tempo que algumas pessoas nasciam prontas para liderar. Com o passar do tempo entendi que liderança é uma habilidade que assim como várias outras exige treino. É claro que se você, assim como eu, é mais falante e aberto às relações, terá mais chance de ser influente. Mas percebe que essas são características que facilitam o caminho, mas não garantem a chegada e nem a excelência na execução? Lembro de ouvir em diferentes fases da vida que eu era líder. E essa afirmativa – dependendo do meu humor - me enchia de orgulho ou de pressão para continuar tomando decisões mesmo que eu estivesse cansada.
Ok, mas qual seria a definição de liderança? Ken Blanchard diz que é
a capacidade de influenciar os outros a liberar seu poder e potencial de forma a impactar o bem maior, isto é, o que é melhor para todos os envolvidos.
Opa, por essa afirmação podemos inferir que manipular não é liderar. Afinal, quando eu manipulo foco no que é bom para mim e não para os envolvidos. Podemos também dizer que liderar dá trabalho, visto que uma das missões é despertar o outro. Adorei a definição de Blanchard, pois dialoga com o que aprendi no budismo (escoteira, budista... que pessoa peculiar! 😊) que o mestre treina discípulos para serem melhores que ele. Pensando assim liderar é serviço e não diz respeito a você, mas ao cliente – o liderado.
Muito se tem falado sobre as competências necessárias para o líder do amanhã. Denize Dutra, Coordenadora do MBA de Gestão Estratégica de Pessoas da FGV, aponta gerenciamento de incertezas, autoaprendizado, gerenciamento de talentos, competitividade e adaptabilidade como os cinco principais. Concordo com ela e penso que essas são competências que todo ser humano precisa desenvolver para sobreviver. Sendo tão necessário, vamos olhar com lentes de aumento cada um.
- Gerenciar incertezas é saber que planos não são escritos na pedra. É o famoso jogo de cintura para se reinventar quando tudo dá errado que me toma tanto tempo na análise. É olhar lá na frente e propor melhorias.
- O segundo ponto, autoaprendizado, dá uma informação que você já deve ter. Acabou aquele papo de “conclusão dos estudos”. Temos sempre algo a aprender, reaprender e desaprender.
- Já sobre os talentos, o pulo do gato é a diversidade. Sim, pessoas com bagagens, formações e histórias diferentes podem demorar mais para chegar ao resultado, mas as decisões são sempre maiores e melhores.
- Competitividade trata de estar orientado aos resultados.
- E, por fim, adaptabilidade é entender que mudanças são convites da vida e que precisamos tirar proveito delas.
Eu disse que concordava com as características sugeridas por Dutra e que as considerava fundamentais para sobreviver. Chegamos, então, ao segundo ponto do artigo. Vamos falar sobre relacionamento. Sim, porque se liderar é despertar o melhor das pessoas, é também ser especialista em gente. E essa é a minha parte preferida! Verdade, meu propósito é contar histórias de pessoas para pessoas. Logo, gente faz meu olho brilhar. E não é porque eu amo que nego que relações humanas dão um baita trabalho. Eu não acredito – me desculpo desde já – em relação sem esforço. Isso porque a meu ver se relacionar exige mergulhar no mundo alheio, significa ser para o outro o que ele precisa que você seja. E, claro, já que vai envolver empenho, precisa valer a pena para você. Como dizem por aí, “não existe almoço grátis”.
E agora que já entendemos que liderar é influenciar e contribuir para a manifestação do melhor potencial do outro, sabemos também que liderança não tem relação exclusiva com o ambiente corporativo. Podemos atuar como líderes entre amigos, familiares, na rua, na chuva, na fazenda... enfim, vivendo somos líderes. Se seremos bons ou más líderes depende da nossa consciência e empenho em querer fazer dar certo. Isso passa por ser mais ou menos diretivo, “ler” o cenário e a maturidade do outro para realizar determinada ação e estar presente. Atender ao outro com exatamente o que ele precisa pode ser resumido em escutá-lo ativamente.
Um colaborador novo, por exemplo, vai precisar de ambientação para executar com maestria sua tarefa. Ele não conhece as pessoas, processos, espaços, culturas e não vai “rodar sozinho” desde o primeiro dia. Para que ele chegue a esse nível de performance precisa ser direcionado e apoiado. Obviamente, com o passar de seis meses, ele precisará ser bem menos monitorado. Note que você e o liderado ainda são os mesmos, mas em circunstâncias diferentes. Isso é o que Blanchard chamou de liderança situacional. Ou seja, é a relação entre o estilo do líder, a maturidade do liderado e situação encontrada. No lugar do colaborador poderíamos colocar um filho, amigo, parceiro, qualquer pessoa. Então, não existe receita de bolo, certo ou errado no jogo da liderança. Existe o estilo de liderança alinhada à ocasião. Não se choque! Eu disse que dava trabalho se relacionar e que liderança era serviço.
Vamos agora falar sobre liderança à distância. Mas você já deve ter entendido até aqui que longe ou perto liderar é manter bons relacionamentos que resultarão em entregas ricas, tendo a confiança como base. Aliás, ótimo gancho. Muitas empresas criticavam o trabalho remoto e agora, com a pandemia, são obrigadas a acatá-lo. Talvez as instituições ainda estivessem apegadas aos contratos que preveem 8h de trabalho com pausa para almoço. Enfim, a palavra de ordem por tempos foi controle e agora, sem nenhum aviso, precisamos substitui-la por confiança.
Se você já tinha essa palavrinha (confiança) como essencial nas suas relações, parabéns! Você deve apenas ter acrescido a tecnologia à rotina. Agora, se o controle era o elo, precisamos correr e mudar. Independentemente de qual caso seja o seu, contará agora com o apoio do Professor Marcos Bidart. Vamos às dicas riquíssimas:
- Conheça sua equipe – olha o relacionamento aí de novo! Sim, se eu conheço as características das pessoas, sei exatamente para quem e como delegar as tarefas.
- Oriente – todo time precisa de direcionamento, mas o remoto precisa ainda mais. Você já deve ter notado que com a distância perde-se um bocado da comunicação (feeling, expressões faciais, tom de voz e até de urgência...)
- O óbvio precisa ser dito – deixe todos na mesma página. As regras devem ser claras para todos os jogadores. Suposições são geradoras de conflitos.
- Longe, mas conectados – apesar da distância, vocês seguem sendo um só time e precisam trocar boas práticas, experiências, ideias e documentos. Deixe que todos saibam quais são as ferramentas oficiais de diálogo e aposte no trabalho e aprendizado em conjunto.
- Rotina – é importante que as agendas sejam compartilhadas e as metas e prazos de resposta estabelecidos. Quanto às reuniões, que sejam feitas em horários oportunos. Não é legal e nem produtivo trocar ideia na hora do almoço. Alguém pode estar ainda com fome, pois preferiu se alimentar depois, ou irritado por ter comido correndo.
- Técnicas de Rapport – nada de começar a reunião já com foco em trabalhos e entregas. Pergunte sobre as pessoas, sensações e suas famílias, por exemplo. Gere conexões, invista em conhecer o time de verdade.
- Etiqueta – atenção ao horário de envio de mensagens e ligações. Só ultrapasse o horário corporativo se for realmente necessário e acordado. Nada de invadir o limite entre o pessoal e profissional. As pessoas estão em casa, mas ainda têm outros compromissos e responsabilidades.
- Sorria, você está sendo filmado – use e abuse da câmera. Isso torna a reunião menos fria e aproxima as pessoas. Olhar nos olhos faz a gente acreditar que está no mesmo ambiente e, principalmente, se portar como tal.
- Mantenha uma rotina de contato com os indivíduos da equipe e grupo como um todo. De novo, conheça a realidade e necessidade das pessoas.
- Escute – essa última dica é do Marc Tawil, estrategista de comunicação. Ele diz que
quem não escuta direito não tem como falar ou fazer a coisa certa.
Então, ouça com atenção o que o time diz e diga “oi” ao sucesso.
Por Ana Paula Castro Dourado
Gerente de Comunicação na Toyota
4 aExcelentes reflexões. Liderar não é fácil, é um processo que a gente aprende e evolui a cada dia. Obrigado por compartilhar e ajudar a todos da rede a crescerem!
Melhoria Contínua, Gestão de pessoas, Engenharia de Processos, Engenharia da Qualidade, Engenheiro de Produção Mecânica, Black Belt, Treinamentos
4 aQue artigo bacana Ana! Parecia que estava ouvindo você falar! Muito pertinente e bem colocado. Tenho orgulho de ter uma colega carioca, escoteira, budista e líder! Sucesso!!!
Communication, Employer Branding, Culture, Engagement and D&I
4 aAna, muito boa a reflexão. Há tempos a ideia de “chefe” e “subordinados” têm caído e agora, mais do que nunca, a confiança é fundamental. Não são tempos fáceis para os líderes, nem para os liderados. Espero que o seu artigo (super-ultra-mega orientativo) chegue a muitos líderes e futuros líderes aqui no LinkedIn!
Diretor de Gestão na Witzler | Energia
4 aParabéns Ana... Excelente, 🤔 qualquer hora destas vamos trocar uma idéia sobre este tema e quero colocar algumas situações que tenho observado. Um abraço.
Produção | Green Belt Six Sigma | Suplly Chain | DHO | Educação Corporativa | R&S | HRBP | Gestão da Mudança | Cultura Organizacional | Coach | Mentor | Aprendente | Docência
4 aExcelente Ana! Adorei, principalmente pela abordagem...