Como o Compliance Pode Contribuir Para um Ambiente de Trabalho Mais Saudável, Mesmo que a Distância?
Daniel Sibille e Amanda Seymour
Uma coisa é fato: ninguém esperava uma pandemia como essa em pleno 2020. Já estamos há sete meses em casa, todos juntos, mas isolados e com muita improvisação. Mesmo aquele ultra planejado precisou se adaptar de uma maneira sem precedentes para manter o emprego, abrir uma empresa às pressas ou simplesmente continuar tocando todas as atividades remotamente.
Não vou nem falar que estamos sobrecarregados e nos virando nos trinta com tudo o que tem acontecido no mundo e nas nossas casas, pois seria mero eufemismo. Fato é que ninguém está normal e o “novo normal” não é tão normal assim, pois não sabemos ainda quanto tempo esta pandemia vai durar, suas consequências reais e como se desenhará o futuro. Mas é verdade que sim! Nestes últimos sete meses saímos completamente de nossa zona de conforto, tanto na vida profissional, quanto na vida pessoal, não é mesmo?
Quando falamos de vida profissional, muitas empresas evoluíram tecnicamente de forma impressionante, aceleraram os seus processos digitais e tecnológicos. Porém, em meio a toda esta mudança e evolução, você já parou para pensar no clima de sua empresa? Será que os gestores têm conseguido manter as suas equipes motivadas e rendendo da forma esperada? Como realizar aquelas reuniões de feedback com profissionais sofrendo com tanta incerteza e indecisão?
Difícil… E muito!
Até aí “tudo bem”, mas você pode estar pensando “o que o compliance tem a ver com isto? ”. E eu te respondo: temos muito a ver. Conversando com muitos colegas de área, é notório que o número de denúncias por motivo de assédio moral vem crescendo exponencialmente. E não é necessariamente porque não sabemos mais trabalhar em equipe ou porque perdemos o nosso senso de respeito e empatia. A verdade é que, além das condições nada normais de trabalho, muitas pessoas querem mostrar trabalho e eficiência, pois estão com medo de perderem seus empregos. Estamos todos com os nervos à flor da pele.
Os gestores, incluindo a alta administração, desempenham papel fundamental para contribuir com um ambiente saudável de trabalho. Primeiro mapeando todas as atividades da área e depois pensando em como serem flexíveis, levando em consideração a realidade de cada colaborador. Numa mesma equipe é possível ter uma pessoa que mora sozinha, sem filhos e outra com filhos pequenos em idade escolar. Além de tudo que estamos falando, não podemos esquecer da educação à distância, que tem sido um verdadeiro desafio na vida de muitos pais e familiares. Então não é possível fazer gestão e cobrar a mesma eficiência de ambos colaboradores. É preciso estar atento aos horários que são trabalhados, e se as metas estabelecidas para os colaboradores não estão ultrapassando o limite e virando metas abusivas. Aplicativos de conversas devem ser utilizados com bom senso. Eu já presenciei diversos gestores falando que mandam a mensagens em determinados horários, mas que não esperam que seus colaboradores respondam e, sabemos que na prática, não é assim que acontece. Acabamos por dormir e acordar pensando em trabalho. Os gestores precisam mostrar e disseminar a empatia entre os seus colaboradores, nunca foi tão necessário humanizar as equipes.
Apesar de não ser propriamente um papel do Compliance disseminar esses conceitos e realizar pesquisa de clima, é importante que possamos ser e estar cada vez mais disponíveis para os outros colaboradores da empresa. Sempre frisei entre meus pares que um bom profissional de Compliance é aquele que circula pela empresa, se mostra presente, toma um café vez ou outra com os demais colegas. Fazer isso é essencial para dar proximidade e confiança para nossa área. No mundo virtual isso passa a ser um desafio, por isso é importante que possamos pensar em mecanismos para estarmos presentes e sermos vistos na empresa principalmente como um ponto de apoio. Cinco minutos em um forecast, uma reunião de quinze minutos entre a equipe ou mesmo encontros com profissionais de outras áreas para compartilhar conhecimentos não necessariamente relacionados à compliance podem funcionar muito bem.
Ao se fazer presente, mostre que você está disposto a escutar, mesmo que te procurem para um assunto que às vezes nem diz respeito ao mundo corporativo. Se for relacionado ao trabalho, se coloque no lugar do colaborador (é a regra de ouro). Caso ele traga uma reclamação de seus colegas ou gestor, sobre um possível assédio moral, pergunte se ele não gostaria de formalizar uma denúncia. Digo isto, pois muitas vezes me procuraram para desabafar, mas não quiseram fazer isto formalmente, e está tudo bem. Escute-o e incentive o diálogo entre as partes e, se não for suficiente, peça que colaborador procure a área de Recursos Humanos para intermediar o diálogo. Existe uma linha muito tênue entre um assédio e uma cobrança aceitável, mas como falei acima, nestes momentos estranhos é bastante complexo diferenciar uma coisa da outra.
Aqui vão algumas dicas: revise e repense seu programa anual de comunicação e treinamento, enfatizando temas como Canal de Denúncias e Código de Conduta. Como mencionei anteriormente, não podemos promover encontros físicos, mas podemos pensar em estratégias de nos aproximarmos de forma virtual com as áreas. Planeje bate papos com cada área, relembrando as boas práticas de conduta, reforçando sempre o conceito de assédio moral e deixando claro que práticas assim não são toleradas na empresa. Desenvolva treinamentos mais humanos com perguntas e respostas. Explique como funciona o Canal de Denúncias com exemplos reais e como os colaboradores podem encontrar e utilizar a ferramenta. Aproveite o momento para tirar as dúvidas das pessoas. O que parece simples e trivial para você pode não ser para um outro colaborador. Muitas pessoas não se sentem confortáveis em tirar certas dúvidas na frente dos seus gestores, então porque não pensar em turmas separadas para analistas e gestores?
Junto ao departamento de RH, desenvolva cartilhas de fácil compreensão para todos os colaboradores. Crie um box de Compliance na intranet corporativa, com os principais conceitos e onde eles possam encontrar de maneira fácil as políticas da empresa.
O Compliance tem sim muito a ver com isso, afinal cada vez mais podemos conectar o fator humano a ética e integridade. Então vamos juntos trabalhar por um ambiente corporativo saudável e acima de tudo promover o respeito, a parceria e a empatia, não é mesmo?
Coordenadora de Escrita Fiscal | Advogada
4 aParabéns pelo artigo, muito bom!
Atuo com Compliance e Auditoria Interna. Mestre em Gestão e Tecnologia Industrial, pesquisa na temática Compliance e Cultura Organizacional. Especialização em Gestão de Pessoas e Assessoria a Executivos.
4 aArtigo muito bom Daniel Sibille, CPC-A e Amanda Seymour. Deveria está disponível para compartilhamento!
Head de Compliance | BNP PARIBAS CARDIF BRAZIL | CPC-A, ACAMS, Compliance e Cultura Organizacional - | Professora | Apaixonada por Compliance
4 aVamos juntos!!! Obrigada pela oportunidade de escrever esse artigo com você!