COMO O FUTEBOL CHEGOU NO BRASIL

Alguns relatos apontam que o futebol chegou ao Brasil através de marinheiros ingleses e holandeses que aportaram no nordeste brasileiro, em 1878, e jogavam futebol com a população local. Outros estudos relatam que Mr. Hugh ensinou alguns trabalhadores em Jundiaí, em 1882, a jogar futebol e ainda que foi Mr. John, em 1875, em São Paulo que realmente introduziu o futebol no Brasil. Essa discussão é pelo fato de Charles Miller ter deixado as bolas de futebol guardadas em seu armário desde sua chegada no Brasil em 9 de junho de 1894 até 14 de abril de 1985, deixando em dúvida se Miller tinha ou não, a ideia de introduzir o futebol em São Paulo.

Porém em 1882, Rui Barbosa, chefe da Comissão Estadual de Ensino, destaca a necessidade de introduzir o exercício físico no currículo das escolas primárias e como ninguém essa ideia levou a sério, essa atividade fica à mercê da voluntariedade dos imigrantes europeus ou de um reduzido número de brasileiros que haviam estudado na Europa. E são com eles que aparecem os clubes de lazer e uma forma mais ou menos organizada de exercício físico. Porém isso não foi suficiente para motivar e despertar o interesse brasileiro pela cultura do corpo.

A maioria dos estudos apontam que foi Charles W. Miller (brasileiro de origem inglesa), que introduziu o futebol no Brasil. Com 10 anos de idade, Miller sai do Brasil com destino a Inglaterra, para freqüentar a escola Banister Court School em Southampton que era uma das seguidoras de Cambridge, portanto adepta ao “The Football Association", onde aprendeu a jogar e a amar o futebol, aprendendo inclusive as regras do jogo. Em 1894, ele retorna ao país (em São Paulo) trazendo em sua bagagem as sementes do esporte: duas bolas de futebol da marca Shoot, fabricadas em Liverpool, uma bomba de ar, dois uniformes e um grosso livro de regras sobre um esporte chamado football. Ele acabou divulgando esse esporte entre os ingleses que viviam em São Paulo e que jogavam criket.

O primeiro círculo que cultivou o esporte de uma forma organizada foi formado por sócios do São Paulo Atletic Club, que reunia funcionários ingleses da Companhia de Gás, do Banco de Londres e da São Paulo Railway.

Miller era dotado de incrível habilidade, pois quando morava na Inglaterra, integrou por diversas vezes o selecionado de Hampshire, quando defendia as cores do Southampton Football Club. Além disso, tinha o perfeito domínio das regras do futebol daquela época, chegando até a arbitrar alguns jogos. Amante do esporte, dedicou-se ao futebol durante toda sua vida, hora atuando como atleta, hora arbitrando partidas e por fim, como fervoroso torcedor até seus últimos dias de vida. Faleceu em 1953, no mesmo lugar onde nasceu e iniciou o ciclo futebolístico no pais.

O alemão Hans Nobiling, que chegou da Alemanha (Hamburgo) em 1897, motivou e colaborou com Miller na divulgação e organização de diversas competições de futebol, sendo este, um destacado divulgador do futebol em São Paulo e em todo Brasil.

As primeiras competições eram realizadas no campo de rúgbi do São Paulo Atlétic Club e no Velódromo e a partir daí acontecem uma série de jogos que reuniriam altos funcionários de empresas inglesas e da elite econômica que se interessava pelo esporte.

Nessa época era quase que obrigação à presença do futebol nos colégios ricos como o Alfredo Gomes e o Anglo-Brasileiro, que formavam bons jogadores e passaram a integrar alguns clubes da época como o Payssandu no Rio de Janeiro e o Germânia em São Paulo.

Isso fez com que os alunos, por própria iniciativa, reivindicassem esse esporte como uma forma ideal de lazer, e dessa forma o futebol, torna-se a cada dia, uma atividade mais procurada e mais importante.

Há de se destacar, que boa parte da trajetória inicial do futebol no Brasil possui um caráter elitista, pois os ingleses (primeiros praticantes do futebol no Brasil), faziam parte da elite da sociedade paulista e carioca, e além deles somente os brasileiros ricos tinham acesso à prática do futebol. É preciso levar em consideração que quase todo material necessário para a prática do futebol era importado e muito caro, não sendo acessível a qualquer pessoa aficionada por futebol.

Na condição de maiores metrópoles do Brasil, as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo sempre detiveram o privilégio de lançar novidades para o resto do país, aliás, durante muito tempo, e com o futebol não foi diferente. Foi no Rio de Janeiro e em São Paulo que ocorreram os maiores acontecimentos esportivos do país, mas foi no Rio Grande do Sul que foi fundado o primeiro clube de futebol do Brasil.

Existem relatos que atribui ao São Paulo Atletic Club o primeiro clube a praticar o futebol, que foi fundado em 13 de maio 1888, mas foi em 1894 que Charles Miller, um de seus sócios, introduziu o futebol. O Clube fechou o departamento de futebol no início do século passado, voltando às atividades sociais e esportivas, para as quais foi fundado. O Clube de Regatas Flamengo, fundado em 1895, o Clube de Regatas Vasco da Gama, fundado em 1898, no mesmo ano que a A. A. Mackenzie College (futebol extinto), e o Vitória – BA, fundado em 1898, foram criados para a pratica de outros esporte, envolvendo-se com o futebol somente nas duas primeiras décadas do século passado. O Sport Club Internacional e o Sport Club Germânia, ambos do estado de São Paulo foram fundado em 1899, mas extinguiram o departamento de futebol, todos esses clubes foram fundados com objetivos sociais agregando em suas atividades o futebol.

Em um oficio em 22 de julho de 1975, a Confederação Brasileira de Desportos credita ao Sport Club Rio Grande, do estado do Rio Grande do Sul, o clube de futebol mais antigo do Brasil, fundado em 19 de julho de 1900, por um grupo de jovens alemães , ingleses portugueses e brasileiros com idade entre 20 e 25 anos, liderados pelo alemão JOHANNES CHRISTIAN MORITZ MINNEMANN nascido em Hamburgo em 17 de julho de 1875, reunidos com o intuito de fundar um clube de futebol.  

A Associação Atlética Ponte Preta foi fundada em 11 de agosto de 1900 sendo desde sua origem adepta ao futebol, seguido pelas fundações do 27 de Outubro – BA, em 1901, 14 de Julho de Santana do Livramento – RS e Fluminense Foot-ball Club – RJ, em 1902 e por fim o Grêmio de Foot ball Porto Alegrense, em 1903.

Como o futebol era praticado apenas pela elite social, de uma certa forma representava para a população da periferia uma pequena ascensão social, conseqüentemente, aumentando e muito a simpatia das pessoas (independente da classe social e raça), também pela emoção que o futebol proporciona até os dias de hoje.

A história do The Bangu Atletic Club, reflete como ocorreu o processo de democratização do futebol, que por sua vez criaria um certo problema para a elite que comandava sua prática. Não havendo jogadores suficientes para formar equipes, fato que frustrou os ingleses e a elite, os mesmos se viram obrigados, depois de buscar várias alternativas, a convocar os operários da época. Essa escolha baseava-se principalmente em três aspectos:

√ Desempenho profissional;

√ Tempo de serviço na empresa;

√ Comportamento pessoal.

Portanto, como se vê, isso ocorreu mais por contingência (falta opção) do que propriamente intenção precípua.

O período entre 1894 e 1932, ficou conhecido como a fase do amadorismo, onde clubes e atletas praticavam o esporte bretão (como era chamado pela elite) movidos pela paixão, a voluntariedade, prevalecendo a visão romântica do futebol, mas por outro lado havia desorganização e injustiça para com os atletas.

Dentro desse período, o futebol apresentava o primeiro sintoma de que o amadorismo não iria muito longe, pois nessa época tanto no Rio de Janeiro como em São Paulo, alguns jogadores recebiam uma “gratificação” em dinheiro, que logo passaria a ser chamado de “bicho”, como uma forma de incentivo às vitórias, independente do resultado da partida.

Os sócios ricos dos clubes eram encarregados de destinar o dinheiro às gratificações do futebol, daí surge em 1908 no Rio de Janeiro a Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA) e em 1913 em São Paulo surge a Associação Paulista de Esportes Atléticos (APEA), com o mesmo objetivo de organizar-se no sentido de cobrar ingressos aos espectadores. Com isso as arrecadações substituiriam os sócios ricos na doação das gratificações, prevendo o pré-profissionalismo, mas criando sérios problemas. Em 1915, os paulistas, com a Federação Brasileira de Futebol (FBF), e os cariocas, com a Federação Brasileira de Esportes (FBE), criam essas entidades com o intuito de comandar o futebol no país, querendo o reconhecimento da Federation International Football Associations (FIFA). Com isso surge a grande rivalidade entre Rio de Janeiro e São Paulo.

A FIFA por sua vez não reconhece nenhuma das entidades, mas o chanceler Lauro Muller, convoca os representantes de ambas as entidades propondo criar uma entidade forte e expressiva para dirigir e representar internacionalmente o futebol, em 18 de junho de 1916 foi fundada a Confederação Brasileira de Desportos (CBD), reconhecida pela FIFA. É claro que algumas restrições foram exigidas por ambos estados, e com uma certa habilidade de Lauro Muller, essas restrições foram contornadas equilibrando poderes entre paulistas e cariocas. Federações de outros estados e de outros esportes, como a Federação de Remo de Bahia (FRB), apoiaram a criação da CBD.

Algumas pessoas foram encarregadas de divulgarem o futebol nos outros estados do país, e infelizmente como costumeiramente acontece no Brasil, a entidade máxima criou um campeonato nacional de equipes, somente na década de 70, o último país com tradição no futebol a ter uma competição nacional por equipes.