Como a Saúde Digital está afetando o relacionamento médico-paciente?

Como a Saúde Digital está afetando o relacionamento médico-paciente?

As inovações que estão sendo incorporadas nas últimas duas décadas nos cuidados de saúde estão se tornando primordiais para revolucionar o envolvimento do paciente, o gerenciamento do tempo do médico e melhorar a qualidade geral dos cuidados. Estima-se que mais de sessenta milhões de pacientes busquem a internet em vez de um médico para informações relacionadas à saúde. Os pacientes agora têm acesso a todas as informações na ponta dos dedos que já estavam disponíveis apenas para profissionais de saúde.

Como o relacionamento médico-paciente está mudando? Está se transformando em eletrônico. Sem dúvida, a tecnologia digital está impactando cada vez mais significativamente a prática da medicina e a saúde dos pacientes! Mas há vários sinais de alerta pela frente.

Numa recente entrevista na Folha de São Paulo, o cardiologista italiano Marco Bobbio comparou a medicina atual com os restaurantes fast-food, mostrando que eles têm mais em comum do que se poderia imaginar. Ele vê na medicina atual um enorme desperdício de recursos, excesso de velocidade em vários momentos e a falta de conexão entre os médicos com seus pacientes – por isso ele prega atendimentos médicos mais humanizados. Você já vivenciou esse problema, quer como profissional da saúde ou como paciente? Se sim, não está sozinho.

A dura realidade é que os médicos têm que fazer mais e mais procedimentos e registrar mais dados nos sistemas eletrônicos que são implantados nas clinicas e hospitais. Os hospitais em geral fazem com que os médicos realizem muitos atendimentos durante sua jornada de trabalho, reduzindo o tempo dedicado para a consulta individual. Além disso, hoje tanto médicos quanto pacientes confiam mais na tecnologia do que na experiência do próprio médico, mais uma razão para explicarmos o crescimento excessivo nos pedidos de exames diagnósticos, afinal ele acaba em grande parte avaliando os exames e não o paciente. E desse modo, um ingrediente fundamental em qualquer terapia para ser bem sucedida está sendo desperdiçada: a voz do paciente! Verdade seja dita: Não se consegue mais dedicar tempo de qualidade para ouvi-lo.

Outro item curioso a ser contemplado na relação médico-paciente envolve uma das palavras mais difundidas na medicina, o tal efeito Placebo (embora nem sempre fique claro para a maioria das pessoas o que este significa exatamente). O progresso recente na pesquisa biomédica permitiu um melhor esclarecimento do efeito placebo. Sabemos que este é um fenômeno psicobiológico ativo que ocorre no cérebro do paciente e que é capaz de influenciar o curso de uma doença e a resposta a uma terapia.

Desde a publicação da primeira edição do livro “Placebo Effect” ("Efeito Placebo"), publicado por Fabrizio Benedetti em 2008, houve uma explosão de pesquisas com placebo, e esta nova edição traz o tópico totalmente atualizado. Em todo o livro, ele enfatiza que há muitos efeitos placebo e os analisa criticamente em diferentes condições médicas, como distúrbios neurológicos e psiquiátricos, doenças cardiovasculares e respiratórias, respostas imunes e hormonais, bem como oncologia, cirurgia, medicina esportiva e acupuntura. O contexto psicossocial em torno do paciente é crucial para o efeito placebo, como por exemplo, as palavras e atitudes do médico durante uma consulta.

Uma perigosa tendência: Médicos e enfermeiros estão perdendo mais de dois terços do seu tempo registrando informações em documentos físicos ou eletrônicos!

Se os currículos da faculdade de medicina e enfermagem se baseassem no que um estudo recente diz sobre o que muitos profissionais de saúde realmente fazem com seu tempo, mais da metade do tempo do estudante na faculdade seria sobre como preencher papelada. Um estudo recentemente publicado no Annals of Internal Medicine de Dezembro de 2016 descobriu que para cada hora que os médicos estavam vendo pacientes, eles estavam gastando quase duas horas adicionais na papelada!!!!!

Este é realmente o melhor uso do treinamento e habilidade dos médicos, enfermeiros e demais profissionais da saúde envolvidos na assistência ao paciente? E isso também não está desperdiçando o tempo dos pacientes, que vieram para a consulta médica e não para a experiência de vê-los gastar tanto tempo com a papelada gerada na consulta?

A quantidade de formulários que os médicos e enfermeiros têm que preencher está fora de controle. Como resultado da crescente massa de formulários exigidos (quer sejam em papel ou nos prontuários eletrônicos pouco inteligentes e amigáveis), muitos médicos e enfermeiros não têm tempo para fazer a coisa mais importante para seus pacientes e para a sociedade e, francamente, também para as clínicas e hospitais em que trabalham – CUIDAR DAS PESSOAS.

Por isso, a palavra de ordem na Saúde Digital deve ser SIMPLIFICAR! A tecnologia deve ajudar os profissionais da saúde a ganharem tempo precioso para interagirem com seus pacientes, formar uma ligação valiosa que ajuda nos diagnóstico, terapêutica e assistência, enfim, no cuidar.

Qualquer tecnologia que pretenda ajudar a solucionar este desafio precisa incorporar o esforço bruto da coleta de dados e registro das informações na própria tecnologia e não transferi-la para o profissional que a utiliza.

Saúde Digital não significa informatizar a relação Médico-Paciente, mas empoderá-la através da tecnologia que assiste e capacita as partes a interagir de modo mais pleno e humanizado!

Abraço a todos!

Guilherme Rabello

Sobre o autor: Guilherme Rabello responde pela Gerencia Comercial e Inteligência de Mercado do InovaInCor – InCor / Fundação Zerbini (grabello.inovaincor@zerbini.org.br)

Atua como consultor, palestrante e escreve artigos sobre inovação, tecnologia e negócios.

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pra mim" ou "ele nem me tocou". Como vemos e foi muito bem abordado por você, as pessoas querem ser "tocadas" por palavras, atenção, carinho, aspectos pouco vistos nos consultórios diante, dentre tantas revoluções, substituição eletrônica na forma de se assentar e conseguir informações. Realmente encanta, mas precisa haver equilíbrio. Prezado, estou no aguardo de novas matérias. Grande abraço

Prezado Guilherme, que matéria excelente! Nós temos visto como o impacto da tecnologia pode ser negativo em alguns sentidos. Tudo depende da maneira como está sendo usada. E temos constatado alguns excessos, com manifesto desequilíbrio nos pratos das balanças, quando trata-se do envolvimento tecnológico nas relações humanas. Há que se destacar o encanto que o alcance a soluções proporcionadas pela tecnologia nos faz sentir. Mas, precisa haver equilíbrio. Porque nada é mais importante do que as relações humanas. Me fez lembrar de um famoso escritor do passado, detentor de alguns livros, onde pode-se ver a clareza de seu raciocínio na abordagem de assuntos diversos e que ficou conhecido como Apóstolo Paulo. Em minhas pesquisas tive a oportunidade de vê-lo considerar com ouvintes, com uma levada requintada, porque saber expressar seus pensamento sabemos que é para poucos, sobre uma das frases mais faladas e que poucos sabem que foi ele que falou: "...há mais felicidade em dar do que há em receber". Atos 20:35. Dentre tantas coisas ditas ali, ele comenta da necessidade de se amparar os fracos, ou enfraquecidos. O efeito PLACEBO. Um bom dialogo com o médico é o que mais se sente falta atualmente. Reclamações tais como: "ele nem olhou

Analice Lacerda de Souza

Enfermeiro Seção Vigilância Epidemiológica

7 a

Bravo!

Antonio Alceu Santos

Médico especialista na Clínica Goldencor

7 a

Parabéns Guilherme excelente matéria para os dias atuais da medicina.

A tecnologia pode ajudar no relacionamento entre médico e paciente. É só utilizar a ferramenta certa. Experimente utilizar um CRM (customer relationship management) especialmente desenvolvido para a área da saúde. Você pode atuar e gerenciar o relacionamento com os pacientes de forma automática, e ainda assim, personalizada.

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