Como se proteger num cenário de juros globais negativos
Qualquer pessoa que minimamente letrada em economia e finanças tem certa dificuldade de engolir o fato de alguns países e empresas no mundo estarem praticando juros negativos. O conceito foge completamente do normal e de tudo aquilo que aprendemos sobre poupar (e investir).
Não que algo que sacuda o status quo seja algo ruim. Definitivamente não é. Mas quando estamos falando de juros negativos, estamos entrando num campo nunca visto antes na história, então é normal torcer o nariz.
É que, numa realidade onde os juros vão abaixo de zero, como no caso da Suíça ou da Alemanha, se você optar por aplicar seu dinheiro nos títulos públicos, com vencimento de 30 anos, por exemplo, você terá menos dinheiro lá na frente do que tinha hoje. Estranho né?
Nesses casos, o incentivo para investir se perde. Mas ideia por trás dessa prática é justamente essa: tentar estimular o consumo por meio do crédito acessível, já que ele funciona como um recurso para tentar aquecer a economia.
Afinal, muitos países do bloco europeu ainda vivem uma crise que se arrasta há mais de uma década. A população envelheceu e as pessoas optam por consumir menos e guardar mais, não só a título de preservação de patrimônio, como também por uma questão de sobrevivência, já que a fase produtiva de uma parcela significativa da população virou história.
Tá, mas e daí?
Mas num ambiente onde os juros praticados vão abaixo de zero, os que mais se prejudicam são os que estão aposentados ou próximos de se aposentar.
Explico. Quando entramos, ainda jovens, no mundo dos investimentos, nossa propensão ao risco é significativamente maior do que quando estamos próximos de nos aposentar.
Isso ocorre porque, quando você é jovem, tem o tempo e a disposição para recuperar o dinheiro perdido num investimento que não deu tão certo. Conforme vamos envelhecendo, é natural que nossa propensão ao risco diminua, já que o dinheiro que acumulamos ao longo da vida servirá para cobrir nossas despesas na posteridade.
Nesse contexto, o natural seria que boa parte dos seus ativos migrassem para a renda fixa, já que são ativos naturalmente menos arriscados. Contudo, num cenário de juros negativos, se você mantiver os recursos em títulos do governo, em vez de ganhar dinheiro ao longo do tempo, você perderá. E para evitar que isso ocorra, a solução é buscar alternativas mais arriscadas, mas com maior potencial de retorno.
Isso vale para a sua carteira, mas vale também para a carteira dos grandes fundos de pensão e previdência. Para manter um nível saudável de rentabilidade, eles são obrigados a migrar uma parte do capital para ativos mais arriscados, incluindo ações e outros ativos de renda variável.
Consegue começar a perceber a dimensão do problema?
Com o crédito mais acessível, as empresas tendem a se endividar mais, inclusive as listadas em Bolsa. Se ocorre, por qualquer motivo que seja, uma reversão abrupta na curva de juros (e eles voltam a subir), as empresas terão maior dificuldade de honrar com seus compromissos e, algumas delas, inclusive, se tornarão inadimplentes.
Isso se reflete no preço das ações, que afeta diretamente a performance das carteiras de aposentados e dos fundos de pensão e previdência, por razões já ilustradas acima.
Daí pra frente, as coisas só pioram...
Então, como se proteger?
Aqui, em terras tupiniquins, ainda estamos relativamente protegidos dos juros negativos. Mas definitivamente já estamos caminhando em direção a esse precipício, haja visto que o COPOM reduziu novamente a taxa SELIC (a taxa de referência para a economia brasileira), com a perspectiva de reduzi-la novamente em seu próximo encontro.
Além disso, estamos, no cenário geopolítico internacional, na iminência de uma crise global de grandes proporções e não tem muito como o nosso país escapar dessa, caso ela venha a se concretizar efetivamente.
Nesse contexto, você tem duas opções:
1) simplesmente ignorar o alerta e seguir com a sua vida, como se nada tivesse acontecido e você não soubesse de nada, ou;
2) abrir os olhos e proteger o seu patrimônio de uma eventual fatalidade econômica.
Supondo que você opte pela segunda, existem algumas formas de você se proteger. Uma delas é migrar uma parte dos seus recursos para metais preciosos, como ouro e prata, que já se provaram como importantes reservas de valor ao longo do tempo.
A outra, é você adquirir um ativo que é completamente descorrelacionado às práticas de juros negativos e às políticas monetárias irresponsáveis que vem sendo adotadas em todo o mundo (como o mais novo programa econômico do Banco Central Europeu, que pretende injetar 20 bilhões de euros POR MÊS no bloco).
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Diz aí, qual das opções você vai escolher?