Como as tendências de saúde dos EUA, afetam diretamente os provedores de saúde brasileiros?

Como as tendências de saúde dos EUA, afetam diretamente os provedores de saúde brasileiros?

Aqui nos EUA, como foi divulgado amplamente pela mídia mundial, existiu um movimento importante por parte do governo Trump em eliminar o Obamacare ou  Affordable Care Act (ACA). Um dos objetivos era eliminar a exigência de cobertura mínima pelas seguradoras de saúde, bem como a assistência federal no compartilhamento de custos para pessoas de baixa renda. Mesmo não tendo os resultados esperados, mudanças legislativas aconteceram e ainda virão, de tal maneira que isso está impactando a forma como os provedores de saúde entregam seus resultados. E o que isso reflete no mercado de saúde do Brasil? Basicamente, muito.

Os números insustentáveis de financiamento em saúde são globais. Até mesmo nações do primeiro mundo, como o Canadá, tem sofrido sérios problemas na gestão de sua saúde populacional. Nesta nação, por exemplo, um canadense pode esperar em média 23 semanas para realizar um procedimento. O grande movimento que acontece aqui nos EUA serve de modelo para outros países. Principalmente para o Brasil, que é a segunda maior nação do mundo em saúde suplementar(pensando não em números mas gastos com saúde suplementar). Mas não só isso, importantes seguradoras dos EUA, como a UnitedHealth e Fundos de Investimento, tem comprado massivamente empreendimentos de saúde brasileiros(Intermedica, Notredame, Green etc). Logo, o modelo gerado aqui nos EUA, será replicado e adaptado no Brasil. Isso tanto é verdade, que alguns conceitos como o pagamento por resultados é um movimento gerado nas seguradoras e não pelo governo Federal.

Os números insustentáveis de financiamento em saúde são globais. Até mesmo nações do primeiro mundo, como o Canadá, tem sofrido sérios problemas na gestão de sua saúde populacional.

Hoje, um dos principais movimentos mundiais institucionais é desvincular a Medicina de sua poderosa premissa, ser uma ciência de meios, não de fins. Por exemplo, modelos Medicare e Medicaid realizam o pagamento de seus provedores por resultado, não por volume. Ou seja quem ganha é quem entrega qualidade e desfecho positivo, e não quantidade. A intenção inicial do presidente Barack Obama era excelente. Mas, o que era uma ferramenta de estímulo para melhorar a saúde populacional, tornou-se um instrumento de barganha cada vez mais poderoso por seguradoras.

Acrescenta-se um outro fator. Hoje, com uma crescente redução do poder econômico mundial(efeito chamado desmonetização global), aumenta-se o número de pessoas não seguradas ou procurando por serviços mais baratos. Soma-se a geração do millennials, a principal geração de consumo em saúde a partir de 2025, age de forma muito diferente das demais com os serviços de saúde. Caso uma prática de saúde não lhe ofereça os quesitos mínimos, como inovação e agilidade, ele rapidamente o descarta e procura por soluções alternativas. A partir disto, nota-se iniciativas legislativas e empresariais, de oferecer planos e serviços de baixo custo e cobertura reduzida. No Brasil, percebe-se este modelo através das clínicas populares. E qual o reflexo para as empresas que prestam assistência em saúde?

Neste modelo, existe uma importante pressão sobre os provedores de saúde, para que eles busquem mais agressivamente estratégias de gerenciamento de custos e entrega de resultados com bons desfechos, clínico/cirúrgicos, aos seus pacientes. Ao mesmo tempo, as seguradoras e planos de saúde tem exigido, tanto aqui nos EUA, como no Brasil, maior transparência de preços dos provedores de saúde. O objetivo é ter provedores de baixo custo e alto valor, em um esforço para atrair mais consumidores sensíveis a preços. Provedores como médicos em consultórios, clínicas e hospitais, então devem começar a focar continuamente na melhoria clínica e desempenho operacional para reduzir custos e entregar bons resultados aos seus pacientes. Essas mudanças, juntamente com o foco crescente na qualidade e no pagamento baseado em valor, exigem que provedores, para demonstrar um valor superior na entrega de atendimento de qualidade, invistam cada vez mais em gestão, compliance e melhoria de processos.Porém, os provedores de saúde precisam entender que melhorar o desempenho de custos não é um evento ou projeto único, mas uma longa jornada. Esforços pontuais geralmente geram ganhos de curto prazo, mas, ao longo do tempo, os custos normalmente retornam. Por que? Porque o esforço não levou a uma mudança real nos processos clínicos e operacionais, nem criou uma cultura de alto desempenho.

Portanto os provedores precisam se preparar cada vez mais para este cenário. O gerenciamento dos recursos, a análise custo-efetividade, a inclusão de tecnologia e o um customer experience com NPS de no mínimo 9, são essenciais para realizar e sustentar melhorias que trarão valor e diferenciarão organizações neste ambiente que cada vez, exige mais resultados, com os meios mais baratos e eficientes.


Daniela Cavalcanti

Médica Auditora da Santa Casa Saúde - SJC. Cursando MBA de Gestão Executiva em Saúde - FGV

6 a

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