COMO VOCÊ ESTÁ?

Sempre que eu preciso responder perguntas como esta, fico pensando se a outra pessoa está realmente interessada ou é só mais uma das frases de efeito - quebra gelo que a gente solta no nosso dia a dia, entre um compromisso e outro, sabe como? Uma vez eu achei engraçado e até sincero demais, meio emocionante talvez, quando uma pessoa respondeu a uma colega de trabalho sobre como ela estava. A pergunta teve uma resposta meio assim:

- Estou péssima. Preciso ganhar umas 3x mais do que ganho pra pagar minhas contas, meu diabetes está nas alturas e eu juro, nem estou comendo doces ou bebendo meu Martini que eu AMO. Eu tô me sentindo péssima, na real. 

E todos da rodinha ficaram meio que em uns segundos de silêncio, diante da coragem e da transparência daquela moça de cabelos longos meio avermelhados, magra, alta e com um óculos um pouco grande pro seu rosto. 

Eu não sei se alguém, depois da reunião, foi atrás dela para saber mais. Para ajudar. Para dar um abraço. Eu poderia ter feito isso, mas eu não tinha intimidade e sei lá, não fiz nada. Ninguém fez e dos segundos de silêncio, seguimos para a reunião. Mas um dia fatídico. Mais um desabafo sincero sem feedback. Mas um vácuo de conexões superficiais.

Talvez se todos tivessem aproveitado ali para dizer realmente como estavam se sentindo, a reunião viraria uma sessão de desabafos. Porque o fato tá aí na nossa fuça: ESTAMOS EXAUSTAS. PESSOAS EXAUSTAS. E para além desta exaustão, muitos de nós não têm rede de apoio. Não têm com quem contar. E a solidão chega e se instala, sabe como?

Como você está? Em junho participei de um dos maiores eventos de conteúdo e inovação do Brasil, o RIO2C, e o tema do painel foi "ENTRE CONEXÕES E SOLIDÃO: O Paradoxo da Era Digital", ao lado dos profissionais incríveis Simone Kliass - Co-fundadora da XRBR | Associação Brasileira de Realidade Estendida e o psicanalista André Alves . A Simone falou sobre uma palestra da psicoterapeuta Esther Perel que ela assistiu, contando algo que eu e você já percebemos: atualmente podemos ter 1.000 amigos nas mídias sociais, mas ninguém pra alimentar nosso gato quando viajamos - eu tenho dois shitzus e ficam em hotelzinho. Ela destaca que vivemos em tempos de intimidade artificial, quando nossa atenção está dividida, estamos distraídos com o celular e não conseguimos ter uma conversa com atenção plena. 

Vivemos hiperconectados e cada vez mais isolados e sozinhos no meio da multidão. 

TÁ TODO MUNDO ATRÁS DE LIKE E SEGUIDORES. E OS BONS AMIGOS, ONDE ESTÃO?

E segundo o André, a gente está vivendo num mundo de intimidade sintética e trocou vinculação por conexão. Os efeitos colaterais deste comportamento são um certo rebaixamento de nossa capacidade relacional. Ou seja, ao mesmo tempo que estamos cercados de gente em grupos e seguidores, não temos com quem contar. 

Daí, do nada, te perguntam de você, mesmo sem querer saber demais, só uma cordialidadezinha, como de costume. E você se abre, na esperança de achar alguém pra trocar mais do que mensagens instantâneas e deixa todo mundo em silêncio. Sem saber fazer mais do que mandar um emoji ou fazer uma carinha dele.

E eu te pergunto: Como você está?

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