Como você se relaciona com o tempo?
Estamos nos últimos dias de 2022. Aquele período em que dividimos as tarefas que vamos correr para terminar esse ano e as que estamos jogando para 2023.
Jogando como se 2023 fosse algo ainda longe que podemos só nos preocupar depois dos fogos de artifício. E correndo os últimos quilômetros da maratona para terminar 2022 com a lista em dia.
Tentamos encaixar a agenda de vários meses em um. Coitado de dezembro que tem que dar conta de encontrar todos os grupos, de comprar presentes de amigos secreto, comprar presente de natal, voltar nos médicos que faltavam, assistir jogos da copa, se inteirar da transição de governo, terminar de ler aquele livro, bater as metas do ano na empresa, entregar aquela última tarefa e ainda organizar natal, ano novo, férias.
Botamos o pé no acelerador como se a chegada em 01 de janeiro fosse o portal com as bandeirinhas da vitória, onde depois disso é só descansar. Não descansamos necessariamente, mas atravessamos um portal que quase como mágica revigora como um descanso.
O que muda de 31/dezembro para 01/janeiro?
Absolutamente nada. E ao mesmo tempo tudo.
Já parou para pensar se Gregório tivesse definido que os ciclos anuais seriam de 6 meses? Ou de 2 anos? Teríamos criado uma relação com o tempo completamente diferente.
Em contrapartida “muitos de nós temos, intuitivamente, a impressão de que o tempo prossegue para sempre, por conta própria, sem ser em nada afetado por qualquer outra coisa” – Whitrow, 1993
Se o tempo prossegue para sempre, então será que somos nós que somos afetados pelo tempo?
A psicóloga britânica Claudia Hammond explica em seu livro Time Warped: Unlocking the Mysteries of Time Perception que consideramos vários fatores para registrar a passagem de tempo, como expectativas, emoções, sentidos, e isso faz com que o cérebro perceba cada situação com durações diferentes.
Para exemplificar essa percepção interna, o trecho a seguir de Adriana Dutra em seu documentário “Quanto tempo o tempo tem” mostra a angústia da relação com um tempo rápido demais.
“O tempo tem passado tão rápido que eu já deixo minha árvore de natal montada dentro do armário. É como se ele tivesse encurtado, ficado mais rápido. Tudo sugere velocidade, urgência. E eu por mais que me divida e me multiplique em várias, eu não tenho tempo. Não tenho tempo para demanda do meu trabalho, nem de ler todos os livros e ver todos os filmes que me interessa, nem de atender todas as ligações, ou responder tantos e-mails e curtir as milhares de fotos. Não tenho tempo de dormir as horas que desejo e muito menos de estar ao lado daqueles que amo.”
Se identificou por aí? Estamos exaustos, com mais de 30% dos brasileiros sofrendo de burnout, e seguimos nesse ritmo insano.
“Não dá tempo. Eu estou sem tempo. Eu queria que o dia tivesse mais horas. Não tive tempo.”
Quantas vezes você disse essas frases em 2022?
A existência humana na terra está presa ao tempo. E cada vez mais estamos nos relacionando de forma tóxica com ele. Culpabilizando o tempo por nossas faltas, falhas e imperfeições.
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E se trocássemos “não tive tempo” por “eu não priorizei”?
“Eu escolhi priorizar outras coisas.”
Não dá um alívio recuperar a autonomia e responsabilidade pela nossa vida com uma mudança de palavras?
Na verdade, não são só palavras. É a ampliação de consciência de que, no fim, não somos reféns do tempo, somos reféns de nós mesmos.
Estamos em uma corrida desenfreada contra nossa própria expectativa de quem deveríamos ser. E correndo perdemos a perspectiva de ver, vivenciar, sentir, saborear quem somos hoje.
Segundo palestra do Pathwork sistematizada por Eva Pierrakos:
“o tempo é um fator muito limitante. É um fragmento extraído de uma dimensão de experiência mais ampla e livre. Esse fragmento limitado chamado tempo é colocado à disposição do homem que nele pode crescer, se realizar, viver, atingir a felicidade. Na medida em que o homem preenche esse potencial mediante crescimento interior, nessa mesma medida a vida é uma experiência plena, em que a limitação do tempo não representa uma dificuldade ou problema.”
Essa palestra do Pathwork traz que nenhum sentimento construtivo e positivo entra em conflito com o tempo. Acreditar que o tempo é limitado é o que gera tensão, desânimo, ansiedade, impaciência e faz com que a gente queira lutar contra essa limitação ilusória.
Precisamos nos libertar dessa batalha constante que travamos contra o tempo.
O movimento natural do tempo é um fluxo constante e harmonioso. Mas só conseguiremos entrar em harmonia com ele se estivermos conscientes, presentes e usando cada momento para crescer.
“Somente ao vivenciar o presente que o ser humano atingirá uma dimensão estendida do tempo, vivendo de maneira plena e significativa, e obtendo todas as alegrias de cada momento que ele atualmente não vê.”
O tempo pode ser um rival ou grande amigo, intermitente ou harmonioso, cansativo ou revigorante, limitador ou ilimitado.
Estamos nos últimos dias de 2022. Momento de refletir:
Como você vai se relacionar com o tempo em 2023?
Só (̶o̶ ̶t̶e̶m̶p̶o̶)̶ você vai dizer.