Competências: origens, conceitos e abordagens
A partir do final da Segunda Guerra Mundial, o avanço da industrialização e a abertura gradativa dos mercados econômicos dos países levou à necessidade de alterações nos processos de produção. O modelo de produção “Taylorista/Fordista” já não era mais suficiente para suprir as necessidades dos mercados, sendo este modelo substituído pelo modelo japonês (“Toyotismo”). Se antes o trabalhador era contratado como “mão-de-obra”, com enfoque em sua capacidade física e na disciplina em seguir padrões, então ele passou a ser reconhecido como “cabeça de obra”, na qual a atenção voltou-se para o indivíduo que possuísse capacidade de trabalhar em sistemas produtivos cada vez mais flexíveis.
A qualificação se tornou mais ampla. Antes voltada para o atendimento as necessidades do posto de trabalho, isto é, para a qualificação do emprego, ela incorporou as qualificações sociais e tácitas, tornando-se a qualificação do trabalhador. O indivíduo passou a ser valorizado pela sua capacidade multifuncional e de antever e solucionar problemas nos processos produtivos. Como consequência, agregou-se ao seu processo o controle de qualidade (antes feito somente no início ou no final do processo produtivo), bem como as manutenções. O foco na execução da tarefa foi substituído pelo foco na entrega dos objetivos gerais da empresa, fazendo com que o indivíduo se tornasse responsável pela entrega, e não sendo apenas uma “ferramenta” para obtê-la.
Se antes o indivíduo possuía estabilidade no emprego ao longo de sua carreira profissional, as alterações nos processos produtivos e a globalização deram dinamicidade ao dia-a-dias dos trabalhadores. Este fato exigiu das empresas que os trabalhadores possuíssem novas capacidades, isto é, aporte de novos conhecimentos, transformando-se para o “saber-ser” (A, Lerolle, 1992:5) e o “saber-fazer”, a fim de agregar maior valor às rotinas de produção. Como mencionado por Zarifian (2001) os processos produtivos foram reconfigurados e, quando organizados em células, sejam nas configurações clássicas, em redes ou projetizadas, deram aos indivíduos a capacidade de desenvolverem competências coletivas muito além das individuais, quando somadas.
Todas essas transformações nos processos produtivos, na organização do trabalho e também nas demandas de perfil dos trabalhadores, trouxeram como consequência: a valorização da aprendizagem pelos indivíduos, das suas atitudes, dos comportamentos e também dos saberes tácitos. Assim, como mencionado por Barato (1998), a capacidade pessoal de articular saberes com fazeres característicos de situações concretas de trabalho, deu ênfase as chamadas competências. O “saber-ser” e o “saber-fazer”, voltados para o alcance dos objetivos da empresa, passaram a ser medidos para se caracterizar a dimensão denominada de desempenho, seja do indivíduo ou do grupo. Desta forma, o salário e o reconhecimento do indivíduo e do coletivo passou a agregar às competências muito mais do que somente os diplomas resultantes da dedicação aos estudos.
Referências
FERRETTI, C. J.; ZIBAS, D. M. L.; MADEIRA, F. R.; FRANCO, M. L. P. B. Novas tecnologias trabalho e educação: um debate multidisciplinar. Petrópolis, RJ, Vozes, Brasil, 1994.
VIEIRA, A.; LUZ, T. R. (2005). Do saber aos saberes: comparando as noções de qualificação e de competência. Belo Horizonte, MG, Brasil.
ZARIFIAN, P. Objetivo competência por uma nova lógica. São Paulo, SP, Atlas, Brasil, 2001.